29.12.04

Um próspero...

Uma antiga e querida professora postou essas estrofes como mensagem de fim de ano. Achei ótimo. E muito embora eu seja, intimamente, também afeito a escrever em versos, há sempre um poeta maior...

Esperança, por Mário Quintana

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se e — ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá (É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...

Estou de folga no Réveillon. Me liguem para: ir à praia, patinar, ir ao cinema, teatro, combinar um after hour depois da festa no dia primeiro. Não me liguem para: comentar sobre os milhares de mortos na Ásia, perguntar se eu vi o que saiu no jornal - porque eu não vou ver, sugerir que eu me torne uma pessoa melhor ou diferente em 2005, porque eu felizmente ando muito satisfeito com o que sou. Curtam a Passagem, nos vemos no ano que vem.

27.12.04

O ataque do presente curinga

Sinceramente não sei porque insisto em participar de amigos ocultos. Desde pequeno, foram poucas as atividades afins nas quais tomei parte sem ficar no prejuízo. Na escola primária, a brincadeira era obrigatória, acho que para despertar o espírito de solidariedade e integração. Eu, o único pretinho da sala, filho da classe média esforçada, dava sempre um presente bacana e recebia um carrinho de quinta oferecido com desdém por algum fidalgo da alta sociedade. É realmente curioso que, já não sendo obrigado a fazer nada que não queira na vida, eu ainda persista. Acho que fico sem graça de dizer para os amigos que a idéia toda não me agrada... E é verdade, não me agrada mesmo. Nunca agradou. Não consigo me lembrar de uma vez sequer em que tenha saído realmente satisfeito. Bem, teve uma menina que me deu um livro de estereogramas do Kama-sutra. Foi sugestivo, original, mas eu não usei com ela. Aliás, acabei não usando com ninguém e, depois de tantos anos e já tendo perdido o contato com a referida, posso confessar que nunca na minha vida conseguir ver um maldito estereograma (...) Por que fazem listas de sugestões, se as pessoas acabam comprando presentes a Bangu?! Para não falar no absoluto terror dos chamados presentes curingas. Há alguns anos, na faculdade, um amigo ganhou um peso de papel, desses em forma de cubo plástico que você encontra em qualquer papelaria de esquina. Era o presente curinga do agregado de uma menina da turma. O engraçado não conhecia ninguém, comprou qualquer coisa e pronto. Eu, esse ano, queria ganhar um livro. Coloquei também alguns CDs na lista de sugestões só pra não correr o risco. Mas a tal inovação tecnológica do sorteio eletrônico - coisa muito chique - caiu vítima de um arranjo astral controverso e, em meio à fragmentação de dados num lapso crítico de armazenamento e fluxo de informações, esqueceu de avisar sobre minha existência a quem deveria me regalar no toma lá dá cá. Resultado: presente curinga. Voltei para casa com um mini-castiçal em que poderei queimar as velas que não acendo, e um lindo porta-fotos para substituir o feio mural que não tenho na parede do meu quarto. O pior é que o sujeito-meu-amigo-oculto nem se dignou a enfrentar o constrangimento pessoalmente: estava de plantão. Mandou o presente pela esposa, que passou o resto da noite me abordando com aquele sorriso quase amarelo, perguntando se eu tinha mesmo gostado, e dizendo que eu poderia trocar tudo se quisesse. Mas acho que no final ela se convenceu de que eu estava satisfeito. As aulas de teatro devem estar mesmo funcionando.

23.12.04

Just a girl

Ela apareceu de manso. Chegou sem pedir contrapartidas românticas ou sentimentais. Não fez cobranças, não quis discutir a relação. Aliás, não fez sequer questão de ter uma relação. E ainda assim, no lugar do falso-conformismo, parecia à vontade; como se, tanto quanto eu, não tivesse pressa, não tivesse ânsias. Mima-me. Na verdade, estragama-me, sempre com um sorriso no rosto. Há meses vem destilando carinho em gestos e conversas fáceis. Parece muito segura de si - Nossa! Que novidade! - e não exerce ciúmes. Dadas as circunstâncias que ela mesma nunca fez questão de mudar, nem teria porquê. Mas aproximou-se. Aos poucos, sem fazer alarde... soube cativar-me nos pequenos detalhes. Se o fez de forma genuína, é uma menina rara. Se o fez de maneira calculada, é mulher como poucas. Geminiano que sou, deixa-me livre. Parece estar tranqüilamente ciente de que essa é a única maneira real e verdadeira de ter-me. Com todo esse clima de aproveite-o-fim-de-ano-e-tome-rumo-você-também no ar, pode ser que eu resolva oficializar as coisas. Ou não... afinal - que alegria! - nenhum de nós está correndo contra o tempo. E por falar em tempo: chove lá fora.
Mas em mim é verão.

21.12.04

Ora pro nobis

Notem pelo horário deste post que estou acordado e ao computador já pela manhã. Aliás, para ser exato e preciso, estou acordado desde cinco da madrugada, e ao computador desde seis da matina. Foi dada a largada para o famigerado plantão de fim de ano...
Deus tenha piedade de nós.

16.12.04

Os Incríveis

Homem-Aranha e Wolverine sempre foram meus super-heróis prediletos. Definitivamente, Stan Lee é um sujeito que sabia o que estava fazendo. E sendo assim, vocês podem imaginar o quanto eu fui uma criança feliz indo ao cinema nesses últimos anos de lançamentos da Marvel. Mas eu encontrei um um novo super-herói... Vejam: o Gelado é negro, careca, bonitão, divertido, se veste com estilo, varia entre a barba e o cavanhaque, gosta de patinar, fala rápido - com aqueles trejeitos de rapper, e ainda por cima é dublado pelo Samuel L. Jackson, um de meus atores prediletos. O Gelado é o cara, e se vocês ainda não foram ao cinema para ver Os Incríveis... o que diabos estão esperando?!?! A Pixar, mais uma vez, acertou em cheio. Vão logo conferir!

"Anda, mulher, cadê meu uniforme?! É por um bem maior!!!" - Gelado, em Os Incríveis

13.12.04

Cheque pré-datado

E a gente ainda reclama que a vida está dura...

11.12.04

Pendências e planos

É isto mesmo: um sábado chuvoso perdido na redação é uma oportunidade tão boa quanto qualquer outra para fazer resoluções. Por que esperar o Reveillón? Eu, por exemplo, posso aproveitar o fato de estar de férias no curso de teatro para traçar metas e planos que devem preencher as minhas manhãs nos próximos meses. E alguns projetos precisam mesmo sair da gaveta: quero retomar minhas atividades subaquáticas. Estou sem mergulhar desde 1996. É muito tempo para um sujeito que aprecia vento no rosto e mar aberto, e que ainda por cima é filho de Iemanjá. Vou aproveitar alguns fins de semana em janeiro para fazer o curso avançado de mergulho autônomo. Parte do décimo terceiro e da participação nos lucros deve ser investida na compra de equipamentos, e em 2005 voltarei a ser um feliz mergulhador, podem aguardar. Tudo dando certo, a idéia de visitar as águas de Cuba ou Noronha me é cara para o ano novo... Preciso ainda tirar o meu registro profissional de ator. O temporário, que seja. Até agora, faltou tempo para cuidar da burocracia. Mas isso deixou de ser justificativa viável. Afinal, estou de férias. A Operação Verão está pendente. Aliás, há semanas não malho direito. A reta final de ensaios virou minha vida de cabeça pra baixo, e a rádio atravessa uma fase especialmente atribulada, com algumas (várias) coberturas que me fazem trabalhar até mais tarde - o que, no meu caso, geralmente significa chegar em casa depois da meia-noite, para começar tudo de novo no dia seguinte(...) Mas eu não tenho do que reclamar. Não me canso de dizer que gosto do que faço, por mais que às vezes fique um pouco esgotado. Pior seria o ócio. Patinar! Patinar! Patinar é preciso! Quero ainda, é claro, jogar muito video-game. Vários novos títulos para Playstation 2 estão despertando minha atenção. Estou em falta também com a prática do Role Playing Game. É preciso satisfazer meu lado nerd, sem dúvida. Tudo isso demanda horas perdidas de sono. Mas é como dizem os anglo-americanos: "Plenty of time to sleep when you're dead". Eu continuo preferindo a vida no melhor estilo dez anos a mil. É muito, muito melhor do que mil anos a dez. A única coisa que não entra na minha lista de resoluções é o casamento. E nem poderia: o Mosteiro de São Bento vai entrar em reformas. A conjunção astral, definitivamente, é pouco propícia.

Mas até chegar a hora, o que eu mais quero mesmo é muita saúde para agüentar todo esse tranco e ainda gozar no final...

7.12.04

Uma amiga

Vocês podem dizer e pensar o que quiserem, mas o Orkut é uma ferramenta social incrível, se bem utilizado. Por causa dele, eu já acabei indo parar na festa de aniversário de uma amiga que não via há dez anos, e hoje tive uma dessas surpresas que, de tão agradáveis, nos deixam entre o adulto boquiaberto e a criança feliz que extiste em todos nós. Quando essa moça apareceu para a estréia de Seis Personagens..., eu quase não entro em cena de tanta alegria. Não via a Keka há mais ou menos oito anos, e de repente ela estava ali, na platéia. E ainda levou a irmã, que de menina virou mulher, e dadas as circunstâncias foi também um grande reforço de público. Depois da peça saímos todos para almoçar, e minha amiga me apresentou aos mistérios de um elixir divino a que somente os iniciados da gastronomia alternativa têm acesso: a tal limonada com mascavo. Só quem já teve a chance de experimentar pode saber... Alegria, alegria! - Todo o resto é desimportante. No mais, a encenação até que superou minhas expectativas, considerando o pouco tempo de ensaio. O que não quer dizer que seja um trabalho de valor dramático inestimável; mas o palco, ao menos, está confortável - o que já é um grande começo. E um processo. E um fim em si mesmo. É engraçado como uma turma cheia de problemas com a identidade de grupo acaba por fazer acontecer, mesmo que na última hora, os trabalhos a que se propõe. Mas isso é uma outra história...

E hoje, então, finalmente choveu. Até que foi positivo. Mas para o fim de semana eu gostaria de ter o sol de volta.

6.12.04

Duas notas em protesto

Querido Papai do Céu,
Nesta cidade faz muito Sol!!!
...Tenha !

3.12.04

Zzzzzzzzzzzz.....

