30.12.08

Para 2009...

Essa me veio da amiga Bianca Mattos. Médica, mãe e autora diletante com um quê de Clarice que só ela. Toda afeto. O autor é maior e bate qualquer pretensão de mensagem de ano novo. Uma verdadeira lição:
Receita de Ano Novo, por Carlos Drummond de Andrade
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo,
remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? Passa telegramas?)
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo;
tem de fazê-lo de novo.
Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

25.12.08

Aquela história do vinho...

A antecipação do bom vinho é tão importante quanto o vinho em si...
Mas um bom vinho é sempre um bom vinho. Melhor mesmo é prová-lo.

21.12.08

Trâsito livre

Descer a orla do Rio de Janeiro de Grumari ao Flamengo vendo o dia nascer depois de uma noite de zouk... não tem preço. A cidade continua maravilhosa, e o Redentor continua lá - braços abertos sobre a Guanabara - abençoando essa mistura louca de poesia e caos. É um luxo viver aqui!

19.12.08

Matemática pura e aplicada

Diz o jovem filósofo contemporâneo: se a ordem dos fatores anda produzindo resultados inconsistentes com o real valor da sua felicidade, inverta os fatores. Melhor: remova da equação o elemento de não-conformidade com a sua mais absoluta alegria. É mais simples do que parece.

18.12.08

Linha direta

O celular tocou às 8:47 da matina. Horário crítico no escritório. Correria, jornais espalhados por todo lado, notícias, resumos, traduções. Demorei alguns segundos até encontrar o telefone, submerso no mar de tipos e fotos que habitualmente inunda minha mesa todas as manhãs. Na bina, o síndico - companheiro de todas as horas, até embaixo d' água. Atabalhoado, atendi na pressa, quase deixando o aparelho cair, e estava prestes a despachar o amigo com um "velho, me dá cinco minutos, te ligo já" quando fui surpreendido pela voz infantil do outro lado da linha. Era ninguém menos do que o menino Theo, meu sobrinho branco:
- Aô, tio Fasa! ...Bem?! Saudade!!
E só isso já me valeu o dia.

17.12.08

Contemplando os "ses"

Nunca escondi minha preferência por Tarantino. Dia desses revi Pulp Fiction, um clássico desde sempre. Os aficcionados e os amigos cientes de minha admiração pelo trabalho de Samuel L. Jackson vão provavelmente se lembrar do ator citando uma passagem bíblica (inexistente, por sinal) antes de assassinar um pretenso golpista. A cena é ótima, mas a minha mais recente preferida é um diálogo entre Jules (interpretado por Jackson), e Marsellus Wallace (na quase monocórdia porém impagável atuação de Ving Rhames). Na tradução livre deste jovem filósofo:
MARSELLUS: ...Tudo bem, digamos que ela chegue em casa, o que você acha que ela vai fazer? (pausa) Não fode com a minha paciência! - Sem brincadeira que ela vai surtar?! - Isso não é resposta. Você a conhece, eu não. O quanto ela vai surtar? Muito ou pouco?
JULES: Você precisa entender o quão potencialmente explosiva é esta "Situação Bonnie". Se ela chegar em casa depois de um dia duro de trabalho e encontrar um bando de gângsters fazendo merda de gângsters na cozinha dela, não há como prever o que ela pode fazer.
MARSELLUS: Eu já entendi isso, Jules. Estou apenas contemplando os "ses".
...Contemplar os "ses". Salutar atitude, não? - E um ótimo texto, também.

15.12.08

Esse tal de 2008...

