30.12.10

Atividade na laje

Em 2011, desejo que você...
Aumente a paz. Dentro, fora, e ao seu redor. Porque parece que vamos ter problemas entre as Coréias, o Oriente Médio continua o mesmo e a pacificação das favelas do Rio ainda vai dar pano pra manga. O mundo lá fora já está armado até os dentes. Nós não precisamos contribuir para isso.
Alcance o equilíbrio. Porque o taxímetro da vida louca nunca pára, e a humanidade segue caminhando rumo à contaminação terminal da água, terra e ar. Esse tal de equilíbrio não está à venda no E-bay e você vai ter que se virar para conseguir por si mesmo. Então consiga! – E depois me envie a receita.
Encontre o amor. Porque, afinal, quem gosta de cama fria é esquimó. Nos mares do norte (onde a água é bem gelada, por sinal) até as baleias beluga estão cruzando com narvais por falta de parceiros da mesma espécie. Todos nós queremos, precisamos e merecemos alguém que nos sorria e dê a mão. Alguém para dividir as manhãs de sol, as tardes de chuva e as noites de ventania. Pode ser pra sempre, pode ser por um Carnaval - Encontre o amor.
Cuide da amizade. Porque José Padilha nos mostrou em 2010 que, quando o bicho pega às três da manhã, até o Capitão Nascimento pede reforço para enfrentar o sistema. Não é vergonha. Na verdade, é mérito.
Explore o tesão. E deixe de pensar besteira, que eu já mencionei as baleias beluga taradas lá em cima. Estou falando do tesão em viver, de sonhar e realizar projetos, de ter boas ambições e lutar por elas, de não se contentar só com o que a vida oferece. Porque às vezes é pouco. E a gente acaba se acomodando sem perceber. Acorde!
Veja o que há para se ver. Porque o mundo e as pessoas estão aí, repletos de cores mil, tons de cinza e entrelinhas. E se você se convencer cedo demais de que é - ou os outros são - apenas o flamenguista, a mangueirense, a boa ou má pessoa, o solitário, a mãe solteira, a esposa exemplar, o garanhão, a piriguete, ou qualquer outro arquétipo à sua escolha, vai começar a enxergar tudo em preto e branco - e perder a deliciosa graça de ser todas as opções acima, ou apenas as que quiser ser, se e quando tiver vontade.
Aprenda a dançar. Só isso. Ou dance mesmo sem saber. Porque dançar é bom pra caralho. E vai te fazer bem. Neste quesito, uma nota só para os rapazes: quando vocês estiverem dançando, podem mexer o quadril - elas gostam.
Incremente com trabalho honesto e juros compostos o saldo da sua conta bancária. Porque, convenhamos, dinheiro não traz felicidade, mas sofrer em Paris já é um bom começo.
Quebre as regras. Não sempre – mas só de vez em quando permita-se experimentar o milenar e irredutível poder libertador de um bem aplicado “FODA-SE!”
Em letras miúdas, atente para que seu “FODA-SE!” não tenha implicações legais no Código Penal. Ou ao menos evite o flagrante.
Corte os teores de gordura trans e hipocrisia. As duas fazem muito mal e não exagerar no consumo só depende você. A propósito: tudo bem se o seu santo não bate com o de outra pessoa – ninguém é obrigado a gostar de todo mundo e tomar o partido do bem-querer o tempo todo. Raiva, menosprezo, ódio... tudo isso faz parte do jogo. Só cuide para não exagerar, ou vão te roer por dentro. E lembre-se de que aquilo que você projeta para o mundo volta para você. Karma – it’s a real bitch.
Permita o encontro. Porque no meio desse caos de Coréias, UPPs, danças, “foda-ses” e Karma, tem muita gente legal esperando para te dizer exatamente o que você precisa ouvir, e te dar o que você precisa receber. E essas pessoas podem já estar do seu lado, só você não viu.
Diga e ouça “desculpas”, “por favor” e “obrigado”, com autenticidade de propósito. A gente é capaz de passar batido com incrível facilidade por palavras e gestos de agradecimento e perdão, sem pensar no efeito que isso pode ter no outro. E o resultado desse descuido é quase sempre negativo, quando a porra de um torpedinho talvez bastasse. É infantil não agradecer, é burrice não reconhecer os próprios erros. Deixa eu dizer isso de novo: É infantil não agradecer, é burrice não reconhecer os próprios erros. Entendeu? Pois é.
Tenha Coragem e Força, Candura e Fé. Tudo com letras maiúsculas. Porque às vezes é preciso mesmo injetar sangue no olhar e partir pra dentro, parceiro(a), já que nada é de graça. Mas há também momentos em que vale admitir que certas coisas estão simplesmente fora do nosso controle, e aceitar que a Roda gira independentemente da nossa nobre e importante anuência. Ajuda exercitar um pouco de inteligência e perspicácia para distinguir uma situação da outra e escolher bem as lutas que se quer lutar.
Por fim, desejo para mim tudo isso que acabei de desejar a você, já sabendo que vou vacilar e precisar de ajuda de vez em quando. É bem possível que em algum momento ao longo dos próximos 12 meses – ou 80 anos – seja preciso me lembrar justamente das coisas que acabei de escrever aqui. Se couber a você esta tarefa, agradeço desde já sua paciência e compreensão. E em última nota, mas certamente não menos importante, quero que em 2011 a gente se encontre mais. Mas se encontre mesmo. Sabe aquela conversa de “permitir o encontro”? – É isso. Espero que você não suma. Mas se tiver que sumir, que seja pelos motivos certos. E se assim for, caminhe reto e firme.
Aumentando a Paz.
...Ainda que seja prudente manter a pólvora seca.
Até 2011!

