30.4.09

Um plá sobre as não-tão-novas mídias e comunicação estratégica

Uma empresa dos Estados Unidos resolveu lançar uma nova marca de ração canina. Conduziu pesquisas para saber quantas famílias tinham Totós na região, reuniu grupos focais para escolher a embalagem mais atraente, fez campanha em horário nobre, jornais e mala direta, pagou pelo melhor espaço nas prateleiras dos supermercados… enfim, fez todo o dever de casa.
O lançamento foi um sucesso, mas algumas semanas depois as vendas começaram a cair. A ração empacou nas prateleiras, e em pouco mais de dois meses a empresa interrompeu a fabricação e distribuição, após descobrir que… os cães não estavam comendo a ração!!
A história é uma anedota que especialistas em marketing nos Estados Unidos gostam de contar. Reflete, com simplicidade e clareza, uma obviedade que muita gente em vendas e comunicação insiste em ignorar: se você quer promover uma idéia ou um produto, é preciso saber quem é seu público alvo. Pregar para o vento na vã esperança de que vá fazer eco, meus amigos, é um tiro no pé.
Ontem me peguei em uma boa conversa com o síndico sobre algo que, conceitualmente (e muito embora eu seja avesso a rótulos) gosto de chamar de comunicação estratégica. Não demorou muito para começarmos a falar sobe a aplicação de novas mídias em disseminação de marcas, apenas para descobrir que compartilhamos a opinião de que o novo já não é tão novo assim...
Pense: Twitter, redes sociais, blogs, podcasts… nada disso é novo. Tudo já tem nome, está aí, em uso, e faz parte de um espaço maior chamado internet – alguém aí já ouviu falar? A questão é que, não mais do que repente, a velha máxima do direito que dita “Não está nos autos, não está no mundo” foi transmutada em algo próximo de “Se não está na rede, não existe”. Em tempos nos quais indivíduos viram avatares, é fácil cair na tentação de se lançar em canais virtuais imaginando que será fácil e barato produzir conteúdo qualificado. Ledo engano e grande armadilha. Vários podcasts por aí recebem reclamações de ouvintes quando aceitam quotas de patrocínio. Para citar um caso específico, o Marcelo Tas perdeu seguidores no Twitter depois após endossar produtos de uma companhia telefônica.
Quem errou? – Talvez ninguém. Talvez o importante seja justamente entender que os produtores de podcasts também têm contas para pagar, e embolsar um bom patrocíonio não é sinônimo de comprometer a credibilidade. Vou repetir a palavra: credibilidade. Está aí a chave da comunicação, seja em que ramo for: jornalismo, publicidade, artes dramáticas, virais de rede. O pulo do gato é entender que o equilíbrio é fino entre o pessoal e o institucional, e agradar a gregos e troianos é impossível em larga escala, então, ao pensar na promoção de o que quer que seja, é necessário entender quem se quer atingir. É triste ver que muitas empresas se lançaram nas “novas mídias” só para dizer que estão lá. Mas os velhos chineses já diziam que, para quem não sabe onde quer chegar, nenhum vento sopra a favor…

O Babu e a rima

Vejam só essa última do excelentíssimo deputado estadual Jorge Babu: um projeto de lei determinando que...
“Art. 1º A Secretaria de Saúde divulgará, em seu site, os nomes dos soro-positivos, cidadãos contaminados com HIV/AIDS, em todo Estado do Rio de Janeiro.
Art. 2º Tal listagem receberá atualizações mensais, constando seus nomes completos e Cadastro de Pessoa Física – CPF.
Art. 3º Todos os cidadãos contaminados com o vírus HIV deverão portar identificação própria de sua condição.
Art. 4º O portador de tal documento, terá prioridade no atendimento emergencial hospitalar da rede pública."
Divulgar nomes de soro-positivos?!?! - Eu não vou nem começar a falar sobre preconceito. Até porque não preciso. Veja o que diz o próprio parlamentar em sua justificativa para apresentar o ensejo de legislação à apreciação de seus pares:
“O Princípio da Isonomia ensina que devemos tratar os iguais de forma igual e os diferentes de forma diferente. Por óbvio somos todos iguais, inclusive perante nossa Carta Magna. Contudo, enquanto detentores de condição viral contagiosa, tais cidadãos assumem característica diversa dos demais, exigindo tratamento diverso, que será providenciado de forma segura por esses profissionais, através da identificação prévia do cidadão soro-positivo.”
Sobre Jorge Babu: em 2004, foi preso em flagrante pela Polícia Federal numa rinha de galos, atividade considerada crime ambiental no Brasil. Já em liberdade, enfrentou processo de expulsão do partido. Em setembro de 2008, foi denunciado pelo Ministério Público por formação de quadrilha e extorsão, acusado de chefiar milícias na Zona Oeste. Em 26 de janeiro de 2009, a Executiva Nacional do PT finalmente decidiu, por unanimidade, expulsá-lo da legenda.
Expulso do partido, mas ainda legislando... Em nome de quê? Em nome de quem?!
C'est pas un pays sérieux.