Foi uma merda. Anos pares costumam ser mesmo ruins para a minha pessoa, mas esse exagerou. Tudo bem, tudo bem, tive aí algumas conquistas interessantes no campo profissional. Avanços dos quais me orgulho. Mas no pessoal e afetivo... Deus e os Orixás do Olimpo me livrem! Uma série de desencontros adiaram indefinidamente meus planos de paternidade e me levaram de volta à terapia com juros e correção monetária. Sabe-se lá por que intervenção ou ironia do destino, tornei-me uma pessoa mais aberta e menos defensiva ao lidar com esses tais seres humanos. Esse novo estilo de distribuir afetos, com o qual ainda não me habituei por completo e para que não sei se estou perto de encontrar a medida certa, me rendeu alguns bons encontros e, em igual termo, boas dores de cabeça. É certo que as alegrias são bem mais alegres assim. Mas as tristezas também são mais doídas. Aos trinta anos, não sei se meu coração agüenta essa montanha russa.
Ah, os trinta anos! Chegaram com um inferno astral arrasador. Mas passaram. Quero dizer, na verdade, o aniversário passou, juntamente como o inferno astral - não os trinta anos. E eu vi que o tempo está do meu lado. O que mata é a minha urgência. Mas a urgência é minha, e ninguém tem nada com isso. Muito menos o Sr. Tempo, esse velho implicante e ranheta que insiste em só nos dar o que queremos quando desistimos de pedir, como um avô caduco que nos mima de maneira torta entre um e outro beliscão no dedão do pé - atire a primeira pedra quem não teve um avô ou avó com mania de beliscões.
Aonde eu estava? - Sim, os trinta anos: fazer sexo com duas mulheres na mesma noite já não tem mais tanta graça quanto tinha aos vinte e cinco. Melhor fazer sexo a noite inteira com uma mulher só. No final das contas, independentemente de qualquer coisa, fazer sexo continua muito bom (graças aos céus!). Mas encontrar uma parceira capaz de oferecer alguma referência que não somente a carnal... essa sim é a grande onda. Melhor do que qualquer droga. E o grande desafio, para ser bem sincero.
...Aqui permito-me a constatação do óbvio: se você quer parceiras (ou parceiros) para algo além do simples conluio consentido, procure nos lugares certos. A experimentação é válida quando se quer experimentar, mas não pense que vai encontrar grande coisa indo àquele clube de swing a convite do casal amigo muito moderno e descolado.
Mas chega de escrever sobre sexo, que eu já falei demais. Para discorrer mais sobre o assunto valeria desistir do blog e rascunhar um monólogo sobre a vida afetiva e sexual do macho brasileiro recém-balzaquiano. Aliás, se a Petrobras não estivesse adiando todos os patrocínios culturais por causa da crise financeira global, eu poderia mesmo ficar milionário com isso. Hummm... Algo a ser considerado para 2009.
Seja como for, o ano novo será bem vindo. Entre mortos e feridos nem todos se salvaram, e eu devo reitirar que não fui muito com a cara dos últimos doze meses - acho que eles também não foram muito com a minha, para falar a verdade... Mas é claro, dado que a esperança e os clichés são sempre os últimos a morrerem, há talvez uma cartada final capaz de salvar o ano e acenar com algo genuinamente positivo e inspirador para os próximos capítulos. Esse roteiro, no entanto, está nas mãos de uma moça (linda!) que, até onde consigo ver, não decidiu ainda se vai ou se fica, se blefa ou se mostra o jogo. Acho até que quer muito dançar, mas não sabe bem se encontrou a música certa. Eu penso que sim. Depois de tanta confusão e cacofonia, consigo ouvir a melodia perfeita... mas para o meu próprio bem-estar, procuro pensar no assunto o menos possível.
- Tudo para evitar os beliscões do avô Tempo.

7.12.08

Filho de Iemanjá

Sabe aquela história das listas? A parte em que eu dizia que mergulhar estava me fazendo uma baita falta? Pois é... Nunca mais quero ficar dois meses longe do mar.
Ah, e antes que eu me esqueça: isso aí é sem photoshop. Desculpa o mal jeito...