27.11.10

Fado Tropical

Aí... quando você acha que já ouviu tudo de Chico, descobre mais uma pérola que não conhecia. Gênio.

Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo (além da sífilis, claro)
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar,trucidar
Meu coração fecha aos olhos e sinceramente chora...

Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto

Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intencão e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadura à proa
Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa.

11.11.10

Pequena carta aos que gastam sola de sapato fazendo Jornalismo

O que o genial Geneton Moraes neto gostaria de ter dito ao receber o prêmio Embratel de telejornalismo, mas acabou não dizendo, e publicou depois no blog do Dossiê Geral (http://g1.globo.com/platb/geneton/). Eu achei ótimo e estou reproduzindo aqui. Vale para mim, todo dia ao acordar. Vale para todos nós dessa estranha raça de contadores de histórias, e vale também para aqueles que nos são próximos ou gostariam de nos entender um pouco mais e melhor...
“Toda atividade – seja qual for – precisa de um lema, uma bandeira, um slogan. O meu poderia ser qualquer outro, mas é : “Fazer jornalismo é produzir memória”. O jornalismo pode ser útil, então. Pode jogar luzes sobre o passado. Por que não?
É preciso ter convicção. Pois bem: posso estar errado, mas acredito que fazer jornalismo é olhar o mundo, os fatos, os personagens e as histórias com os olhos de uma criança que estivesse vendo tudo pela primeira vez; somente assim, o Jornalismo será vívido, interessante, inquieto – não este monstro burocrático, chato e cinzento que nos assusta tanto.
Fazer Jornalismo é saber que existirá sempre uma maneira atraente de contar o que se viu e ouviu; fazer Jornalismo é ter a certeza de que não existe assunto esgotado. Há fatos a explicar sobre 1964, por exemplo; tudo pode ser revirado: a crucificação de Jesus Cristo merece ser investigada. Por que não ? Jornalista não pode se deixar vencer pelo tédio destruidor – nunca!
Se um estreante perguntasse, eu diria: deixe o tédio em casa. Traga a vida das ruas pra redação. Porque, em noventa e oito por cento dos casos, o que a gente vê na vida real é mais colorido e mais arrebatador do que o que se publica nos jornais ou o que se vê na TV. Diria também: não faça jornalismo para jornalista. Faça para o público!
Fazer jornalismo é não praticar nunca, jamais, sob hipótese alguma, a patrulhagem ideológica. Ponto. Um general – seja quem for – deve ser ouvido com tanta atenção quanto o mais renitente dos guerrilheiros. Lugar de votar é na urna. Não é na redação (eu disse ao general Newton Cruz: não quero parecer bom moço, jornalista vive procurando escândalo e declarações bombásticas, mas, como personagem jornalístico, o senhor me interessa tanto quanto Luís Carlos Prestes, a quem, aliás, entrevistei algumas vezes).
Por fim: fazer jornalismo é desconfiar, sempre, sempre e sempre. A lição de um editor inglês vale para todos: toda vez que estiver ouvindo um personagem – seja ele um delegado de polícia, um praticante de ioga ou um astro da música – pergunte sempre a si mesmo, intimamente : por que será que estes bastardos estão mentindo para mim?
Não existe pergunta melhor”.