Cara, eu preciso dormir.
Preciso muito.

1.12.04

Em cartaz!

O que acontece quando seis personagens, ávidos por contar sua história, invadem o ensaio de uma Companhia de Teatro? - Seis Personagens à Procura de um Autor, de Luigi Pirandello. O jovem filósofo contemporâneo estará demonstrando sua inacabada e troncha, mas ansiosa verve dramática na semana que vem. Como dessa vez conseguimos um espaço grande, todos são mais do que bem vindos, se perdoarem o amadorismo estudantil - afinal, somos exatamente isso: estudantes. As apresentações serão realizadas no Teatro Hebraica - Rua das Laranjeiras, 346/ 7o. andar, sempre pela manhã. E não reclamem do horário... Um, porque foi o que deu para arrumar. Dois, porque é de graça. Então é assim:

07/ 12 (ter) - 11hs
08/ 12 (qua) - 9hs
09/ 12 (qui) - 9hs
10/ 12 (sex) - 11hs


"...dificilmente poderá ser uma representação de mim, da maneira como eu sou na verdade. Será antes, além da aparência, como ele irá interpretar quem sou, como ele me sentirá - se é que ele me sentirá - e não como eu, dentro de mim, me sinto. E me parece que isso deveria ser levado em conta por quem for chamado a nos julgar." - Seis Personagens..., Luigi Pirandello

Me desejem "Merda!"

29.11.04

Sobre carinho e amizade

Três pessoas muito especiais estavam juntas vivendo um momento mágico, único. Eu deveria estar lá, mas fui impossibilitado por motivos absolutamente alheios à minha vontade. Na minha ausência, elas me ligaram. Cada uma delas veio ao telefone para dizer que me amava.
(...)
Naquela noite, isso fez toda a diferença.

25.11.04

Por quê fui à Floresta

Eu pretendia fazer hoje um protesto virtual contra o calor infernal que faz no Rio de Janeiro. Mas pouco antes chegar por aqui, deparei-me com o texto de uma grande amiga, preocupada com o passar dos anos, a ânsia de viver, e o medo de chegar à velhice com a impressão de não ter feito tudo o que podia para ser feliz. São preocupações legítimas. Acho que todos pensamos nisso em algum momento. Quem não pensa, deveria pensar. A leitura me lembrou de um filme que marcou minha vida em vários sentidos. A primeira vez que senti vontade de fazer teatro em toda minha ainda breve existência foi ao ver trechos de "Sonho de uma Noite Verão", de Shakespeare, encenados em "Sociedade dos Poetas Mortos". Que eu tenha experimentado a felicidade pisar pela primeira vez num palco participando justamente de uma montagem dessa peça é uma outra história a ser contada. O exemplo é só para ilustrar o quanto o filme significou para mim. Considerem que, naqueles tempos, eu era o feliz estudante de um rígido colégio para moços, interessado em literatura e poesia; e imaginem o grau de identificação que tive com os personagens da obra. Bem... o velho clichê Carpe Diem não precisa ser novamente lembrado e repetido. Letras Mortas não se prestará a isso. Mas vou tomar a liberdade de reproduzir algumas linhas citadas no roteiro, que têm muito a ver com o assunto em questão. Espero que deixem minha amiga - e todos que passarem por aqui - com o espírito um pouco mais leve:

"I went into the woods because I wanted to live deliberately. I wanted to live deep and suck out all the marrow of life... to put to rout all that was not life; and not, when I came to die, discover that I had not lived." - Henry David Thoreau

Com a livre tradução do jovem filósofo contemporâneo: "Eu fui à Floresta porque queria viver deliberadamente. Eu queria viver profundamente, e sugar a própria seiva da vida... expurgar tudo o que não fosse vida; e não, ao morrer, descobrir que não havia vivido"

E ainda os versos de Robert Herrick:

To the Virgins, Make much of Time

Gather ye rosebuds while ye may,
Old time is still a-flying,
And this same flower that smiles today,
To-morrow will be dying.

The glorious lamp of heaven, the sun,
The higher he's a-getting,
The sooner will his race be run,
And nearer he's to setting.

That age is best which is the first,
When youth and blood are warmer;
But being spent, the worse and worst
Times still succeed the former.

Then be not coy, but use your time,
and while ye may, go marry;
For having lost just once your prime,
You may for ever tarry.

Essa eu não vou traduzir porque vai dar mais trabalho, e estou de saída para a academia, o que para mim representa uma significativa porção do conceito de "Aproveitar o Dia". Faça você o mesmo, seja como for.


22.11.04

Meninos, eu vi! (e gostei!)

Três vivas para a loiraça russa de olhos verdes.
Três vivas para a morenaça russa de olhos azuis.
Santo Deus! Será que por lá todas as mulheres são assim?!
O judoca e ex-agente da KGB Vladimir Putin visitou o Brasil nesta segunda-feira. Reuniu-se com o presidente Lula e formalizou seu apoio a que os tupiniquins tenham um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, por sua importância estratégica como país continental e líder natural da Amárica Latina. Mas suspender o embargo à carne brasileira que é bom... nada. O curioso é que, depois de visitar o Corcovado e o Maracanã, o manda-chuva russo encerrou sua visita oficial... numa churrascaria. E se esbaldou na picanha que eu sei, porque estava lá.

19.11.04

Uma grande e íntima revelação

Carlos Lessa foi destituído da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social nesta quinta-feira. Para os leitores menos afeitos ao noticiário, vai aí minha singela contribuição para que se mantenham atualizados sobre os acontecimentos do país. O que isso muda na sua vida? Pouca coisa ou quase nada. Na verdade foi uma decisão política, e o velho professor já estava na marca do pênalti há muito tempo. O substituto, Guido Mantega, não é tão simpático e afeito a declarações de efeito, mas é cortês, não acho que teremos problemas de cobertura jornalística com ele. Mas o assunto aqui não é esse. O assunto é uma grande e íntima revelação pessoal, que só terei coragem de fazer ao fim texto. É algo de impacto, forte; se você é cardíaco(a) ou tem estômago fraco, recomendo que cesse a leitura e volte outro dia. Voltando ao Lessa... sua saída me rendeu um plantão na sede do BNDES. Foram horas e mais horas de não-trabalho, sentado na sala de imprensa com jornalistas de vários outros veículos esperando informações oficiais que tardavam a chegar, alimentando vãs expectativas sobre a possibilidade de uma entrevista coletiva que - todos sabíamos desde o início - não iria acontecer. O lado ruim: um dia improdutivo. O lado bom: a chance de colocar o papo e as besteiras em dia com alguns colegas que valem tão pouco quanto eu. Dei sorte nesse plantão. Acho que há muito não me divertia tanto em horário de trabalho. Nesse sentido, pode-se dizer que foi um dia de dinheiro-fácil (...) Mais ou menos. A verdade é que esses plantões têm sempre um nível elevado de stress: chefia ligando toda hora, olho ligado em Brasília para saber se alguém fala por lá sobre o assunto em questão, boatos que vêm e vão sobre o que de fato a fonte está fazendo ou vai fazer. Nunca é um dia relax, mesmo que nada aconteça. É preciso estar mais atento a tudo, o tempo todo. Mas avancemos a meu drama pessoal... Chego em casa depois de um dia desses, obviamente cansado; nem tanto física, mas mentalmente, e encontro minha mãe dizendo que precisa ter "uma conversa séria" comigo. Ione e eu não nutrimos o hábito de discutir a relação. Nos damos ótimamente bem, e ela até respeita minha privacidade - tanto quanto é possível para uma mãe, o que às vezes é muito pouco. Mas vá lá, eu também não tenho porque criar tempestades. Mas o fato é que ela afirmou estar muito triste comigo, o que me preocupou. Cansado e agora apreensivo, indaguei o motivo: disse-me que tinha encontrado, pendurada para secar no meu box, uma cueca furada. E começou a falar seriamente sobre como eu - graças a Deus - não tinha motivo ou necessidade que justificasse uma tal peça em petição de miséria. Tentei explicar que, logicamente, a maioria das minhas cuecas está em ótimo estado de conservação, mas que de fato eu mantenho algumas furadas ou puídas porque são muitíssimo confortáveis em noites nas quais a roupa íntima certamente não virá à tona. Não se deu por satisfeira, e disse-me que compraria cuecas novas. Foi só neste momento que minha mãe de fato levou uma bronca. Um, porque fui educado por ela mesma a cuidar de minhas cuecas desde moleque, e não dou a ninguém o direito de se meter nisso. E dois porque, ao fim de um dia cansativo, o mínimo que ela poderia fazer era me apresentar um motivo realmente grave para armar tamanho circo. Então é isto. Está aí a grande revelação pessoal: Glauco Paiva, por vezes, usa cuecas furadas. Quem nunca pecou, que atire a primeira pedra.

16.11.04

Amor, só de mãe!

Dizem que por trás de todo grande homem está uma grande mulher. Eu, na verdade, ainda estou na dúvida. Tem dias em que me olho no espelho e vejo um grande homem. Em outros vejo apenas um homem grande; quando não um meninão, e olhe lá. Seja como for, sei quem é a grande mulher a quem devo tudo que consegui até aqui. A mama apaga velinhas hoje. Parabéns à D. Ione.

