24.9.10

Um elefante não esquece...

Um colega de trabalho me enviou por e-mail... Não sei quem é o autor, mas o texto tocou o fundo de minh' alma pela sabedoria e leveza:
Em 1989, Peter Davies estava de férias no Kenia, após graduar-se na Northwestern University. Em uma caminhada pela savana, deparou-se com um bebê elefante que estava com uma pata levantada, e que havia sido abandonado pela mãe e sua manada, por não poder mais caminhar.
Peter se aproximou muito cuidadosamente do pequeno elefante, que estava furioso e estressado. O viajante ficou de joelhos, examinou a pata do elefante e encontrou um grande pedaço de madeira enfiado na sola da pata.
O mais cuidadosa e gentilmente possível, Peter removeu com a sua faca o pedaço de madeira. Neste momento o elefante, vagarosamente, colocou sua pata no chão e fixou seu olhar diretamente nos olhos do turista por tensos e longos segundos, que mais pareceram horas... Peter ficou congelado, pensando que seria atacado. Depois de um certo tempo o elefante fez um barulho bem alto com a tromba, virou-se e foi embora, provavelmente em busca de sua mãe e da manada.
Peter nunca esqueceu o elefante e a incrível experiência daquele dia.
Vinte anos depois, mais precisamente em 23 de maio de 2009, Peter estava passeando pelo zoológico de Chicago com seu filho adolescente quando viu a jaula dos elefantes. Uma das criaturas se virou e caminhou para um local próximo ao homem e seu filho, Cameron, de apenas 15 anos. O majestoso animal encarou Peter e, como há 20 anos atrás, levantou sua pata do chão e a abaixou por várias vezes, emitindo altos sons enquanto o fitava. Todos ao redor correram em desespero, pois imaginaram que a forte e poderosa besta pudesse romper as grades e atacá-los.
....Mas não Peter, que segurou seu filho pela mão para que não ficasse com medo. Relembrando o encontro de 1989 e reunindo toda a sua força e coragem, ele escalou a alta grade e entrou na jaula. Andou até o elefante e o encarou diretamente nos olhos, como que retribuindo o gesto de comunhão daquele marcante momento na savana. O elefante emitiu um som alto, Peter sorriu e abraçou-o com a ternura que um pai abraça o filho.
Foi neste momento que o elefante enrolou sua tromba na perna de Peter e o jogou a aproximadamente 8 metros de distância, diretamente contra a grade de ferro, para depois pisoteá-lo violentamente até a morte.
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Não era o mesmo elefante e o Peter se fodeu!

9.9.10

O Leão, o Camelo e a Criança

Com todo respeito a Freud, Jung e sua turma... Nietzche. Sempre Nietzche.
"Vou dizer-vos as três metamorfoses do espírito: como o espírito se muda em camelo, e o camelo em leão, e o leão, finalmente, em criança.
Há muitas coisas que parecem pesadas ao espírito, ao espírito robusto e paciente, e todo imbuído de respeito. A sua força reclama fardos pesados, os mais pesados que existam no mundo. 'O que há de mais pesado para transportar?' — pergunta o espírito transformado em besta de carga, e ajoelha-se como o camelo que pede que o carreguem bem. 'Qual é a tarefa mais pesada, heróis? — pergunta o espírito transformado em besta de carga – a fim de a assumir, de a gozar com minha força?’
‘Não será rebaixarmo-nos, para o nosso orgulho padecer? Deixar refulgir a nossa loucura para zombarmos da nossa sensatez? Não será abandonarmos uma causa triunfante? Escalar altas montanhas a fim de tentar o Tentador? Não será sustentarmo-nos com bolotas e erva do conhecimento, e obrigar a alma a jejuar por amor da verdade? – Ou será estar enfermo e despedir os consoladores e estabelecer amizade com os surdos que nunca ouvem o que queremos? Ou ainda, será submergirmo-nos numa água lodosa, se esta é a água da verdade, e não afastarmos de nós as frias rãs e os pegajosos sapos? Ou será amar os que nos desprezam e estender a mão ao fantasma que nos procura assustar?’
...O espírito transformado em besta de carga toma sobre si todos estes pesados fardos. E como o camelo carregado que se apressa a ganhar o deserto, assim ele se apressa em ganhar o seu deserto. E aí, naquela extrema solidão, produz-se a segunda metamorfose: o espírito torna-se leão. Entende conquistar a sua liberdade e ser o rei do seu próprio deserto.
Procura então o seu último senhor – e será inimigo deste último senhor e de seu último Deus; quer lutar com o grande dragão e vencê-lo.
Qual é este grande dragão a que o espírito já não quer chamar nem senhor, nem Deus? O nome do grande dragão é 'Tu deves'. Mas o espírito do leão diz: 'Eu quero.'
O 'Tu deves' impede-lhe o caminho, rebrilhante de ouro, coberto de escamas; e em cada uma das suas escamas brilham em letras de ouro estas palavras: 'Tu deves.' Valores milenares brilham nessas escamas, e o mais poderoso de todos os dragões fala assim: 'Em mim brilha o valor de todas as coisas. Todos os valores foram já criados no passado, e eu sou a soma de todos os valores criados.' Na verdade, para o futuro não deve existir o 'eu quero'. Assim fala o dragão.
Meus irmãos, para que serve o leão do espírito? Não bastará o animal paciente, resignado e respeitador?
Criar valores novos é coisa para que o próprio leão não está apto, mas libertar-se a fim de abrir passagem para tais valores novos, eis o que pode fazer a força do leão: para conquistar sua própria liberdade e o direito sagrado de dizer ‘não’ - mesmo ao dever - para isso, meus irmãos, é preciso ser leão.
Conquistar o direito a valores novos é a tarefa mais temível para um espírito paciente e laborioso. Ele por certo vê nisso um ato de assalto e rapina. O que ele amava outrora, como bem mais sagrado, é o 'Tu deves'. Precisa agora descobrir a ilusão e o arbitrário mesmo no fundo do que há de mais sagrado no mundo, a fim de conquistar depois de um rude combate o direito de se libertar deste laço. Para cometer tal violência, é preciso ser leão.
Dizei-me, porém, irmãos, que poderá fazer a criança, de que o próprio leão tenha sido incapaz? Para que será preciso que o altivo leão tenha de se mudar ainda em criança?
- É que a criança é inocência e esquecimento; um novo começar, um brinquedo, uma Roda que gira por si própria, o primeiro motor, a santa afirmação.
Na verdade, irmãos, para jogar o jogo dos criadores é preciso ser um verbo santo. O espírito quer agora a sua própria vontade. Tendo perdido o mundo, conquista seu próprio mundo.
Disse-vos as três metamorfoses do espírito: como o espírito se mudou em camelo, o camelo em leão, e finalmente o leão em criança.
Assim falava Zaratustra (...)"