27.10.10

Muita Luz

...Pra mim, pra você, para todos os envolvidos nessa folhetinesca história que tanta alegria trouxe, e tanta dor me causa agora. Eu só desejo o seu bem, sempre foi assim. E agora quero força pra juntar meus cacos, cuidar de mim e dos que são meus. Se bem que, agora, ando precisando que cuidem um pouco da minha pessoa também. Cansei. Estou quebrado, arrebentado. Estou sem chão na estrada. Entrego os pontos. Luz pra nós. Bandeira branca. Até mais. Conta comigo na caminhada. Ou não. Agora não sei.
...Bagunçou tudo, agora.
Alguém, por favor, acende o farol na costa. Odoyá, minha Mãe, acalma as águas no meu peito, que eu não quero tempo de tempestade pra machucar mais ninguém. A começar por mim. Ogum, meu pai, apaziguai. Por favor, apaziguai.

26.10.10

Servidão voluntária

Instigado por um artigo publicado hoje em O Globo, revisitei Étienne de La Boétie. O humanista e filósofo francês do século XVI permanece atualíssimo, especialmente no tempo da pseudo-democracia. O nosso tempo:
“Como é possível que tantos homens, tantas nações se submetam à vontade de um senhor sem que força alguma os obrigue a isso? Como explicar que o tirano, cujo corpo é igual ao nosso, consiga crescer tanto, com mil olhos e mil ouvidos para nos espionar; mil bocas para nos enganar; mil mãos para nos esganar; mil pés para nos pisotear? Quem lhe deu os olhos e ouvidos dos espiões, as bocas dos magistrados, as mãos e os pés dos soldados?
...
A tirania existe e persiste não porque somos obrigados a obedecer ao tirano e aos seus representantes, mas desejamos voluntariamente serví-los porque deles esperamos bens e a garantia de nossas posses.”
Permaneço utopicamente anarquista. Na vida real, ainda não achei forma ou sistema de governo que me convença. Mas há de haver. Só não é isso que está aí...

24.9.10

Um elefante não esquece...

Um colega de trabalho me enviou por e-mail... Não sei quem é o autor, mas o texto tocou o fundo de minh' alma pela sabedoria e leveza:
Em 1989, Peter Davies estava de férias no Kenia, após graduar-se na Northwestern University. Em uma caminhada pela savana, deparou-se com um bebê elefante que estava com uma pata levantada, e que havia sido abandonado pela mãe e sua manada, por não poder mais caminhar.
Peter se aproximou muito cuidadosamente do pequeno elefante, que estava furioso e estressado. O viajante ficou de joelhos, examinou a pata do elefante e encontrou um grande pedaço de madeira enfiado na sola da pata.
O mais cuidadosa e gentilmente possível, Peter removeu com a sua faca o pedaço de madeira. Neste momento o elefante, vagarosamente, colocou sua pata no chão e fixou seu olhar diretamente nos olhos do turista por tensos e longos segundos, que mais pareceram horas... Peter ficou congelado, pensando que seria atacado. Depois de um certo tempo o elefante fez um barulho bem alto com a tromba, virou-se e foi embora, provavelmente em busca de sua mãe e da manada.
Peter nunca esqueceu o elefante e a incrível experiência daquele dia.
Vinte anos depois, mais precisamente em 23 de maio de 2009, Peter estava passeando pelo zoológico de Chicago com seu filho adolescente quando viu a jaula dos elefantes. Uma das criaturas se virou e caminhou para um local próximo ao homem e seu filho, Cameron, de apenas 15 anos. O majestoso animal encarou Peter e, como há 20 anos atrás, levantou sua pata do chão e a abaixou por várias vezes, emitindo altos sons enquanto o fitava. Todos ao redor correram em desespero, pois imaginaram que a forte e poderosa besta pudesse romper as grades e atacá-los.
....Mas não Peter, que segurou seu filho pela mão para que não ficasse com medo. Relembrando o encontro de 1989 e reunindo toda a sua força e coragem, ele escalou a alta grade e entrou na jaula. Andou até o elefante e o encarou diretamente nos olhos, como que retribuindo o gesto de comunhão daquele marcante momento na savana. O elefante emitiu um som alto, Peter sorriu e abraçou-o com a ternura que um pai abraça o filho.
Foi neste momento que o elefante enrolou sua tromba na perna de Peter e o jogou a aproximadamente 8 metros de distância, diretamente contra a grade de ferro, para depois pisoteá-lo violentamente até a morte.
...
...
...
Não era o mesmo elefante e o Peter se fodeu!

