24.8.10

Pérolas aos porcos

...E tem também aqueles dias (na verdade, fases) em que você começa a pensar que só tem mesmo uns três ou quatro amigos de verdade, pessoas com quem de fato pode contar, e que na realidade há um monte de gente à sua volta que se importa apenas em se aproveitar; roubar um pouco do seu brilho por ocasião. E a conclusão de que você dedicou (boa) parte do seu tempo nos últimos anos a relações que ora se resumem a sorrisos amarelos e silêncios, justamente quando você esperava se ver amparado, é um tiro. Gente que tomou partido sem ouvir, pessoas que se dizem muito abertas e descoladas mas que no fundo, você imagina, devem estar te julgando à revelia, exercendo o pré-conceito através da ausência. Que decepção. Que merda, isso. Que raiva. Que prejuízo.
Sorte ainda haver lá fora as gratas surpresas. Ombros e mãos amigas, olhares apenas, vozes ou toques gentis, que surgem de onde menos se espera. A essas almas samaritanas, agora tão mais queridas, obrigado!
E aos amigos e irmãos de sempre, tão seletos, presenças constantes na caminhada: amo vocês.
Ad astra trans aspera per alia fideles.

14.8.10

Estado Civil: Desinteressado

...E mais nada. É isso que temos por hoje. O ser humano deveria ser uma ostra, e eu tenho uma baita preguiça de começar tudo de novo.

4.8.10

Oh, really?

