31.3.09

Duro de matar

Três vivas para Emerson de Oliveira Abreu, 36 anos.
Quem é Emerson de Oliveira Abreu? - É um sortudo. Aliás, para falar a verdade, sortudo não define bem esse sujeito: ele é, na realidade, o feliz alvo de uma intervenção divina.
...Depois de ter sido alvo do próprio arpão.
Para quem não leu nos jornais, explico: Emerson foi atingido na cabeça pelo próprio arpão enquanto fazia pesca submarina na baía de Guanabra. O projétil perfurou seu crânio e seguiu cérebro adentro, alojando-se a não mais do que 1 mm (vou escrever por extenso, para que eu mesmo possa acreditar: um milímetro!!) da carótida. O acidente aconteceu no fim de semana e a versão mais provável é a de que o arpão, ao ser disparado, tenha ricocheteado em uma pedra e atingido o pescador na seqüência.
Como está Emerson? - Bem, obrigado. Chegou consciente ao hospital, foi transferido para outra unidade porque não havia equipe de neurocirurgia na primeira clínica, foi operado e deve ficar uma semana em observação, com risco mínimo de seqüelas. Ainda é cedo para saber se sua visão será comprometida, mas os médicos dizem que provavelmente ele sairá ileso do susto.Cá entre nós: eu não acredito em milagres. Mas essa é difícil de explicar... Deus ex machina, eu diria. Nada menos do que isso.
Então... três vivas para Emerson. Eu desejaria longa vida ao sujeito, mas acho que meus votos de longevidade seriam uma inútil redundância: tenho todos os motivos para acreditar que ele só vai morrer aos 128 anos, e mesmo assim, apenas se quiser.
Só digo que seria ótimo se, daqui até lá, ele deixasse de lado essa história de pesca com arpão. Ô, coisa mais feia...

18.3.09

Alguém, por favor...

Eu, num casulo, em posição fetal, batendo com a cabeça na parede em ritmo descompassado.
Alguém, por favor, anote a placa na minha a analista e cobre dela as minhas dores por ter-me dito exatamente o que eu precisava ouvir? Tem dias, meus amigos... tem dias em que a noite é foda.

16.3.09

Hoje

Hoje tive ânsia de escrever sobre tudo, e também sobre o nada. De falar sobre simulações de adeus disfarçadas em quase-alôs que falam muito mas não se traduzem ou realizam. De alegria e estranhamento entre íntimos improváveis quase unidos de tão próximos, repelidos de súbito a título de não-sei-quê, vindo de não-sei-onde, que deixou alguém convencido de que distância é presença. Sobre paradoxos de prolífica significância racional mas patética e lacrimal expressão prática do que seja o desejo de estar, de confabular, de conspirar em silêncio quando palavras se fazem obsoletas.
Hoje me veio desejo de expressar turbilhão e redemoninho, chuva de raio, tormenta de acabar o mundo. Talvez só para ver, no fim de tudo, quem de fato me pediria para velar seu sono e sobre o meu faria vigília contra os assassinos, ladrões e bestas dos últimos dias. Eu sei quem gostaria de ter comigo. Mas será que já contei a todos? Será que eles sabem? De verdade?
Hoje me veio essa urgência de ser abrigo e braço forte, enquanto também menino assustado. E com medo de impossíveis quimeras (ou quiçá de perder a inocência), correr para o quarto dos pais - que já não mais existe. Para quem serei porto e farol? Para quem serei nau à deriva?
Hoje me veio esse misto, esse nó na garganta, esse lirismo represado, esse tesão no inefável; até que a força de mil orgasmos explodiu em curto para mostrar a falta de sentido em tudo quanto seja raciocínio e pontualmente planejado quando nos assalta essa tal nostalgia pelo que ainda temos, ou nunca tivemos, porque nunca teremos - a não ser que se nos dêem de bom grado e em livre exercício de hormônios e sentimentos, carne, cheiro, sangue, sal e gozo, contra o que seja ego, orgulho e falsas verdades sobre si mesmo e o que se pensa querer...
Hoje, sentei-me para escrever de amor.
Mas não pude conter-me quieto por tempo suficiente.

15.3.09

Love two Times

Na falta de algo melhor pra fazer, e com muita coisa ruim pra se ouvir por aí... Um pouco de The Doors pra salvar este fim de domingo...
Love me two times, baby
Love me twice today
Love me two times, girl
I'm going away
Love me two times, girl
One for tomorrow
One just for today
Love me two times
I'm going away
Love me one time
I could not speak
Love me one time
Yeah, my knees got weak
But love me two times, girl
Last me all through the week
Love me two times
I'm going away
Love me two times
I'm going away
Oh, yes

10.3.09

O diabo nos detalhes

Você já parou para se perguntar se cada pequeno gesto ou atitude das pessoas a seu redor tem um significado oculto, uma mensagem nas entrelinhas? Uma idéia ou sensação que talvez o próprio emissor sequer estivesse pensando em transmitir? Será que Freud estava certo ao dizer que às vezes um charuto é só um charuto, ou fato é que tudo - quando o assunto é relação interpessoal - tem um porquê, ainda que incógnito ou mesmo inconsciente?
Bem... eu não estudei psicologia. O máximo que fiz foi estudar teatro. E às vezes me flagro na paranóia do subtexto. Hoje, manhã ruim, dói a incerteza por conta de pequenas coisas, que eu sei (ou quero crer) são desimportantes, mas incomodam assim mesmo.
Ah, os pequenos dilemas... o que seria da vida sem eles?

5.3.09

Soneto dos sentidos

Há em mim certa urgência de ti
Que não dorme, descansa ou dá trégua.
É hábito, é mania, é uma quase terçã
Que me assalta em febre, seja noite ou manhã

E súbito sinto explodir em meu peito
Um gosto feroz, um quê de absinto
Que inebria meu senso e com que me deleito
- A lembrança perene de teu impecável leito

É assim que me entrego a teu encanto perfeito
De magia vermelha e inescapável efeito:
Sai de mim o juízo, entra em mim o teu cheiro,

E todo o resto é etéreo, todo o mundo é fantasia;
Só tua voz é concreta, só teu toque extasia
Minha ardência por ti, mais bela sinestesia!