9.9.10

O Leão, o Camelo e a Criança

Com todo respeito a Freud, Jung e sua turma... Nietzche. Sempre Nietzche.
"Vou dizer-vos as três metamorfoses do espírito: como o espírito se muda em camelo, e o camelo em leão, e o leão, finalmente, em criança.
Há muitas coisas que parecem pesadas ao espírito, ao espírito robusto e paciente, e todo imbuído de respeito. A sua força reclama fardos pesados, os mais pesados que existam no mundo. 'O que há de mais pesado para transportar?' — pergunta o espírito transformado em besta de carga, e ajoelha-se como o camelo que pede que o carreguem bem. 'Qual é a tarefa mais pesada, heróis? — pergunta o espírito transformado em besta de carga – a fim de a assumir, de a gozar com minha força?’
‘Não será rebaixarmo-nos, para o nosso orgulho padecer? Deixar refulgir a nossa loucura para zombarmos da nossa sensatez? Não será abandonarmos uma causa triunfante? Escalar altas montanhas a fim de tentar o Tentador? Não será sustentarmo-nos com bolotas e erva do conhecimento, e obrigar a alma a jejuar por amor da verdade? – Ou será estar enfermo e despedir os consoladores e estabelecer amizade com os surdos que nunca ouvem o que queremos? Ou ainda, será submergirmo-nos numa água lodosa, se esta é a água da verdade, e não afastarmos de nós as frias rãs e os pegajosos sapos? Ou será amar os que nos desprezam e estender a mão ao fantasma que nos procura assustar?’
...O espírito transformado em besta de carga toma sobre si todos estes pesados fardos. E como o camelo carregado que se apressa a ganhar o deserto, assim ele se apressa em ganhar o seu deserto. E aí, naquela extrema solidão, produz-se a segunda metamorfose: o espírito torna-se leão. Entende conquistar a sua liberdade e ser o rei do seu próprio deserto.
Procura então o seu último senhor – e será inimigo deste último senhor e de seu último Deus; quer lutar com o grande dragão e vencê-lo.
Qual é este grande dragão a que o espírito já não quer chamar nem senhor, nem Deus? O nome do grande dragão é 'Tu deves'. Mas o espírito do leão diz: 'Eu quero.'
O 'Tu deves' impede-lhe o caminho, rebrilhante de ouro, coberto de escamas; e em cada uma das suas escamas brilham em letras de ouro estas palavras: 'Tu deves.' Valores milenares brilham nessas escamas, e o mais poderoso de todos os dragões fala assim: 'Em mim brilha o valor de todas as coisas. Todos os valores foram já criados no passado, e eu sou a soma de todos os valores criados.' Na verdade, para o futuro não deve existir o 'eu quero'. Assim fala o dragão.
Meus irmãos, para que serve o leão do espírito? Não bastará o animal paciente, resignado e respeitador?
Criar valores novos é coisa para que o próprio leão não está apto, mas libertar-se a fim de abrir passagem para tais valores novos, eis o que pode fazer a força do leão: para conquistar sua própria liberdade e o direito sagrado de dizer ‘não’ - mesmo ao dever - para isso, meus irmãos, é preciso ser leão.
Conquistar o direito a valores novos é a tarefa mais temível para um espírito paciente e laborioso. Ele por certo vê nisso um ato de assalto e rapina. O que ele amava outrora, como bem mais sagrado, é o 'Tu deves'. Precisa agora descobrir a ilusão e o arbitrário mesmo no fundo do que há de mais sagrado no mundo, a fim de conquistar depois de um rude combate o direito de se libertar deste laço. Para cometer tal violência, é preciso ser leão.
Dizei-me, porém, irmãos, que poderá fazer a criança, de que o próprio leão tenha sido incapaz? Para que será preciso que o altivo leão tenha de se mudar ainda em criança?
- É que a criança é inocência e esquecimento; um novo começar, um brinquedo, uma Roda que gira por si própria, o primeiro motor, a santa afirmação.
Na verdade, irmãos, para jogar o jogo dos criadores é preciso ser um verbo santo. O espírito quer agora a sua própria vontade. Tendo perdido o mundo, conquista seu próprio mundo.
Disse-vos as três metamorfoses do espírito: como o espírito se mudou em camelo, o camelo em leão, e finalmente o leão em criança.
Assim falava Zaratustra (...)"