3.12.08

Fazendo listas enquanto espero

Em dias de manhã chuvosa, namorada distante e preguiça no escritório, nada melhor do que gastar o tempo… fazendo listas. Sim, no melhor estilo Alta Fidelidade, aquele ótimo filme do Rob Gordon nos idos de 2000 (...) Esse mesmo. Sim, já faz tanto tempo. E sim, a Catherine Zetta Jones ainda era gostosa. O único risco é chegar à conclusão de que sou tão neurótico e emocionalmente insipiente quanto o personagem do Cusack - Ele com seus discos, eu com minhas idiossincrasias (tenho uma amiga que adora quando eu uso essa palavra. Para falar a verdade, é mesmo uma das minhas prediletas - tanto a palavra quanto a amiga). Seja como for, a paciência para fazer mudança de escritório é zero; amanhã é o almoço-de-fim-de-ano-com-amigo-oculto-do-pessoal-do-trabalho (ah, que evento singular! Merece uma crônica exclusiva!) e eu estou aqui tentando não ocupar a mente com a ansiosa dúvida sobre se aquela moça vai ligar ou mandar um sinal de fumaça depois da minha última investida. Remédio para tal situação… só mesmo fazer listas. Vamos a alguns 5 mais
As 5 músicas que mais tocam na minha cabeça atualmente (diferente de as 5 músicas que mais marcaram minha vida):
1. Só pra te Beijar - Candango Doido
2. Desabafo - Marcelo D2
3. What I’ve Done - Linkin Park
4. Listen to Your Heart - Roxette
5. Dezesseis Toneladas - Funk Como Le Gusta
As 5 obras literárias que mais quero ler e não consigo:
1. A Última Lição - Randy Pausch
2. As Crônicas Saxônicas - Bernard Cornwell
3. Band of Brothers - Stephen E. Ambrose
4. O Poderoso Chefão - Mario Puzzo
5. O Homem Político em Shakespeare - Bárbara Heliodora
As 5 coisas que não faço há tempos e que mais estão me fazendo uma falta dos diabos:
1. Mergulhar
2. Calçar pantufas de jaca com amigos queridos
3. Dormir abraçado sem hora para acordar
4. Comer um fondue no Joá
5. Tirar férias
Os 5 empregos que eu gostaria de ter se não fosse jornalista e ator nas horas vagas:
1. Ator em tempo integral
2. Biólogo Marinho e caçador de naufrágios
3. Fotógrafo
4. Médico de seriado hospitalar da TV americana
5. Piloto de caça
OK... Agora vou me ocupar com a lista de jornalistas para quem tenho que enviar jabás de Natal. Oh, que alegria!! Que trabalho edificante!!

2.12.08

Sobre elas...

Mulheres são definitivamente de Vênus... ou de Saturno, ou Urano, ou algum outro planeta ou estrela que a astronomia contemporânea, com todas as suas sondas, satélites e foguetes, não conseguiu todavia mapear. Sei que não são de Marte, pois que de lá dizem que viemos nós, os homens, e certamente as duas espécies hão de ser oriundas de corpos celestes distintos. Pode querer parecer ao leigo que às vezes, só às vezes, falamos a mesma língua. Mas esta é uma troça, um jocoso, uma pilhéria divina com qual os anjos divertem-se enquanto morrem de inveja por não fazerem sexo.
(...)
Aos vinte e nove anos eu tinha certeza de que sabia o que havia para se saber sobre elas. Ou ao menos o suficiente para me dar bem e chegar à velhice sem arranhões.
Acabo de chegar à brilhantemente óbvia conclusão de que viverei dezessete encarnações sem apreender infinitesimal parcela sobre seus mistérios. E isso não quer dizer que de hora para outra reverti-me em inepto quando o assunto é universo feminino. Ao contrário, acho até que levo vantagem sobre os tais outros marcianos: fui criado por mulheres e algumas das pessoas a quem dedico amizade inarredável e irredutível são de... bem, são de outro planeta que não o meu - mas justamente aí mora a doce ironia daqueles anjos safados, patéticos voyeurs com suas lunetas cósmicas... Você aí, macho encostado, com o controle da TV na mão em preguiçosa tarde de quarta-feira, já parou para pensar que é perfeitamente capaz de entender os anseios e vontades de suas amigas - se é que as tem verdadeiramente - porém jamais vislumbrará o insondável absoluto da fêmea que escolheu para estar a seu lado... no sentido bíblico, já que estamos falando de anjos?
Definitivamente, existe algo de rodriguianamente perverso no que tange à (falta de) clareza na comunicação bilateral entre um homem e uma mulher que escolhem dividir a mesma cama. A nós, o sexo frágil - e se alguém ainda pensa o contrário precisa urgente acordar - resta a resignação em sorriso, porque só com muito bom humor é possível encarar a triste verdade da inapelável incapacidade de completo entendimento. Hemos que celebrar as diferenças e, na impossibilidade de vencê-las (às mulheres, não às diferenças), juntarmo-nos a elas com docilidade disfarçada, fazendo apenas parecer ao mundo (e desconfio de que só aos outros machos, porque acho que elas já enxergam por trás dessa miragem há muito tempo) que somos nós os reais donos da situação. Portanto sorriam, companheiros. Sorriam e abram uma boa cerveja. Sorte a nossa, afinal, sermos bichos mais simples, a quem tão pouco já basta...