29.1.09

Excluido digital

Eu gostaria imensamente de postar um diario sobre a viagem a Washington. Ha muito a ser dito sobre a atmosfera da cidade e tudo o que esta acontecendo aqui... Mas em tempos de internet wi-fi (coisa muito moderna), nao ha mais um cyber-cafe com um computador decente para se usar nesta terra. Este, no lobby do hotel, e lento que so e nao tem acentos. Recuso-me a elocubrar sem acentos. Ja me basta a maldita reforma ortografica confundindo minha cabeca...
Ficam os relatos sobre a viagem adiados para a volta. Saudades do Brasil e das pessoas que ai habitam. Saudade com varios nomes, alguns poucos em especial pela amizade fraterna, e um em particular com requintes de paixao.

16.1.09

Gestalt musical

Acontece de repente: quando você menos espera, uma imagem, uma paisagem, uma música ganham novo significado. É como vislumbrar pela primeira vez um detalhe que muda inteiramente um contexto até então familiar, e encher-se de encantamento por algo que já dávamos como garantido e dominado. Os psicólogos e artistas plásticos falarão em "gestalt", e dirão que o todo é mais do que a simples soma das partes. Os homens de letras dirão "epifania", e assim definirão um momento crucial da trama em que um evento ou incidente redefine o pathos de um personagem através de súbida revelação. Os poetas vão roubar esse conceito para falar do exato instante em que nasce um amor ou uma paixão, muitas vezes por alguém com quem já se mantinha uma relação qualquer, que não amorosa.
Gosto de me enxergar como um homem de epifanias. É-me grato pensar que de súbito serei capaz de enxergar algum significado oculto por trás das coisas ou das pessoas. E, de fato, isso não raro acontece – ou eu penso que acontece – e me sinto bem na ilusão de ter elevado meu grau de entendimento sobre o que quer que seja, ainda que por módico quinhão. Pense em Sociedade dos Poetas Mortos, quando o professor interpretado por Robin Williams instrui todos os alunos a subirem em suas mesas para que possam ver a sala de aula com a qual estão tão habituados por um ângulo diferente... simples mas contundente.
...Pois as minhas mais recentes epifanias foram musicais. Deram-se com sambas que estou cansado de escutar por aí, mas que por algum motivo me saltaram aos ouvidos entre o Natal e o Réveillon. O primeiro, "O que é o Amor", na indelével voz de Maria Rita, mostrou-se belo em sua simplicidade. O segundo, "Pé do meu Samba", de Caetano, martelou-me a cabeça pela força do refrão - o estribilho é de uma carga poética que há muito tempo não registro. E calou fundo. Figuram agora entre minhas canções prediletas para ouvir e dançar. Antes de reagir: se você é uma daquelas pessoas muito cool que não gostam de samba... deixe de lado o preconceito por um só minuto e não apenas escute - ouça.


...E bom fim de semana!

15.1.09

Jogo dos sete erros

Encontre os sete erros na seguinte frase:
Hoje é um lindo dia de sol!
...
...
...
Não? Nada?! Então vamos lá:

1. Hoje não é sábado, domingo ou feriado.
2. Não é sequer sexta-feira.
3. Eu estou no escritório.
4. Uso calça e camisa social para trabalhar. Para não falar dos sapatos no lugar de chinelos.
5. Com essa roupa não dá nem pra almoçar fora, porque se eu colocar o pé na rua com esse calor saárico que faz no Centro da cidade, provavelmente vou precisar de cinco banhos e três mudas de roupa para reestabelecer padrões mínimos de equilíbrio térmico e higiene corporal.
6. Alegar insanidade temporária e abandonar o navio não é uma opção.
7. Em alguma praia do Rio, a morena mais linda, epítome de beleza feminina, deve estar se salgando em mar sem a minha companhia.
....Eu nunca havia pensado que um belo dia de sol poderia ser tão cruelmente injusto.

12.1.09

E Gaza, hein?

Estou há dias tentando gestar um texto inteligente e imparcial sobre a hecatombe em Gaza. Li alguns comentários inteligentes e várias reportagens sobre o assunto. Incidentalmente, também estou engajado na leitura de Sobre o Islã, de Ali Kamel. Comprei há alguns meses, logo no lançamento, mas o volume estava meio encostado na estante entre aqueles livros que a gente quer ler, mas vai deixando para amanhã. O momento me pareceu oportuno, e o texto é educativo e pertinente. Mais ainda em tempos de intervenção militar no Médio Oriente.
...Isso posto, a verdade é que os vinte parágrafos de análise crítica que eu gostaria de escrever para parecer intelectual e receber dos amigos diversos elogios pelo vocabulário e visão de mundo podem ser resumidos em três simples tópicos para reflexão:
- A imprensa brasileira está pecando por parcialidade pró-Palestina.
- Os dois lados já perderam a razão há muito tempo nessa história.
- Riscaram um fósforo - ou melhor, jogaram mísseis - sobre um barril de pólvora. Se nenhum organismo internacional intevier com diplomacia eficiente, todo o Oriente Médio vai entrar em ebulição.
É isso o que tenho a dizer. Ao menos por ora. Gastar letras para quê? - Se o assunto é guerra, menos é mais.

5.1.09

Sem filtro (ou soneto de epifania)

Quando te achegares a mim e tocares meu corpo,
Faze-o com despudor, enlevo e abandono.
Deixa vir a moleca que eu vejo em teus encantos
Não te preocupa! Larga-te que eu te abono!

E quando fizeres teus planos, desvia-te do engano:
Não serei eu a te dar paz resignada,
O abrigo dos tolos e covardes falso-amantes,
Que fogem no escuro quando a aurora vem rasante;

Eu vou arder no teu fogo, vou invadir tua vida;
Quero tua mais rara e simples foto de alegria
Enquanto danças na chuva em perfeita epifania!

E se teus pés cansarem, não tema, não trema
Meu colo te leva, eu espanto a noite fria
- Me beija sem filtro, que o resto é só poesia.