13.11.04

Feel the Force

Chegou aos cinemas do Rio e de São Paulo nesta sexta-feira o teaser do Episódio 3 de Guerra nas Estrelas. Com o título Revenge of the Sith, o filme vai mostrar a derrocada final de Anakin Skywalker e a queda para o Lado Negro da Força que vai transformá-lo no temível Darth Vader. Grande parte dos fãs de carteirinha se decepcionou com os roteiros dos dois últimos lançamentos de Star Wars. Eu inclusive. Mas achei graça em ouvir o futuro Vader dizendo que o grande problema da Galáxia Distante era a falta de altruísmo. E babei ao ver Mestre Yoda empunhando um sabre de luz. Pois bem... Acho que esse terceiro filme tem tudo para ser "O Império Contra Ataca" da nova trilogia. Pelo que vi no trailer, o tom me parece mais sombrio, e não poderia ser diferente - independentemente de como a trama será conduzida, o mau vai vencer: Skywaker vai cair, assim como a República. O Conselho Jedi será exterminado, e Palpatine deixará as maquinações de bastidores para assumir o lugar de Imperador. Em tempo: o teaser traz um corte rápido do Grão-mestre Sith brandindo uma lâmina luminosa - vermelha, como manda a etiqueta dos vilões da série. As batalhas espaciais estão realmente vibrantes, e as tropas clônicas em deslocamento ao som da marcha imperial me deram arrepios. Nunca George Lucas foi tão Leni Riefensthal. E, só a título de cerejinha, é possível ouvir um "Yes, master..." na voz de James Earl Jones. Para quem vai dizer que Star Wars é cinema pipoca, o meu protesto: a história é um épico mitológico, com o recheio de inúmeras referências religiosas. Um trabalho antropológico universal de primeira linha. Não fez tanto sucesso à toa. George sabia que estava tocando as cordas certas. Não foi sem motivo real que o sujeito revolucionou o conceito de marketing cinematográfico quando, em meados dos anos 70, trocou o fixo de direção por direitos em vendas nas cópias da trilha sonora e produtos associados, como brinquedinhos, camisas e afins (...) Deu para entender de onde veio o dinheiro que construiu a Lucas Arts, Lucas Films, Lucas Games, etc, etc, etc? E tem mais para quem gosta: lá nos anos 90, quando anunciou que filmaria a primeira trilogia, o velho Jorge disse que não produziria os três últimos filmes da série - sim! para quem não sabe, tem mais depois de "O Retorno de Jedi" - mas eu já ouvi alguns boatos sobre uma possível mudança de planos... Olha, não sei de que lado da Força você joga. Mas Star Wars, mesmo quando decepciona os puristas, tem que ser visto. The Saga continues on May 2005. Até lá, may the Force be with you. Always.

11.11.04

Woman in Red

Essa eu achei navegando por aí. A definição não está lá grande coisa, mas o conceito é sugestivo e - por que não dizer? - atraente; apesar do clichê em vermelho...

Saiu daqui

8.11.04

Peixe cru com estilo

O pessoal do Rio de Janeiro deve, quando tiver a chance, experimentar o Tanaka da Lagoa. Eu sou daqueles que gosta de comer com vista, e adorei. Mesmo com a chuva, o espaço é muito bom: clean, sofisticado, e o sushiman não faz feio. E comer com hashi é sempre uma curtição. A conta não é barata, mas o jantar também não custou os olhos da cara. E em tempos de emancipação feminina, o progarama é perfeitamente viável financeiramente. Try the raw fish in a room with a view. A view to a kill.

4.11.04

Sobre ontem à noite.

Estava lá. Incontestável. Me olhando como a desafiar-me. Jogando-me na cara o passar das décadas; negando-me os feitos da juventude, afirmando vãos todos os meus esforços por uma vida saudável - quase atlética, muitos diriam. Atestava, desdenhoso: "Nunca mais as enterradas nas quadras de basquete! Nunca mais os maiores pesos da academia quando chegar o verão! Nunca mais os esportes radicais nas férias!" Parecia dizer-me que eu deveria desistir logo dessa mania de mente sã em corpo são, pois minha anatomia iniciara a viagem de ida em direção à maturidade, enquanto eu insistia, inutilmente, em refutar o já tão óbvio conceito de que havia - vejam só! - me tornado um adulto. Estava lá. A semente do pânico estético. A maldita pétala alva da idade, da flor inevitável que chega sem aviso na melhor das nossas Estações, com o peso dos anos. Peso sob o qual se curvam os mais indômitos mortais. Encarava-me. Provocava-me. Assaltava-me a fronte negra em vilipêndio. O primeiro fio de cabelo grisalho.

Passei-lhe a tesoura.

2.11.04

A milhas e milhas distante

Ah... o impagável prazer de se trabalhar num feriado, e ter a consciência cívica de que, enquanto todos se divertem, você está fazendo a sua parte para que a empresa e o país progridam economicamente. Ah! Esta sensação única de liberdade que vem da solidão. Você num estúdio, falando para audiência residual; você ao computador, teclando para ninguém ler, porque seus amigos estão todos viajando ou curtindo uma praia.
Alô! Alô! ALÔÔÔÔÔÔÔ!!!
Tem alguém aí?!
Socorro! - Me salvem de mim mesmo!!!
Sem resposta.
Que felicidade...

A Ópera dos Três Vinténs

Bem... A peça foi montada em outubro na Casa das Artes de Laranjeiras. Um processo que começou com muito tesão, mas que por motivos alheios e absolutamente impessoais acabou perdendo um pouco de peso na minha avaliação. O espaço era pequeno e o horário incompatível. Como eu já não estava tecnicamente muito saftisfeito, acabei não chamando ninguém para assistir. A minha mãe foi porque se lembrou de me perguntar quando diabos eram as apresentações. A falta de publicidade me rendeu belas broncas dos amigos mais próximos, mas eu já pedi desculpas. Estou ensaiando outra. Se ficar apresentável eu juro que divulgo, tudo bem? De qualquer forma, esse aí sou eu, ou Mackie Navalha, como preferirem...Bandido, mas gente boa.

Balada do Cafetão - Música de Kurt Weill

Mackie: Bons tempos são aqueles que não voltam.
Como um casal vivíamos em harmonia,
Nos esforçando juntos de lua a lua:
Eu era o chefe e ela era a vadia.

Pode ser diferente, pode ser igual.

Quando chegava outro freguês eu lhe cedia
A cama e muito cortês eu lhe dizia:
"Meu senhor, a casa é sempre sua, por favor!"
E vendo a grana eu ria...

Foi num bordel de fina freguesia
Onde fizemos nossa moradia!

Jenny: Bons tempos são aqueles que não voltam.
Trepávamos sem conta e sem perdão.
E ele foi gastando o nosso capital,
Botando as minhas roupas todas no leilão.

Pode ser diferente, pode ser igual também.

Fiquei tão brava, não queria ficar nua.
Perguntei: "rapaz, me diz qual é a tua?"
A resposta foi uma porrada
Que me deixou por dias derrubada...

Foi num bordel de fina freguesia
Onde fizemos nossa moradia!


Então tá. Eu tenho que admitir - teatro é mais ou menos como sexo:
É bom... até quando é ruim.

29.10.04

Personagem Clarice e o homem nu

Há tempos Letras Mortas não faz reflexões políticas pretensamente sérias. Vamos então a uma looonga série de considerações...
O secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, anunciou nesta quinta-feira que a viúva de Vladimir Herzog, Clarice, reviu as fotos que seriam do jornalista morto (1975) em cativeiro militar e não mais identificou o marido. Há coisa de duas semanas, o Correio Braziliense publicou fotografias de uma tal série guardada em um arquivo "secreto" do governo, trazendo depoimento de Clarice em que ela reconhecia o parceiro em uma das chapas. A declaração me chamou atenção, porque ela dizia não estar muito certa com relação a duas das fotos, mas atestava - então - ser Vladimir um prisioneiro que aparcia nu em uma das imagens. Que agora venha afirmar que a mesma foto não retrata Herzog me deixou assaz intrigado. Aparte de qualquer tentativa de sátira pornográfica com tão sério assunto, uma viúva que diz reconhecer seu homem em nu frontal merece crédito. Como pode ela, uma semana depois, mudar de idéia? As teorias de conspiração começam a espocar em minha mente doentia.
O jornalista e cientista político Maurício Santoro publica texto em Os Conspiradores (25/10) no qual aventa a hipótese de a Agência Brasileira de Inteligência ter dado início a uma campanha de desinformação sobre o assunto. Um braço do governo tentando frear toda a discussão sobre o processo de abertura de arquivos que Deus sabe o que escondem... Mais sobre isso adiante. A primeira pergunta que faço é: de onde saíram as fotos? A indagação me parece pertinente porque o real jornalismo investigativo anda em baixa no Brasil. As fitas do escândalo Waldomiro Diniz, por exemplo: saíram das mãos de um senador da oposição para a redação da revista Época. Todo mundo no meio profissional sabe disso. Manobra política contra Dirceu. É claro, com acesso ao material, e a devida apuração do caso, é dever da imprensa informar. Isso não se discute. Mas é preciso considerar que, desde a morte de Tim Lopes, o jornalismo brasileiro ficou carente de reportagens realmente originais e investigativas lato senso. A pulga atrás da minha orelha, sobre a qual não tenho nenhuma evidência, se não conjecturas circunstanciais: o presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, João Luiz Duboc Pinaud, vem há tempos imemoriais defendendo a abertura dos tais arquivos, mas o assunto estava meio... morto, na falta de palavra melhor. Fato: os documentos fotográficos já tinham vazado em 1997; não eram assim tão secretos. Quando aconteceu, ninguém percebeu a semalhança entre Vladimir Herzog e o homem nu.... Mas se podemos pensar que a ABIN abriu ações para abafar o caso, poderemos pensar também que - ao início de todo o processo - Pinaud, ou outra fonte interessada no acesso público aos arquivos secretos da ditadura, procurou o Correio para soprar uma dica e reapresentar o material? E se este for o caso: que preço se paga pela memória de um país? Os tão falados direitos humanos justificam estratégias maquiavélicas? O bem como fim releva o mal como meio? Digo mal porque se toda essa história não passou de um balão de ensaio - com intervenções contrárias de pontos distintos do mesmo governo - então estamos mesmo perdidos, porque o jogo de bastidores vai novamente postergar toda e qualquer iniciativa concreta sobre a abertura, podem apostar. A Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos é órgão da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. E a Agência Brasileira de Inteligência... bem, essa ninguém sabe muito bem o que é, mas se ela tem partido nesse imbróglio, parece então uma semente tortamente germinada da bagunça que foi o SNI. Acho que nem Golbery ficaria orgulhoso. Mas vejam: seja como for, é governo batendo cabeça com governo. Pior que filme dos Trapalhões.