24.8.10

Pérolas aos porcos

...E tem também aqueles dias (na verdade, fases) em que você começa a pensar que só tem mesmo uns três ou quatro amigos de verdade, pessoas com quem de fato pode contar, e que na realidade há um monte de gente à sua volta que se importa apenas em se aproveitar; roubar um pouco do seu brilho por ocasião. E a conclusão de que você dedicou (boa) parte do seu tempo nos últimos anos a relações que ora se resumem a sorrisos amarelos e silêncios, justamente quando você esperava se ver amparado, é um tiro. Gente que tomou partido sem ouvir, pessoas que se dizem muito abertas e descoladas mas que no fundo, você imagina, devem estar te julgando à revelia, exercendo o pré-conceito através da ausência. Que decepção. Que merda, isso. Que raiva. Que prejuízo.
Sorte ainda haver lá fora as gratas surpresas. Ombros e mãos amigas, olhares apenas, vozes ou toques gentis, que surgem de onde menos se espera. A essas almas samaritanas, agora tão mais queridas, obrigado!
E aos amigos e irmãos de sempre, tão seletos, presenças constantes na caminhada: amo vocês.
Ad astra trans aspera per alia fideles.

14.8.10

Estado Civil: Desinteressado

...E mais nada. É isso que temos por hoje. O ser humano deveria ser uma ostra, e eu tenho uma baita preguiça de começar tudo de novo.

4.8.10

Oh, really?

