20.10.09

Do politicamente correto e a síndrome da minoria autoritária

Vamos deixar uma coisa bem clara, que é para tirar a obviedade do caminho: eu, tanto quanto você, tenho preconceitos. Todos temos. Os meus e seus podem não ser tão óbvios e gritantes quanto os alheios, mas cada um sabe onde seu calo aperta e quando o tabu estabelece limites absolutamente irracionais ao que deveria ser uma percepção mais isenta e clara do outro e do ambiente que nos cerca.
Isto posto, conste nos autos que tenho vários amigos homossexuais, penso que o Conselho de Segurança da ONU deveria ser composto apenas por mulheres (preferencialmente mães) e ultimamente ando convivendo um bocado com crianças, o que me leva a pensar quão patéticas e elaboradamente hipócritas são algumas (im)posições do mundo adulto, para as quais minha paciência se esgota.
A mais estúpida delas, que repetidamente me bate na cara e enfurece, é o policamente correto. Sob disfarce de tornar o vernáculo e certas atitudes reprováveis menos ofensivas através de um quinhão de bom senso no falar e agir, a concessão transmutou-se em arma das ditas "minorias" (tenho cá minhas dúvidas se são minorias mesmo) para manter o resto da sociedade como refém, na mira de escrutínio e humilhação pública por qualquer pensamento ou palavra, ato ou omissão.
Dia desses foi uma discussão acerca de certa reportagem abordando o homossessualismo, e eu ouvi - de um gay - que o repórter talvez não tivesse sensibilidade suficiente para escrever pois, afinal de contas, era hétero. Daí quando respondi que pensava ser o repórter, efetivamente, homo, a julgar por sua postura, fui fuzilado com olhar reprobatório. Então... um jornalista formado não pode, a priori, escrever sobre homossessualismo porque lhe falta esteio sentimental a não ser que seja "amiga", e eu ainda por cima estou errado por reconhecer maneirismos afeminados quando os vejo, ali, escancarados?! - Onde está o preconceito?
...E ontem, foi no metrô. Fim de tarde chuvoso, eu a caminho de uma missa de mês por um parente distante que faleceu inesperadamente deixando outros parentes, estes mais próximos, arrasados. Mas isso não vem ao caso. Chego correndo à plataforma de embarque, horário de pico, trem lotado, portas fechando. Me jogo no primeiro vagão à vista, para só depois perceber que era o vagão das mulheres. Alguns outros homens por ali, mas ninguém reclamou. A rigor, nem poderia, pois apesar do grande fluxo de passageiros(as), era feriado, e a letra da lei determina exclusividade apenas em dias úteis. Mas foi o trem parar na estação seguinte para que viesse um guarda de segurança exercer sua micro-autoridade e, exaltado, exigir que saíssem os homens...
Pois não saí. Recusei-me, comprei briga. Não havia legislação que me obrigasse, eu havia entrado ali por acaso, e a última coisa na minha cabeça, a caminho da igreja, era me aproveitar de qualquer jovem senhora. Aliás, acho que a última vez em que pensei em fazer isso, tinha 15 anos. E foi num ônibus, nem metrô era. Achei injusta e injustificável a atitude do sujeito, finquei pé e de lá não arredei. Em verdade, a lei é uma besteira, mas é incômoda. Como cidadão de bem com assinatura no contrato social, tenho que respeitá-la embora dela discorde. Mas toda essa imposição e agressividade para fazer cumprir uma legislação vazia... tenha a santa paciência.
Em resumo: o politicamente correto é, hoje em dia, quase uma armadilha social. É o preconceito sobre o preconceito ao quadrado, e periga a defesa dos indefesos tornar-se indefensável. Quando isso acontecer, meus caros, será a barbárie, porque tem gente lá fora realmente precisando de ajuda, pouco preocupada com trato e nomenclatura. De minha parte posso dizer que estou farto desses jogos de cortesia, e me adianto em frisar que não vou pedir desculpas a ninguém por ser homem, heterossexual e classe média da zona sul. Quer saber? - Minoria sou eu, e nenhum estatuto social me defende. Então... se alguém ficar muito incomodado com isso, sugiro meia-hora de passividade anal em três vias. Só não escrevo de forma mais explícita para não correr o risco de ser taxado de machista grosseirão.