Dito tudo isso, ainda quero saber o seguinte: a essa altura dos acontecimentos, se não é mesmo o Herzog, então quem é o sujeito nas fotos? Ele certamente tem - ou teve - família, e sua memória tem o mesmo valor que a do jornalista.
Deixando de lado as teorias de conspiração, tenho a dizer que o Correio Brasiliense, a meu ver, fez um jornalismo correto. Ouviu a viúva, e publicou o depoimento - na minha análise, contundente. Como pode a mesma viúva, uma semana depois, dizer "Eu fiquei aliviada. Aliviada por saber que então ele não passou por aquilo. Mas o Vlado teve mais essa função política, tão importante. Os arquivos secretos precisam ser abertos sim, são mais de 100 famílias que esperam esclarecimentos e toda uma sociedade. O caso teve essa importância, de cobrar essa dívida do Estado". Ora, por favor, mais chocante do que a foto de um homem nu é a imagem de um homem enforcado na cela, exibindo marcas de tortura, associada à versão de que ele teria "cometido suicídio". E foi isso que os militares venderam quando Vladimir morreu. Já isso lhe garantia importância simbólica na discussão política sobre anistia e abertura. O pênis - dele ou alheio - não precisava vir a público para (re)suscitar essa mesma e inegável importância.
Uma cobrança por demais agressiva a Clarice? Talvez. Mas ela precisa se decidir. Toda a prosódia da publicação dessas fotos está muitíssimo mal contada. E não é com histórias mal contadas que vamos levar à frente a busca de verdades sobre tão obscuro período da memória nacional. O que para muitos é jogo político, para outros é dor de família. Eu não tive parentes mortos ou exilados pela ditadura. Não tenho Vlado como ícone profissional ou escrevi esse texto como ode à sua memória. Aliás, conheço de Vladimir Herzog o que Elio Gaspari me contou em "Ilusões Armadas", e pouco mais. Mas sei que ele é um símbolo. E símbolos não devem ser tão levianamente evocados, sob risco de perderem a força. E a causa da qual Vladimir é símbolo merece não apenas atenção mas... carinho. Finalmente, o sobrenome de Clarice é Herzog, não Sterling. Ela não é agente federal, e não pode, mesmo que inadvertidamente, deixar-se envolver em tramas de Silêncio dos Inocentes.

27.10.04

Arrumando a Casa

Letras Mortas ganhou Imagens Vivas: uma seção exclusivamente dedicada aos Fotologs amigos. No Mentes Criativas ficam agora somente os blogs parceiros. Alguns autores altamente férteis figuram nos dois espaços da recém-reformulada barra lateral. Vale a pena conferir, especialmente agora com a casa arrumada. Tem gente nova pintando por lá também: o Saraiva diagnostica o Odin Darkside e o Caleidoscópio. É o tipo de médico que todos nós gostaríamos de ser, e ao qual odiamos entregar nossas namoradas. Mas como é meu amigo, nele eu até confio. A (Clau)Dinha é uma menina linda que passou pela minha vida. É bom ter notícias dela de novo. É a arquiteta do My Mind Knows It. Os textos sempre me parecem ter uma pitada de Bridget Jones; vai entender... O Vitor é um doente psicopata que se propôs a criativa busca de melodias irritantes. É o editor-chefe do Repolhópolis. Nas últimas semanas, as atualizações são freqüentes. Visite ainda o Gabriel em Zenn-la. Ele é nerd, adora quadrinhos e filmes de terror, mas acredite: ele sabe do que está falando. Tem o olhar de um garoto de 13, e a sensibilidade de um tiozão-firmeza aos mid-forties. A Bia e suas gatas arranharam um lugar entre os flogs da casa: é o Anjo Azul. Deixei por ali também o link para um similar só de tattoos. Talvez eu encontre alguma arte que me ajude a tomar coragem de entrar na agulha...
Ah! Carimbei, para terminar, um banner pela autonomia do Rio de Janeiro. A idéia nunca vai vingar, mas é ótima. Com todo respeito: abaixo as cidadezinhas barangas do interior!

26.10.04

Clarice Linspector

Achei absolutamente genial:

"Quero morrer com vida. Juro que só morrerei lucrando o último instante. Há como quero morrer... mas nunca morrer antes de realmente morrer.
(...)
Porque é cruel demais saber que a vida é única e que não temos como garantia senão a fé em trevas; por isso respondo com a pureza de uma alegria indomável, e a minha própria morte e a dos que amamos têm que ser alegres - não sei ainda como, mas têm que ser.
Aliás, não quero morrer. Recuso-me contra Deus. Vamos não morrer como desafio?
- Não vou morrer, ouviu, Deus?! Não tenho coragem, ouviu?
...Não me mate, ouviu?
Porque é uma infâmia nascer para morrer não se sabe como nem onde. Vou ficar muito alegre, ouviu? Como uma resposta, um insulto. Uma coisa eu garanto: nós não somos culpados. Esta noite sonhei que estava sonhando. Será que morrer é assim? O sonho de um sonho de um sonho?
Ah! Viver é desconfortável. Tudo aperta. O corpo exige, o espírito não pára. Viver parece ter sono e não poder dormir. Viver é incômodo. Não se pode andar nu nem de corpo nem de alma... Estou tão perdida. Mas acho que é assim mesmo que se vive.
Acho que vou morrer um pouquinho. Estou tão precisada...
Eu sei morrer. Morri desde pequena. E dói, mas a gente finge que não dói. Estou com tantas saudades de Deus!
Morrer na Primavera... morrer de saúde... morrer de vida... estou com muita saudade de Deus."

É isso. Algumas pessoas simplesmente têm o dom.

24.10.04

E tem aqueles dias engraçados...

...em que, entre cerca de seis milhões de pessoas residentes na cidade, a vida te joga na cara - da maneira mais casual - justamente aquela que você achava, e até esperava, que não fosse ver por um bom tempo. E os ritos interpessoais permanecem exatamente os mesmos. Tudo como sempre foi, por anos e anos a fio. É como se a Roda do Destino completasse uma volta bem na sua frente, e parasse para dizer em alto e bom som: "welcome to the Revolution, muthafucker!"
E você pode correr, mas não pode se esconder.
São engraçados, esses dias. Muito engraçados mesmo.

20.10.04

Esse estranho dublê de retrato

Resolvi deixar a barba crescer, e também o cabelo - ou que restou dele, pelo (pêlo?!) menos. Quem convive comigo sabe que esse tipo de decisão tende a não durar: de vez em quando me dá uma louca e eu entro em ciclos de crescimento capilar, para logo depois voltar à boa e velha máquina zero, com passagens pelo cavanhaque ou o goaty. Uma vez até investi num bigode, mas as minhas melhores amigas - sim, eu tenho duas, morram de inveja! - falaram sério que aquela não tinha sido uma boa idéia. Seja como for, minha barba já está entrando na segunda semana, e vai continuar por aí uns tempos. Acostumem-se. A verdade é que ando numa fase de relaxamento estético. Até na academia estou meio parado, pegando menos peso... Patinação nos fins de semana, disso não abro mão desde que comprei meu in-line. Reforcei a dedicação e o gasto calórico nas disciplinas dramáticas que envolvem o físico. Acaba funcionando como uma anti-ginástica, talvez. Acho que estou às vésperas de uma "Operação Verão". Deve ser isso. Relaxo agora, porque logo vou estar malhando com tudo a que tenho direito. A falta de hiper-calóricos está me deixando menos ativo, em todos os sentidos (...) Ok, ok, não em todos os sentidos. Minha cara de sono virou comentário na rádio e no curso de teatro. Tô nem aí. Para comemorar a fase relapsa, vou adotar o look ermitão safado. Quem já viu diz que eu fico com cara de terrorista árabe. Mas fiquem tranqüilas e tranqüilos: vou continuar sendo o mesmo sujeito legal. Só que barbado.

Por que diabos eu resolvi escrever sobre isso?
Sei lá, ora essa! Porque não tinha nada melhor pra fazer!!! - E você?! Qual é sua desculpa para ter lido essa baboseira até aqui?

18.10.04

In the End

Mais uma daquelas músicas que fazem todo o sentido se ouvidas no momento certo... Isso, ou simplesmente o conjundo da obra me agrada. Essa é do Linkin Park:

It starts with one thing
I don't know why.
It doesn't even matter how hard you try.
Keep that in mind
I designed this rhyme to explain in due time
(All I know)
Time is a valuable thing
Watch it fly by as the pendulum swings
Watch it count down to the end of the day
The clock ticks life away
(It's so unreal)
Didn't look out below
Watch the time go right out the window
Trying to hold on, but didn't even know
Wasted it all just to watch you go
I kept everything inside and even though I tried, it all fell apart
What it meant to me will eventually be a memory of a time when

I tried so hard, and got so far
But in the end, it doesn't even matter
I had to fall, to lose it all
But in the end, it doesn't even matter

One thing, I don't know why
It doesn't even matter how hard you try.
Keep that in mind
I designed this rhyme, to remind myself how
(I tried so hard)
In spite of the way you were mocking me
Acting like I was part of your property
Remembering all the times you fought with me
I'm surprised it got so far.
Things aren't the way they were before
You wouldn't even recognize me anymore.
Not that you knew me back then
But it all comes back to me (in the end)
You kept everything inside and even though I tried, it all fell apart
What it meant to me will eventually be a memory of a time when

I tried so hard, and got so far
But in the end, it doesn't even matter
I had to fall, to lose it all
But in the end, it doesn't even matter


I've put my trust in you
Pushed as far as I can go
And for all this
There's only one thing you should know

I tried so hard, and got so far
But in the end, it doesn't even matter
I had to fall, to lose it all
But in the end, it doesn't even matter

15.10.04

Boys with Toys II

Depois de longo e tenebroso inverno na casa do consertador de brinquedos do reino não-tão-distante da Fasalândia, meu video-game voltou para casa. Meu lado criança - que muitos poderão dizer, é a porção maior da minha fisicamente espaçosa pessoa - está pulando de alegria. O Playstation 2 é um ótimo companheiro para tardes chuvosas em desocupados fins de semana, quando os olhos ficam cansados dos livros, que também são grandes amigos, mas às vezes não tão divertidos. É pena que o pequeno Fasa vai estar de plantão no weekend. Mas tudo bem, ele já fica feliz só em saber que seu amiguinho está de volta, sem seqüelas permanentes. Três vivas para o Playstation 2!

13.10.04

Dia das Crianças

Duas garotinhas de oito anos conversam no quarto:
- O que você vai pedir no Dia das Crianças?
- Eu vou pedir uma Barbie, e você?
- Eu vou pedir um O.B.
- O.B.?! O que é isso?!
- Nem imagino, mas na televisão dizem que com O.B. a gente pode ir à praia, andar de bicicleta, andar a cavalo, dançar, ir ao clube, correr, fazer um montão de coisas legais, sem que ninguém perceba...

Dogão é mau!