O que eu pago em neurose acumulada pela posição que ocupo vem, em boa parte, das oportunidades perdidas de exercitar meu sarcasmo bilial em resposta à estupidez ou ingenuidade alheia. Sem dar o nome do santo, vejamos uma mensagem que apareceu hoje em minha caixa postal:
Olá, Glauco, Não nos conhecemos, eu sou o tal turista brasileiro e isso ainda não virou notícia. Não há cópias ocultas, também.
Eu também sou jornalista (...) Eu anexei um recibo de suspeito que recebi no aeroporto de Londres, pq eu fotografei as instalações do Aeroporto. Juro que , essa placa, eu não vi, se vc já passou por lá, deve ter percebido que o que mais tem nas ruas da cidade, além de gente, é placa ! eu sou brasileiro, eu não desisto nunca, mas às vezes , passa uma ou outra...não é a minha terra.
Fiquei realmente preocupado porque minha filha de quinze anos passou por tudo isso, minha esposa, que não fala inglês, e ficamos na iminência de perder o vôo, com conexão em Lisboa. Os oficiais do Mi-6 foram legais, pode anotar isso aí, mas o efeito Jean Charles passou pela minha cabeça. Foi bem desagradável, nada inglês. era evidente que eu era turista, duas perguntas bastavam, ainda apagaram as fotos.
E ficou aquela idéia terrível: minha filha é aluna do CAPES - UFRJ, currículo ímpar, está decidida a estudar medicina, talvez em Londres, pagando, veja bem, anota isso também, não estou pedindo nem negociando nada. Mas será que tem lista negra ? Quando ela pedir o visto, daqui há dois anos ou três ? O nome, passaporte, tudo foi anotado, checado pelo rádio, rechecado, foi um tormento, depois de 15 dias de viagem pela Europa, que infelizmente, não é mais uma social-democracia, como sempre admirei, de longe.
Os empíricos estavam certos, viver é experimentar. Meus cumprimentos à sua Majestade e seu Cônsul, os ingleses fizeram um bom uso do ouro das Minas Gerais.
Minha resposta:
Prezado XXX,
Obrigado por sua mensagem. Desconheço as reais circunstâncias da abordagem feita a V. Sa. e sua família, mas de pronto posso dizer que sinto muito pelas fotos perdidas. De fato, se agentes perceberam ou pensaram que as imagens registravam qualquer tipo de procedimento ou funcionários de segurança aeroportuária, seria de se esperar uma intervenção. Agradeço seu registro de que, no mais, a conduta dos agentes foi cortês e eficaz.
Atenciosamente,
Glauco Paiva
O que eu gostaria de ter escrito, mas não pude por dever de ofício:
...Puuuuxa, vida, mas que pena! Seria por demais leviano supor que talvez, apenas talvez, você ou alguém da sua família tenha despertado a atenção dos agentes de segurança por apontar sua câmera para funcionários ou procedimentos alfandegários? Se foi este caso, meu amigo, dê graças a Deus por isso ter acontecido na Europa - em qualquer outro lugar do mundo em que o terrorismo é uma preocupação real, você e sua família muito provavelmente teriam perdido não apenas a câmera (e não somente as fotos), mas também o vôo - detidos que ficariam em procedimentos de averiguação. Na próxima, pense só um pouco antes de apontar sua lente dentro de um aeroporto! E não me venha com essa de "obviamente turistas" - os mesmos sujeitos que poderiam tomar seu avião para arremessá-lo contra um prédio também embarcariam se fazendo passar por "obviamente turistas". Ou você acha que eles se declaram no balcão de check-in? "Errr, ahnn... com licença, eu na verdade tenho uma bomba, mas será que você poderia me deixar embarcar, já que estou obviamente bem disfarçado de turista?"
"Efeito Jean Charles" é o escambau, companheiro. Se isso fosse real, você estaria morto, e não tomando o meu tempo depois do que, ao que tudo indica, foi uma abordagem policial cortês e eficiente. Sem querer criar polêmica, culpar a vítima ou fazer a linha reacionária, mas sejamos realistas: Jean Charles morreu porque correu da polícia num dia em que bombas (no plural) estavam explodindo em Londres. Não fosse a iminência - ou melhor, Eminência - de sucessivos ataques terroristas, é provável que os policiais não tivessem atirado. Ainda diante das circunstâncias, talvez não o tivessem feito se o brasileiro não tivesse confundido a plataforma do metrô com uma raia de corrida. Então... passa amanhã com o seu "efeito Jean Charles", que isso é uma afronta ao bom senso. Ali, no lugar dos agentes, qualquer um atiraria - não só na intenção de salvar os outros passageiros, mas também para SE salvar, porque aquele homem correndo bem poderia ter uma bomba. Alguém atirou em você? Alguém sequer lhe ameaçou? Coagiu? Sacou uma arma no saguão do aeroporto de Heathrow? - Se não, viola no saco e vida que segue.
Finalmente, o que me importa o currículo da sua filha? E se o amigo está tão decepcionado com a Europa, que diferença faz para você esse mito de "lista negra" para emissão de vistos? Deveria mandá-la cursar medicina em Cuba. Ouvi dizer que, se é mesmo fato que a social-democracia européia caminha para a falência (assim entendo seu relato), o governo da ilha, ao contrário, recebe a todos de braços abertos e jamais, jamais usa força ou avança sobre diretos civis, mesmo em situações de exceção. Eles formam ótimos médicos e tenho certeza de que você, esposa e sua jovem doutora poderão tirar quantas fotos quiserem dos procedimentos e áreas sensíveis do aeroporto, sem qualquer problema.
Finalmente, coleguinha, acho que moramos em lugares diferentes. Lá de onde eu venho, policiais de elite atiram em trabalhadores por confundir uma furadeira com pistola automática, e quando o sujeito está no erro corre sério risco de levar umas boas porradas, ou pior. E não tem essa de Stop and Account Record, ou "recido de suspeito" como você diz. Documento atestando quando e onde você foi abordado, com assinatura do policial em questão e instruções sobre como proceder caso queria se queixar de qualquer procedimento?! - Onde eu moro não tem isso. Nem para propina os homens de farda dão contra-prova. Você diz que mora no Brasil, mas para me sair com essa sobre a polícia de Londres, deve mesmo viver na Suíça...
Ah, sim, quanto ao ouro das Minas Gerais: este os ingleses levaram mesmo. Você pode encaminhar sua reclamação à embaixada de Portugal. Eu, particularmente, estou mais preocupado com o ouro que os nossos políticos, bem brasileiros, estão colocando no bolso hoje.
Cordial abraço, tenha uma boa vida.

3.8.10

Undisclosed Desires

Tocando sem parar no meu player, ao lado de Sweetest Taboo (na ótima versão da francesa Krysstal com o rapper Lil Chain). Quando fui buscar a letra, vi comentários de que faz parte da trilha sonora de - Argh!! - Crepúsculo. Mas não importa. Posso fingir que não sei. A música é muito boa, e o clipe melhor ainda...