16.4.09

Pára tudo!!

Espera aí! Pára tudo mesmo! Tipo... puxa a corda, que eu quero descer! Eu não queria acreditar nas imagens quando vi na TV: agentes de "segurança" (?!?!) em uma estação de trem agredindo passageiros a socos e pontapés para permitir o fechamento das portas?
- COMO ASSIM?!?!
Não é novidade para ninguém que o sistema ferroviário do Rio de Janeiro é precário, mas o que se viu essa semana foi totalmente além da conta... os trens fluminenses viraram mesmo a versão contemporânea dos antigos navios negreiros: pobres viajando em condições insalubres para trabalhar - a maioria por salários miseráveis. O que houve mesmo em 1888? Tão pouco mudou em dois séculos... Mudou a cor da mão do carrasco. Que perverso ver negros pobres batendo em negros pobres por motivo banal. É triste, é aviltante, é o fim do mundo.
E pensar que transporte, no Brasil, é concessão pública...

2.4.09

Estupidez ambientalóide

Vamos deixar algo claro de início: eu não tenho muita paciência para ONGs que se professam instituições sem fins lucrativos ao mesmo tempo em que geram milhões de dólares através da cooptação do idealismo alheio, principalmente de jovens. Voluntarismo de orçamento astronômico não me convence, e embora eu reconheça um módico valor em algumas ações de grupos como o Greenpeace, na maioria das vezes o que vejo é uma patética busca por publicidade gratuita nas páginas de jornais, retroalimentando não a conscientização por um mundo melhor, mas sim o poder de barganha e, em última análise, as contas bancárias dos próprios grupos em questão.
Penso que a tal consciência ecológica mora nos pequenos gestos que se tornam exemplos: apague a luz e convença seu colega de escritório a fazer o mesmo. Recicle. Não deixe lixo na praia. Se tiver paciência, retire o lixo dos outros da areia. Eu confesso que ainda não cheguei a esse estágio, mas outro dia fiquei babando de admiração quando a morena fez isso e, logo ali ao lado, uma mãe que estava cercada de copos plásticos vazios produzidos por seu pimpolho tratou logo de recolher a bagunça. Não sei se a moça efetivamente levou a tralha quando foi embora, mas pude ver uma atitude simples e despretensiosa fazer a diferença. E foi de graça.
Por que estou falando nisso? Porque o Greenpeace, mais uma vez, me irritou pela estupidez. Capitulando: tentar impedir o avanço de uma embarcação baleeira nas águas geladas do norte usando um bote de borracha é corajoso. Inútil, mas corajoso. Já parar o trânsito na ponte Rio-Niterói em plena hora do rush para estender uma faixa com palavras de ordem é apenas o cúmulo da burrice ambientalóide. Pois foi isso mesmo que os "gênios" resolveram fazer nesta quarta-feira.
A ação de 21 eco-chatos (que eu só posso pensar, queriam mesmo é aparecer) causou um engarrafamento de 18km. Ora, segundo a concessionária que administra a ponte, mais de 20 mil veículos passam por ali entre 7h e 11h da manhã. E nenhum dos nobres trapalhões verdes pensou que tamanha quantidade de veículos trafegando em marcha lenta ou em ponto morto iria de fato AUMENTAR a emissão de gás carbônico e outros poluentes enquanto durasse a brincadeira de rapel na bela paisagem da baía de Guanabara?! - Sem contar no atraso de vida que isso causou para um sem-número de cidadãos? Será mesmo que existe alguma chance de aquelas pessoas travadas no tráfego, impossibilitadas de chegar ao trabalho, escola, ou o que seja, virem a se tornar os próximos simpatizantes e porta-estandartes da causa? - Sei não, mas algo me diz que isso é pouco provável...
Mais: estou longe de achar que vivemos num mundo cor-de-rosa (ou verde!), mas o Rio de Janeiro, apesar de toda a barbárie e desordem urbana, ainda produz motoristas que páram seus carros - voluntariamente! - em uma das mais movimentadas avenidas da zona sul da capital para que um gambá possa atravessar a rua. Veja o que aconteceu essa semana mesmo no Jardim Botânico…

O resumo da minha ópera: Greenpeace e seus genéricos deveriam levar suas ações de prentensa guerrilha ambiental para fronts onde elas efetivamente possam fazer alguma diferença para melhor. E precisam, desesperadamente, incorporar estratégias de logística e relações públicas no planejamento de o que quer que pensem em fazer a título de chamar a atenção do mundo para uma causa que, justamente por ser tão nobre, não deve virar bandeira de abuso em busca de auto-promoção. A meu ver, esculhambar o trânsito e violar o direito de ir e vir das pessoas estão longe de ser notas positivas no portifólio de qualquer movimento que se auto-denomine "social".

Fotos: O Globo Online