10.10.04

Ostara

Os puristas - se é que eles existem entre os pagãos - vão dizer que perdi há semanas o início da Estação, e que o próprio Verão já está batendo à porta. Mas eu acredito que certos fatos na vida não podem ser ignorados, principalmente quando vêm em sucessão tão significativa. Estou terminando um processo de ensaios e apresentações, para começar um novo, que deve durar - vejam que curioso! - até o Solstício. Estou fechando semanas de trabalho intenso com três dias de folga em que pude equilibrar um monte de coisas, e enfim pensar um pouco em mim, e em tudo o que anda acontecendo na minha vida nos últimos meses - sim, o déficit era assim tão grande. Mais importante, acabo de passar a limpo uma história de 15 anos. Não que eu tenha colocado um ponto final no complicadíssimo enredo, mas substituí as reticências. Um ponto, ainda que parágrafo, é sempre melhor do que as malditas reticências; e ter a chance de encontrar respostas, mesmo que não definitivas, para questões pessoais é sempre bom. Amadurece-nos. Pelo menos eu penso assim. Para não mencionar o alívio de finalmente ter a certeza de que você fez o que tinha que fazer para evitar cheques pré-datados de Karma que, você sabe, só poderão ser quitados em outra vida. A não ser que alguém tome agora uma atitude quanto ao assunto. Coragem. Coragem para o novo. Por tudo isso, sento-me ao computador às três da manhã com espírito limpo. Tabula rasa. E isso abre milhões de possibilidades. A paz final de tudo aquilo que é toca o caos do porvir. E nós temos uma nova equação se abrindo. Tudo que eu queria era acender uma fogueira e dançar, mas no momento um incenso vai ter que bastar... É pouco, mas o o Sabbath está em mim, não há dúvida. Mesmo que oficialmente o início da Estação tenha passado. É tempo de equilíbrio entre luz e sombra. É tempo de renovação. Com calma - e se eu tiver sorte, com harmonia - tudo em mim se prepara para Beltane, e logo depois para o calor do Verão. Mas é preciso não ter pressa. O Ciclo nunca se atrasa. A Roda está sempre girando como deve. Depende apenas da Lua e do Sol de cada um de nós. Feliz Primavera.

8.10.04

8 Rodinhas (ou Boys with Toys)

São curiosos os mecanismos que a mente humana encontra para burlar a própria racionalidade quando se adiciona desejo a qualquer equação. Acabo de gastar 400 reais com um sorriso no rosto. Uma grana alta, que certamente vai me apertar até o fim do mês, mas what the hell - eu sou pão-duro com uma série de coisas na minha vida, então quando me dá vontade de gastar dinheiro, é bom gastar direito... Se não, qual é a graça? Já entrei na loja traçando uma reta até o objeto de consumo, com o qual vinha namorando há algumas semanas. Dessa vez não houve hesitação; eu não pensei duas vezes. Acho mesmo que não pensei nem uma. Se é para fazer, então façamos. E fiz. Traxart Mercury, com frame de alumínio, rodas em poliuretano gel 82mm, rolamento ABEC 7, tudo do bom e do melhor. Só não tem air-bag, mas eu comprei as joelheiras just in case. O vendedor nem precisou suar a camisa. Me ofereceu um desconto de dez por cento pelo pagamento à vista e foi só. Com essa dinherama, eu até que poderia comprar uma mega bicicleta nova, mas vamos combinar que um par de patins in-line tem muito mais estilo. Agora é só torcer por um domingo de sol em Ipanema...

6.10.04

Escatologia Administrativa

Já que estávamos mesmo assuntando sobre o cenário político do Rio de Janeiro, eu pensei em escrever sobre a costura de alianças para o segundo turno em alguns municípios fluminenses, mas hoje estou de muito bom humor para falar - ainda que seja mal - de Anthony Menininho et alli. Além do mais, todos hão de concordar que uma imagem vale mais que mil palavras. Sendo assim, penso em economizar anos de pesquisa árdua apresentando o quadro abaixo como meu ante-projeto de tese para mestrado em ciências políticas e administração pública...

4.10.04

Ave, César!

Então é isso... César Maia não é exatamente o prefeito dos meus sonhos, mas antes ele do que o risco de ter o bispo Crivella no segundo turno, fazendo lavagem cerebral em todos os fiéis da Igreja Universal para angariar votos. Se ele chegasse à prefeitura fazendo coro gospel com a Rosinha no governo do estado, me veria obrigado a deixar a cidade. Aliás, o trauma - político e auditivo - seria tão grande que eu acho que desistiria do Brasil. Teocracia não cola comigo, não tem jeito. A idéia me é simplesmente inadmissível. Assim sendo, a César o que é de César. Jornalisticamente falando, a falta de segundo turno promete um 31 de outubro menos trabalhoso. Deus sabe que ralei feito um corno na cobertura de ontem. E olha que eu nem tenho uma moça fixa para utilizar com propriedade a denominação de "corno" (...) E vocês? Votaram direitinho?

29.9.04

Taxi Driver

Entro no táxi para ir a uma festa. O bigode denuncia o motorista antes mesmo que ele fale: trata-se de um daqueles portugas tradicionais. A imaginação já desenha-lhe um cotoco de lápis atrás da orelha. Quando o condutor de fato abre a boca, suas palavras ecoam lapidares e definitivas no interior do carro, com irretocável sotaque d'além mar: "Mulher é foda!". Não falar nada parece-me deselegante e pouco educado. "De fato - replico eu - mulher é foda". O sujeito passa então a discorrer sobre como teve dores de cabeça intermináveis com as duas ex-esposas, a última das quais o persegue até hoje atrás de bens que ele foi obrigado a passar para o nome de outros membros da família, entre irmãos e primos, para não dividir com a antiga consorte. "O homem acha que é malandro - prossegue ele - mas quando a mulher quer acabar contigo, não tem pra ninguém. Ela ataca a sua dignidade, amigo". E ele não pára, não pára nunca. Fala sozinho, mas parece absolutamente resoluto a provar-me por a mais b que mulher é foda. Praia de Copacabana, quase final da viagem. Eu, a essa altura dos acontecimentos já desistindo da máscara de dignidade, rendo-me: "Pois veja, senhor, quem gosta de homem é viado. Mulher gosta mesmo é de dinheiro" O sorriso do cara se ilumina. Ele parece abstrair-se até mesmo da direção. Por alguns instantes, preocupo-me com o risco de uma possível colisão. O português quase larga o volante. Se vira pra mim e diz: "É ISSO!!!" e finalmente cala-se.
Chega um momento em que as palavras resultam inúteis. Dispensáveis.
Mulher é foda.

(...)
Ah! Sobre a festa?! - Joãozinho Caminhador andejava a passos largos pelo salão. Keep Walking.

28.9.04

Sobre fins e inícios

A vantagem de se acreditar que a vida vem em ciclos é que, apesar de ser segunda-feira, você pode aproveitar o início de toda e qualquer nova revolução como uma desculpa para tentar melhorar seu estado de espírito. Foi uma noite febril - provavelmente somatizando o fim de semana - e a voz está mesmo iniciando uma trajetória descendente, mas ao menos o humor melhorou... Finalmente consegui fazer minha catarse na academia, e isso faz toda uma diferença. Você não adora a Senhorita Endorfina? Amor da minha vida. Eu não vivo sem ela. Aos amigos que deixaram palavras de carinho, muito obrigado. Vocês são o que há. Festa na terça promovida por uma grande empresa de bebidas para os jornalistas cariocas. Vai ser pra dançar até cair, sem pensar nas conseqüências, ou sequer na quarta-feira.
Increase da Peace.

26.9.04

Por que eu odeio o mundo neste momento...

Um amigo de boas farras adolescentes foi morto na madrugada de sexta-feira com dois tiros na cabeça durante uma estúpida tentativa de assalto. Eu recebi a notícia pouco antes de ter que veiculá-la no ar, começando o plantão de sábado. O mesmo plantão me impediu de ir ao velório e ao enterro, apressados pela família. Por conta do episódio, uma amiga com quem não falava há séculos me ligou para conversar. Foi um horror ouví-la tão arrasada. Passei o domingo de sol na rádio, mesmo sem ter programa para apresentar, por causa da transmissão de futebol. Apesar da impressão de ter coçado as bolas o dia inteiro enquanto poderia estar curtindo uma tarde linda de praia, uma questão puramente burocrática me prendeu na emissora por mais de três horas além do meu horário de saída. Por causa disso, não consegui malhar. E, cara, eu queria - eu precisava malhar neste domingo. Aliás, ainda estou teclando da rádio: morrendo de fome, e não sei se vou conseguir pegar sequer um cinema ao sair daqui. Estou um caco. Cansado, de péssimo humor, puto da minha vida, e tendencialmente homicida. Para completar, amanhã é segunda-feira, e eu sei que estou ficando gripado. Já sinto minha voz falhar. Só comente esse post se for para dizer o quanto você me ama, e quão indispensável eu sou na sua vida. Caso contrário, vá se foder, antes que eu me esqueça.
Vaya con Diós, Acrísio!
Letras Mortas está de luto.

23.9.04

Foi mais forte do que eu

Mil perdões... Eu fui fraco. Não resisti.

21.9.04

Meninos, eu vi!

Por favor, sem esse papo de preconceito. Quem me conhece sabe que minha heterossexualidade não é homofóbica, então atenhamo-nos à análise estética e profissional da coisa: fui ontem cobrir uma cerimônia promovida pela Fundação Getúlio Vargas, em que estavam, além das óbvias dúzias de economistas e empresários, dois ministros da República. Não vou citar nomes para evitar possíveis constrangimentos, mas lá estava um colega jornalista com a gravata... cor-de-rosa! E não um rosa bebê ou cor-de-burro-quando-foge, mas rosa, ROSA MESMO! A coisa toda me pareceu um tanto insólita, estranha, sei lá... Trabalho numa redação em que existe um código tácito de vestuário - as mulheres não trabalham com a barriga pra fora, os homens não podem usar camiseta, essas coisas. Mas até a parte disso, acredito que certos limites são necessários quando se tenta estabelecer relações profissionais. Adoro combinar moleton e camisa social, mas não vou trabalhar assim, né? Enfim, fica a pergunta: você acredita num jornalista de gravata cor-de-rosa? Arranha a imagem de credibilidade? Ou será que estou sendo muito rígido? Acho que estou ficando velho...

17.9.04

Minha Imortal

Ando vendo fantasmas...
My Immortal - Evanescence

I'm so tired of being here
Supressed by all my childish fears
And if you have to leave
I wish that you would just leave
Cause your presence still lingers here
And it won't leave me alone


These wounds won't seem to heal
This pain is just too real
There's just too much that time can not erase


When you cried I'd wipe away all of your tears
When you'd scream I'd fight away all of your fears
And I held your hand through all of these years
But you still have all of me


You used to captivate me by your resonating light
Now I'm bound by the life you left behind
Your face it haunts my once pleasant dreams
Your voice it chased away all the sanity in me


These wounds won't seem to heal
This pain is just too real
There's just too much that time can not erase


When you cried I'd wipe away all of your tears
When you'd scream I'd fight away all of your fears
And I held your hand through all of these years
But you still have all of me


I've tried so hard to tell myself that you're gone
But though you're still with me
I've been alone all along

16.9.04

I just wanna walk right out of this world...

John Cummings morreu nesta quarta-feira. Quem foi John Cummings?! - O Rock perdeu Johnny Ramone. O guitarrista de uma das principais bandas do cenário punk mundial morreu aos 55 anos em Los Angeles, depois de cinco invernos lutando contra um câncer de próstata. Há quem diga que os Ramones começaram bem, mas se tornaram comerciais no decorrer do período. Eu digo que os Ramones são um ícone. O movimento punk como um todo foi marcado pela inserção de suas bandas e álbuns na grande indústria fonográfica, e não há muito como negar isso. Então, se é assim, God Save the Ramones. Sex Pistols, The Clash - you name it - todos venderam cópias e cópias de LPs, e fizeram dinheiro tanto para músicos (?!) quanto para os chamados "diretores artísticos" ou "de criação". Os Sex Pistols, por exemplo, nasceram da inventividade e do senso de oportunidade de um certo Malcolm McLaren, que viu por onde juntar Johnny Rotten, Sid Vicious, Glen Matlock, Steve Jones e Paul Cook num projeto que ele acreditava que daria certo. Deu. As letras falavam de Anarquia, Rotten gostava de cuspir nas pessoas - o que também é uma lenda, porque ele não tinha esse hábito, apenas cuspia com freqüência, mas não nos outros - e os palcos eram sujos. Mas nada foi mais mainstream que o punk dos Sex Pistols. Eles foram uma boys' band com atitude. Sendo assim, nada de desmerecer os Ramones, por favor. Músicas como Blitzkrieg Bop, I Wanna Be Sedated, I Believe in Miracles, Sheena is a Punk Rocker, entre outras tantas, marcaram uma época e uma geração. Você pode até não estar ligando os títulos, mas certamente já ouviu... e gostou. Mesmo as meninas puras, que poderiam dizer "Eu, hein?! Pára com essa história de punk - gente rasgada e mulambenta - nunca gostei!" - cantaram Psycho Therapy quando aqueles cabeludos afetados do Skid Row regravaram a música. Cantaram que eu sei, não adianta mentir! (...) Enfim, tudo isso para lamentar a morte de Johnny Ramone. E não confundam as coisas: comigo não tem essa de endeusamentos e que tais. Aliás, parando para pensar, me considero um sujeito sem ídolos - e sequer aceito o rótulo de Geração X, obrigado. Acontece que eu curtia Ramones. Já andei muito por aí de calça rasgada, com anéis de caveiras em todos os dedos, balançando a cabeça ao som de punk rock comercial honesto. Tive uma adolescência feliz e produtiva, com ótima trilha sonora. E posso dizer: era bem melhor do que o comercial que nos servem hoje em dia. John Cummings foi cremado nesta quinta-feira. Vai ver tinha medo de ser enterrado num Pet Sematary... Vaya con Diós, Johnny!

14.9.04

Quem diria...

Mesmo contando apenas com meia-dúzia de três ou quatro leitores assíduos - ou, ao menos, assíduos e manifestantes - Letras Mortas rompeu nesta terça-feira a barreira psicológica de 1000 visitas. Grande coisa... como se um blog rompendo alguma marca contábil pudesse fazer diferença no cenário macro-econômico nacional! Aliás, convenhamos: por mais esnobe e ególatra que seja o autor, falar em barreira psicológica para um espaço de catarse internética estritamente pessoal - como se ele fosse tão importante quanto a cotação do dólar ou a flutuação do risco-país - já é exagero... como diria Miguel Falabella: há limites!
Mas a verdade é que me viciei nesse troço. Talvez (e muito provavelmente) pela absoluta liberdade de redação, algo que vinha procurando há tempos. Em Letras Mortas o editor sou eu, e a ordem é não editar. Assim sendo, obrigado a todos que passaram e continuam passando por aqui. Pax Vobiscum, e voltem sempre! Mais importante: voltem logo!
(...)
Arghhh! Que piegas... Reparem não: o jovem filósofo contemporâneo está feliz e todo bobo.

11.9.04

Gestão pelo medo

Se você ainda não viu "A Vila", sugiro que não leia esse post. Sugiro também que você vá ao cinema.

O filme "A Vila" reforçou minha posição como fã de M. Night Shyamalan. O final, tão citado nos cartazes, nem me surpreendeu tanto. Supreendeu-me sim a séria reflexão proposta sobre um tema que está muito presente em nossas vidas. Ao que muitos, depois de lerem as críticas e assistirem ao filme dirão: o medo. A que eu respondo: também. Porém mais do que simplesmente o medo, o filme me levou a pensar sobre o medo como ferramenta de controle político. Penso que existem várias maneiras de exercer liderança. O exemplo é a mais legítima e virtuosa de todas, mas anda em falta. Infelizmente, dinheiro, teocracia e medo são, acredito, as mais presentes em nossos dias. Sobre o poder financeiro não preciso falar muito. Alguns vão chamar-me de teórico da conspiração, mas quero crer que ninguém é ingênuo a ponto de duvidar da força da grana que ergue e destrói coisas belas - já dizia Caetano. Vivemos o capitalismo, não há muito como fugir disso em uma escala global. Eu ao menos não vislumbro alternativas práticas de sistema. O dinheiro faz prefeitos, governadores e presidentes. O dinheiro lidera. Ponto. A teocracia é outro mal do nosso mundo. Parece confortável afirmar que escapamos da Idade das Trevas, mas é preciso abrir os olhos. Pessoas estão matando e morrendo em Guerras Santas - a terminologia bélica sequer foi alterada daqueles tempos para cá - e bem aqui pertinho, no Brasil, a Igreja Universal e outros grupos evangélicos estão ocupando espaço político cada vez maior. Nada contra a Igreja Universal se você realmente acredita. Todo homem, dizem, precisa de uma crença. Mas misturar fé e política raramente traz resultados positivos. E isso vale para todos os lados. Respeito João Paulo II como grande estadista, mas acho que ele deveria ter ficado mais tempo no Vaticano ao longo de seu pontificado. Respeito Ariel Sharon e Yasser Arafat, mas vejam só aquela bagunça... Isso, entretanto, é outra discussão. O que realmente quero dizer aqui é: talvez a liderança pelo medo seja a mais danosa de todas. Ela é cega, não permite discussões, e quase sempre sobrevive a base de mentiras e simulacros. É a mais opressora forma de exercer poder, porque trata de dobrar o espírito dos que se sujeitam a ela, erradicando qualquer forma de discussão que pudesse mesmo levar a uma progressão do regime para melhor. A política do medo é uma que não evolui. É estagnada por si e pela sua forma prática, mas ainda assim tende a perpetuar-se: pelo pavor que imobiliza quem está por baixo, pelo conformismo e/ou sectarismo que infecta quem está por cima. "A Vila" trata de um sistema de governo pelo medo. As relações são deterioradas porque há segredos demais, e a revelação desses segredos acaba inevitavelmente por levar ao sofrimento - do corpo, da mente e do espírito. Nada tira da minha cabeça que o personagem Noah (brilhantemente interpretado por Adrien Brody) foi à demência por descobrir a farsa dos anciãos. Por isso ele se diverte tanto com a noção de que aqueles-de-quem-não-falamos estão vindo. Noah personifica a dor da mente. E que um personagem com o nome de Noé mate e esfole animais é uma crueldade deliciosa do roteirista, falando sobre a inversão de valores gerada pela gestão do horror. Lucius é o sofrimento do corpo. A vítima direta e óbvia. Quando o poder é exercido pelo medo, a violência física torna-se inevitável em algum ponto. É porque Lucius não tem medo que a jovem Ivy se apaixona por ele. É porque Lucius não tem medo que ele desperta a inveja de Noah. Por ter coragem, Lucius sofre. Assim funciona esse tipo de governo - seja no cinema, seja nos porões da tortura para onde é levado quem se levanta contra a ordem estabelecida na vida real. O medo da dor é primordial ao ser humano, e a violência germina - também - a partir disso. Walker é o sofrimento de espírito. O líder que percebe o quão distorcido se revelou seu sonho, e em desespero arrisca o que mais ama - a filha e o próprio sistema - na esperança de salvar alguém que, ele acredita, possa dar continuidade ao modo de vida da Vila. Para governar é preciso não ter medo. E Lucius, vejam que curioso, é a única figura masculina da história que se enquadra nesse perfil. Nenhum esforço é poupado para salvá-lo porque a política do horror precisa da inocência, da esperança e da coragem em doses controladas para sobreviver. Triste, mas real. Em suma: o medo é péssima forma de liderar. E "A Vila" é uma crítica muito mais ácida a George W. Bush do que qualquer esforço panfletário de Michael Moore, com quem ando meio decepcionado nos últimos tempos. O medo gera distorções nocivas de cognição da realidade, e cedo ou tarde foge ao controle de quem julga estar manipulando as cordas, escalando a regimes de terror. Marquem a data: sábado, onze de setembro. No mundo de hoje... de que lado está o terror?

10.9.04

A Vingança Brasileira

Quero deixar claro que não acredito em passar para frente aquelas insuportáveis correntes eletrônicas. Mas recebi essa aqui num momento de stress alucinado, e acabei dando boas risadas na redação. O timing não poderia ter sido melhor. Ademais, a idéia me parece ótima e, em última análise, não estou repassando o e-mail - estou apenas postando no blog...

ATENÇÃO!
Estamos organizando a grande vingança brasileira: dia 1º de Janeiro, na São Silvestre! Todo mundo em São Paulo... vamos derrubar todos os quenianos, irlandeses, ou seja lá quem for que tente cruzar a linha de chegada. Virou a esquina na Paulista, já toma voadora no pescoço. Só brasileiro passa... Vai ser fantástico! Vamos divulgar no IRC e no ORKUT, e fazer uma grande corrente. Estamos prevendo cerca de 4000 adesões ao movimento, com a participação especial de alguns atletas de vale-tudo. Os seguranças de boite que quiserem se integrar à luta terão suas passagens patrocinadas, e ganharão de brinde uma camisa com a inscrição "eu apóio!"

8.9.04

Atriz, autora e filósofa contemporânea

"Nunca vou entender por que sexo, razão e coração - que estão no meio - nos levam por caminhos tão extremos."
- Clarice Niskier, em Buda.
Em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim, de sexta à domingo, 21hs.

5.9.04

Por onde nada a Enguia?

Uma última olímpica: ao assistir às transmissões das provas de natação em Atenas, você por acaso deu pela falta de Eric Moussambani? - aquele nadador da Guiné Equatorial que em Sidney fez o pior tempo da história na prova de 100m nado livre? Foi, à época, uma das imagens mais exploradas e exaltadas dos Jogos. Pelo inusitado de um nadador olímpico quase afogar-se, e pela garra mostrada pelo sujeito que, contra todas as expectativas, completou a prova em 1m52s72. Para referência: o australiano Ian Thorpe, em Sidney, fechou a prova dos 200m em oito segundos a menos. Eric Moussambani ganhou duas coisas em Sidney: o apelido "Enguia", pelo estilo peculiar de natação, e um patrocínio da Speedo. Passou a treinar na Espanha. Trabalhou duro para melhorar seu tempo e ir à Atenas. Melhorou sua marca em 50 segundos. Você o viu ao lado de Michael Phelps ?! - Nem eu. Por quê?!
(...)
Porque o Comitê Olímpico da Guiné Equatorial perdeu a foto do cara, e não pôde credenciá-lo para os Jogos.

2.9.04

(Displacing) Air

My name is flying free
Just like an eagle.
Wind on my feathers,
I watch from above.

Searing silently.

To steal my prey from the ground in a surge.

Hail to the wind!
Hail to the wind!
Elevating my body and soul;
Light in spirit, strong in mind.
In Freedom I roam.

31.8.04

Sobre pizzas e Musas Olímpicas

Fim de Jogos Olímpicos. As primeiras Olimpíadas de que me lembro foram as de Los Angeles, 1984. É engraçado: sempre que terminam os Jogos eu me faço uma promessa de começar a treinar alguma coisa que me leve à próxima edição, quatro anos depois. Mas com a idade chegando - convenhamos, em Pequim 2008 já vou estar com trinta aninhos - vejo minhas alternativas esportivas diminuírem a cada inverno, e sobrevivo apenas da doce lembrança do basquete estudantil. Mas meu espírito de luta e competição jamais esteve tão vivo: sábado, por exemplo, participei de contenda gastronômica em um dos mais saborosos rodízios de pizza da cidade. Sentados à mesa três dos mais toscos e medievais atletas da modalidade, legítimos representantes dos Meninos Porcos. E embora o evento tenha marcado a aposentadoria de uma lombriga que certamente deixará saudades - vá em paz, Isaltina, rezamos por você! - Bóris (meu já lendário e impiedoso estômago) não decepcionou, e levou-me ao empate técnico com o Gaulês no alto do pódio:14 pedaços cada um. O garçom Inácio desdenhou, dizendo que já servira glutões mais vorazes. Mas eu duvido: vi em seus olhos o espanto - o mesmo que assolou as juízas do embate, as Meninas Torpes. E por falar em meninas, é preciso voltar a Atenas, para a eleição da Musa dos Jogos Olímpicos (outra mania deste neurótico jornalista e quase-ator). A ginasta romena Catalina Ponor recebe menção honrosa por seu rosto exótico, mas ocorre indiscutível e irrefutável incompatibilidade anatômica entre a minha humilde estatura e qualquer mulher que beire um metro e sessenta. Eu gosto das altinhas, e isso não é segredo para ninguém. Assim sendo, a americana Kerri Walsh, ouro no vôlei de praia, reina também absoluta em meus sonhos atenienses. É linda, gostosa, e derrotou as vascaínas Behar e Shelda, dando mais um vice às cruzmaltinas. Kerri é o que há. Eu quero a Kerri pra mim.

E fica a pergunta: o que será que me atrai tanto em atletas loiraças acima do metro e oitenta que moram na Califórnia? Mistério...

28.8.04

Lendo sinais (ou só lá-lá)

Primeiro sinal: me avisaram para imprimir a filipeta na internet, mas fui incapaz de, navegando pelo site da festa, achar o tal panfleto.
Segundo sinal: o mesmo site dizia que a festa era uma produção da equipe Casa da Matriz. Tenho problemas sérios com a Casa da Matriz. Toda vez que eu entrava na Casa da Matriz, coisas estranhas aconteciam, e eu sempre via fantasmas. Não entro mais na casa da Matriz. Mas, enfim, a festa não era na Casa da Matriz, então pensei que tudo ficaria bem...
Terceiro sinal: expediente escuso - na falta de filipeta, liguei para a assessora de imprensa da festa. A colega jornalista me disse que tentaria colocar meu nome na porta. Quando cheguei na porta, meu nome não estava lá. Paguei entrada integral.
Quarto sinal: o lugar era um navio pirata - freqüentado apenas por marujos barbados e portentosos canhões prontos para atirar. Quase dava para sentir o cheiro de pólvora. Eu tinha me esquecido de como a Lapa concentra gente feia. Me perdoe quem gosta: a Lapa até tem um certo estilo Lato Sensu. Mas concentra gente feia.
Quinto sinal: O DJ prometeu Black Music. Tocou um James Brown, e depois entrou numa viagem completamente pessoal de procurar a batida perfeita. DJs devem fazer esse tipo de busca sonora no recesso de seus lares, jamais ao vivo. A procura da batida perfeita quase sempre provoca o tédio alheio. Tudo que o público (eu) quer(o) é um set bem amarradinho e dançante. Não rolou.
Sexto sinal: Decepcionada, a galera resolveu ir para... a Casa da Matriz!

Deu para entender a minha noite de sexta-feira?

Uma nota de agradecimento ao casal Lê e Lelê, lindos afilhados matrimoniais deste humilde porém indignado escriba, que encontraram a força necessária - mesmo compartilhando o fracasso da incursão noturna - para oferecer apoio moral contra a frustração. E me deixaram em casa bonitinho, com planos de uma noite de dança real para breve. Quem tem amigos não fica na pista. Obrigado, crianças.

27.8.04

Subproduto de cacau

Eu sei, eu sei... grande perda de tempo. Já não bastasse eu inventar o tal do blog, agora vou começar a dar bola também para esses testes fajutos de internet?! Seria postura incondizente com meu já ocupado e sempre urgente cotidiano. Mas é que me pegaram num (raro) momento de folga. E nunca um questionário dessa natureza deu tão certo: acertou até meu apelido de infância...

I am Chocolate flavoured.
I am sweet and a little bit naughty. I am one of the few clinically proven aphrodisiacs. Sometimes I can seem a little hard, but show warmth and I soon melt.
What flavor are you?

Tenho a dizer em minha defesa, meritíssimo, que hoje é sexta-feira!

25.8.04

Dramatis Persona

Finalmente chegaram as fotos de "Sonho de uma Noite de Verão". Para quem não teve a chance de ver ao vivo, quatro pequenas amostras de quatro noites absolutamente mágicas, começando pelo primeiro encontro de Oberon e Titânia nas florestas de Atenas: discórdia entre o Rei das Sombras e a Rainha das Fadas...

Oberon encanta Titânia, observado pelo séquito de Fadas Negras: good boys go to heaven, bad boys take acting classes.

Com Puck, observando o resultado de mais uma confusão arquitetada pelo amigo e mensageiro - e pensando que, da próxima vez, vai acabar transformando esse duende tresloucado em um carvalho seco...

Encerrando a série - e a peça - Oberon sorri para abençoar a noite de Atenas.

Outras fotos no meu álbum do Orkut, se eu tiver paciência de fazer o dramático upload...

22.8.04

Eu adoro meu lado nerd

Esta é para quem gosta de Role Playing Games. Foi-me enviada pela Aline, que (talvez não) por acaso é atriz, e afeita ao bom e velho RPG. Clique na imagem para ler melhor. Quem joga sabe...

21.8.04

The end of the world as we know it

Sábado, cinco e treze da manhã. O sujeito chega em casa de uma noite de sexta-feira regada a tequila, na companhia de colegas de trabalho. Ele dançou até cair - e acreditem, o sujeito dificilmente cai pelo álcool, então só pode mesmo ter sido de tanto dançar. Satisfeito com a chegada do fim de semana, ele abre uma garrafa de vinho, e senta-se ao computador. Na cabeça, um monte de idéias. Mas as mãos não obedecem lá muito bem... Sono ou álcool, lidar com o teclado mostra-se exercício mais difícil que o de costume. O cara, afinal, começou seu dia às sete e vinte da manhã. Teve boas, ótimas notícias. Suou a camisa no trabalho, pra dar bom fechamento às suas tarefas da semana. Suou a camisa na academia porque, what the hell, é viciado em endorfina, e ninguém tem nada com isso. Suou a camisa na boite, e agora até quer dormir, mas está tão adrenado que a mente não deixa. O cara está feliz: encontrou, perdida na noite, a irmã de um sujeito que foi um dos primeiros namorados de uma das suas melhores amigas nos tempos da pré-adolescência.... deu pra entender? Enfim, não importa. Menina gente boa, papo bacana, e sem maldade. Sem maldade, pessoas torpes de mente suja! Hoje o cara saiu para ver gente, dançar, e descançar a cabeça. Só isso. Mas é sempre legal encontrar alguém que você não vê há séculos. Nas últimas semanas isso já aconteceu duas vezes: uma graças ao Orkut, e essa graças ao acaso... Não faz diferença. O sujeito volta pra casa. Está feliz. Seu projeto paralelo está andando. Ele sente que algumas portas estão começando a se abrir. O cara abre uma garrafa de vinho pra acompanhá-lo ao computador, porque bater na cama sem escrever é algo simplesmente impensável, hipótese nula neste momento. E, convenhamos, uma garrafa de vinho é instrumento de charme. E charme é indispensável. Momento. Momento. Duas taças. O notívago liga o som: CD de um musical de Brecht. Ele precisa aprender as letras, mas está sem voz. Foda-se. Ele também não vai falar com ninguém agora. Cada um tem um segredo que precisa esconder/ Mackie tem uma navalha que ninguém consegue ver. Fim da segunda taça. Terceira taça. O sujeito é Mackie Messer, também conhecido como Mac Navalha. Vai ser protagonista no musical. Definitivamente, foi uma manhã de boas notícias. Notícias, Central Brasileira de - Até segunda! Balada do Cafetão... Muito apropriada. Ou não. Nunca, eu disse nunca, tequila e vinho combinaram tão bem. E lá se vai a velha história de que não se deve misturar destilados e fermentados. Euforia. O cara nem está assim tão bêbado, entendam: se estivesse, seria impossível teclar. Mas alcoolizado ele está. Definitivamente. E quem se importa?! Tocaram R.E.M. esta noite. Melhor show de todos os tempos, Rock in Rio. Tudo de bom. It's the end of the world as we know it. E saibam: se o mundo acabar agora... I feel fine.

19.8.04

De súbito

Nem estava planejando atualizar hoje, mas algo bem legal aconteceu. Estava eu em casa, no meu intervalo de almoço antes de ir para o trabalho. Como de costume, rádio ligado. Enquanto passava em revista os blogs dos amigos e checava mails, Seal começou a cantar Prayer for the Dying. Já ouvi a música mais de mil vezes, nada de novo nisso. Mas hoje a letra me pareceu absolutamente pertinente e precisa. Me falou de um monte de coisas. Não vou dizer "tem tudo a ver com o momento que estou vivendo". Um porque isso seria mariquinha demais. E dois porque - geminiano volúvel - meus momentos mudam a cada... bem, momento, na falta de uma palavra melhor. Mas hoje, no meu intervalo de almoço, eu ouvi uma música que me levou a refletir sobre tudo e nada, ainda que por breves instantes, antes que a magia acabasse. Como eu sei melhor do que acreditar que a magia possa acabar, sejam quais forem as circunstâncias, achei fantástica a experiência.

"I'm crossing that bridge with lessons I've learned
I'm playing with fire and not getting burned
I may not know what you're going through
But time is the space between me and you
There is a light through that window
Hold on say yes, while people say no
(...)
'Cause life goes on
When nothing else matters"

- Seal, Prayer for the Dying

18.8.04

Para aliviar

Tá, Tá... então a fotógrafa não apareceu com as fotos. Isso já me deixou frustrado o suficiente. Quem sabe amanhã, ou não. Posto assim que receber, já estou irritado.

Piano bar no terraço de um hotel de luxo. Um yuppie bêbado se aproxima de um engravatado:
- Você sabia que esse hotel tem uma corrente de ar na altura do décimo-sexto andar que joga pra cima qualquer um que esteja caindo?
O terno, depois de um dia cansativo de reuniões, quer apenas tomar seu scotch em paz. Despacha o bebum:
- Por favor, meu amigo, onde já se viu isso?!
O torto insiste, e diz que vai provar. Cambaleia até a janela mais próxima e, antes que alguém possa agir para detê-lo, joga-se. O bar inteiro se coloca atento a sua queda.
...Vigésimo andar, décimo-nono, décimo-oitavo, décimo-sétimo, décimo-sexto, e miraculosamente o bêbado inicia uma trajetória ascendente, vindo a cair, prostrado, à beira da mesma janela de onde havia pulado. Euforia. O ébrio, rindo, exalando suores e hálito etílicos, dá um tapa desconfortavelmente forte no ombro do engravatado:
- Num ti falei, rapaixxxxx!!! - e arrota pina colada com blood mary, com boas doses de tequila.
Empolgado, o outro tira o paletó:
- Vou pular! Vou pular! - e pula.
...Vigésimo andar, décimo-nono, décimo-oitavo, décimo-sétimo, décimo-sexto, décimo-quinto, décimo-quarto, e lá se vai o sujeito. Segundos depois, ele é apenas uma massa disforme na calçada.
Um garçom puxa o bêbado pelo pescoço:
- Porra, super-homem, você quando bebe fica mau para caralho!!!

16.8.04

Tabula rasa

A frase é mais batida que face esquerda de mulher de malandro, mas nada define tão pontualmente bem o meu momento atual quanto um sonoríssimo "Eu odeio segunda-feira!". Nada de depressivo nisso, não me compreendam mal: o final de semana foi absolutamente sensacional, desde a festa de sexta à noite até o basquete de domingo. Tudo perfeito. Mas agora, o choque de realidade: tenho cinco dias úteis para fechar uma série (vejam, eu não disse uma, mas uma série) de reportagens especiais sobre as finanças do município. Assunto que não domino, e a parte da necessidade profissional, não me desperta o mínimo interesse - e não estou nem aí se vão me chamar de alienado. Nada de idéias criativas hoje para o Letras Mortas, porque minha preocupação está beirando a histeria. Se tudo der certo, pego amanhã - finalmente! - as fotos do Sonho de uma Noite de Verão, e faço por aqui a exposição da minha seminua figura dramática.
Eu odeio segunda-feira!

13.8.04

Solteiro no Rio de Janeiro

Fasa edits boot engine in command.com:
current status: single and sad (erase)

!!!SYSTEM MALFUNCTION!!!
...launching support wizard
night warrior application is now debugging
night warrior application is now running

dancing software updated
upload sussuros_ao_pe_do_ouvido ver. 2.6 by Fasa Audio Designs
sussuros_ao_pe_do_ouvido ver. 2.6 succesfully installed
/insert fueled_zippo_lighter in side pocket: fire mode is now hot
select interface template - crazy samurai/silent sniper: SS

(you may change these settings later in the OPTIONS menu)
/search mode on

save changes and exit? y/n: Y
.
.
.
The hunting season is now open.

E já não era sem tempo.

10.8.04

A Vitória da Gaivota

Não te vanglories sobre mim até que (eu) esteja morto.
Ao bradar sobre meu corpo teu triunfo violento,
Esteja atento a meu último movimento
Que vai usurpar-te o frágil, débil porto
Em que atracavas certo de meu não-cadáver.

E alçarei daí vôos tais de galhardia,
Que tua vista, embaçada de surpresa,
Julgará mágicos, heréticos e incríveis.
- A ti revelarão, de mim, a natureza:
Irredutível e inclemente, sem farsas e covardias.

Em provar-te, destarte, ascendida minha arte
Vou consumir-te em chamas de orgulho e ira;
E perceberás, já tarde na história,
Que inerte outrora, meu clamor já vibra
Rasgando tua vitória
Com a fúria da minha lira.

E tua mão resultará inútil
E teu gesto ensejará o nada
E teus olhos só verão o escuro
E tua boca quedará calada.

E se ao fim do dia, de cinzas eu manchar o verde prado,
A certeza ao inferno descerá contigo:

Sobre mim, a louvação do bravo;
Jamais a ignomínia do inimigo!

Hmmm... só uma brincadeira boba com o teclado enquanto estudo um texto. Título explícita e intencionalmente Tchekoviano: estive relendo "A Gaivota" recentemente. Espero que o russo não se revire no túmulo. Mas até que não ficou tão ruim.

9.8.04

O próximo passo

Já está definida a próxima incursão deste jovem ator em formação pelas sendas dramáticas: o espetáculo tem nome provisório de "Ensaio de Ópera", e é uma versão crua e livre de "A Ópera dos Três Vinténs", de Bertolt Brecht - que, para quem não sabe, foi a fonte na qual bebeu Chico para escrever "A Ópera do Malandro". A idéia da direção (entregue às mãos de Adriano Garib) é apresentar não o resultado, mas o processo, de forma que as encenações fiquem mesmo com cara de ensaios abertos. Vai ser uma luta contra o tempo e as (im)possibilidades técnicas, mas estou animado. É sempre assim no início de qualquer jornada. Dois meses é o que temos. E dois meses hão de ser o bastante. Merda!

7.8.04

A dor (?) que sente um amigo

A noite de sábado perdeu um pouco da graça, e eu acho que fiquei um pouco mais adulto, ou velho, sei lá. Voltando de um churrasco, recebi a notícia de que uma amiga, que já estava com pai desenganado, está com a mãe no CTI desde o início da semana. "Você jamais acreditaria que um raio pudesse cair duas vezes no mesmo lugar em tão pouco tempo" - ela me disse. Caiu. Tive perdas próximas e sérias na família quando criança, e a passagem de pessoas não me é estranha. Na minha linha de trabalho, você lida com isso até mais do que seria recomendável para a sanidade de um ser humano pretensamente normal. Mas nem o distanciamento profissional nem as perdas da infância me prepararam para o aperto no coração que senti quando recebi a notícia sobre os pais da Caloura de Olhos Verdes. Acho que, em um súbito momento, entendi o real significado da palavra "solidariedade". Nada de pena, compaixão, ou coisa do gênero. Apenas uma vontade de estar perto, de consolar, de acarinhar, de dizer "conta comigo". O possível foi fazer isso pelo telefone: o pai estava para chegar em casa do hospital. Os irmãos, distantes, estavam reunidos, e devem tentar, neste domingo, passar o dia dos pais da melhor maneira possível, curtindo o velho. Eu vou passar o dia dos pais sozinho. Darei um abraço apertado na minha mãe e, quem sabe, reunirei coragem para ser sensível, agradecendo-lhe por tudo e dizendo que a amo - há tempos não faço isso, acho que ela vai gostar. Depois talvez saia para jogar um basquete. Posso também chamar uma amiga bonita para ir ao cinema. Vou dar jeito de fazer alguma coisa "de homem". Meu pai se orgulharia disso. De noite, vou lembrar dele e, embora já não acredite tanto em rezas feitas, vou orar do meu jeito. Assim costuma ser meu dia dos pais há anos. E, pra falar a verdade, não dói. Quero muito que o da pequena também não doa. Que ela possa curtir muito, mas muito, o que - não gosto nem pensar, mas assim é a vida - pode ser o último que ela passa com o pai nesse plano. É curioso essa coisa de solidariedade e amizade entre... adultos (?) - você quase sente medo pelo que pode acontecer com outra pessoa... Sei lá. Aliás, tudo deve mesmo ser diferente depois que a gente cresce, mas até agora eu só tinha experimentado as festas de casamento. Letras Mortas está um pouco mais triste essa noite, e torcendo muito para não ficar de luto. E não importa o nome pelo qual você chama o Grande Arquiteto, ou as Forças de Regência: ore pela Menina Red Bull, porque ela não merece nunca, mas nunca, perder o sorriso - ou as asas.