O que eu pago em neurose acumulada pela posição que ocupo vem, em boa parte, das oportunidades perdidas de exercitar meu sarcasmo bilial em resposta à estupidez ou ingenuidade alheia. Sem dar o nome do santo, vejamos uma mensagem que apareceu hoje em minha caixa postal:
Olá, Glauco, Não nos conhecemos, eu sou o tal turista brasileiro e isso ainda não virou notícia. Não há cópias ocultas, também.
Eu também sou jornalista (...) Eu anexei um recibo de suspeito que recebi no aeroporto de Londres, pq eu fotografei as instalações do Aeroporto. Juro que , essa placa, eu não vi, se vc já passou por lá, deve ter percebido que o que mais tem nas ruas da cidade, além de gente, é placa ! eu sou brasileiro, eu não desisto nunca, mas às vezes , passa uma ou outra...não é a minha terra.
Fiquei realmente preocupado porque minha filha de quinze anos passou por tudo isso, minha esposa, que não fala inglês, e ficamos na iminência de perder o vôo, com conexão em Lisboa. Os oficiais do Mi-6 foram legais, pode anotar isso aí, mas o efeito Jean Charles passou pela minha cabeça. Foi bem desagradável, nada inglês. era evidente que eu era turista, duas perguntas bastavam, ainda apagaram as fotos.
E ficou aquela idéia terrível: minha filha é aluna do CAPES - UFRJ, currículo ímpar, está decidida a estudar medicina, talvez em Londres, pagando, veja bem, anota isso também, não estou pedindo nem negociando nada. Mas será que tem lista negra ? Quando ela pedir o visto, daqui há dois anos ou três ? O nome, passaporte, tudo foi anotado, checado pelo rádio, rechecado, foi um tormento, depois de 15 dias de viagem pela Europa, que infelizmente, não é mais uma social-democracia, como sempre admirei, de longe.
Os empíricos estavam certos, viver é experimentar. Meus cumprimentos à sua Majestade e seu Cônsul, os ingleses fizeram um bom uso do ouro das Minas Gerais.
Minha resposta:
Prezado XXX,
Obrigado por sua mensagem. Desconheço as reais circunstâncias da abordagem feita a V. Sa. e sua família, mas de pronto posso dizer que sinto muito pelas fotos perdidas. De fato, se agentes perceberam ou pensaram que as imagens registravam qualquer tipo de procedimento ou funcionários de segurança aeroportuária, seria de se esperar uma intervenção. Agradeço seu registro de que, no mais, a conduta dos agentes foi cortês e eficaz.
Atenciosamente,
Glauco Paiva
O que eu gostaria de ter escrito, mas não pude por dever de ofício:
...Puuuuxa, vida, mas que pena! Seria por demais leviano supor que talvez, apenas talvez, você ou alguém da sua família tenha despertado a atenção dos agentes de segurança por apontar sua câmera para funcionários ou procedimentos alfandegários? Se foi este caso, meu amigo, dê graças a Deus por isso ter acontecido na Europa - em qualquer outro lugar do mundo em que o terrorismo é uma preocupação real, você e sua família muito provavelmente teriam perdido não apenas a câmera (e não somente as fotos), mas também o vôo - detidos que ficariam em procedimentos de averiguação. Na próxima, pense só um pouco antes de apontar sua lente dentro de um aeroporto! E não me venha com essa de "obviamente turistas" - os mesmos sujeitos que poderiam tomar seu avião para arremessá-lo contra um prédio também embarcariam se fazendo passar por "obviamente turistas". Ou você acha que eles se declaram no balcão de check-in? "Errr, ahnn... com licença, eu na verdade tenho uma bomba, mas será que você poderia me deixar embarcar, já que estou obviamente bem disfarçado de turista?"
"Efeito Jean Charles" é o escambau, companheiro. Se isso fosse real, você estaria morto, e não tomando o meu tempo depois do que, ao que tudo indica, foi uma abordagem policial cortês e eficiente. Sem querer criar polêmica, culpar a vítima ou fazer a linha reacionária, mas sejamos realistas: Jean Charles morreu porque correu da polícia num dia em que bombas (no plural) estavam explodindo em Londres. Não fosse a iminência - ou melhor, Eminência - de sucessivos ataques terroristas, é provável que os policiais não tivessem atirado. Ainda diante das circunstâncias, talvez não o tivessem feito se o brasileiro não tivesse confundido a plataforma do metrô com uma raia de corrida. Então... passa amanhã com o seu "efeito Jean Charles", que isso é uma afronta ao bom senso. Ali, no lugar dos agentes, qualquer um atiraria - não só na intenção de salvar os outros passageiros, mas também para SE salvar, porque aquele homem correndo bem poderia ter uma bomba. Alguém atirou em você? Alguém sequer lhe ameaçou? Coagiu? Sacou uma arma no saguão do aeroporto de Heathrow? - Se não, viola no saco e vida que segue.
Finalmente, o que me importa o currículo da sua filha? E se o amigo está tão decepcionado com a Europa, que diferença faz para você esse mito de "lista negra" para emissão de vistos? Deveria mandá-la cursar medicina em Cuba. Ouvi dizer que, se é mesmo fato que a social-democracia européia caminha para a falência (assim entendo seu relato), o governo da ilha, ao contrário, recebe a todos de braços abertos e jamais, jamais usa força ou avança sobre diretos civis, mesmo em situações de exceção. Eles formam ótimos médicos e tenho certeza de que você, esposa e sua jovem doutora poderão tirar quantas fotos quiserem dos procedimentos e áreas sensíveis do aeroporto, sem qualquer problema.
Finalmente, coleguinha, acho que moramos em lugares diferentes. Lá de onde eu venho, policiais de elite atiram em trabalhadores por confundir uma furadeira com pistola automática, e quando o sujeito está no erro corre sério risco de levar umas boas porradas, ou pior. E não tem essa de Stop and Account Record, ou "recido de suspeito" como você diz. Documento atestando quando e onde você foi abordado, com assinatura do policial em questão e instruções sobre como proceder caso queria se queixar de qualquer procedimento?! - Onde eu moro não tem isso. Nem para propina os homens de farda dão contra-prova. Você diz que mora no Brasil, mas para me sair com essa sobre a polícia de Londres, deve mesmo viver na Suíça...
Ah, sim, quanto ao ouro das Minas Gerais: este os ingleses levaram mesmo. Você pode encaminhar sua reclamação à embaixada de Portugal. Eu, particularmente, estou mais preocupado com o ouro que os nossos políticos, bem brasileiros, estão colocando no bolso hoje.
Cordial abraço, tenha uma boa vida.

3.8.10

Undisclosed Desires

Tocando sem parar no meu player, ao lado de Sweetest Taboo (na ótima versão da francesa Krysstal com o rapper Lil Chain). Quando fui buscar a letra, vi comentários de que faz parte da trilha sonora de - Argh!! - Crepúsculo. Mas não importa. Posso fingir que não sei. A música é muito boa, e o clipe melhor ainda...

28.7.10

Dois anos para Londres 2012

Artigo assinado pelo cônsul geral britânico, Tim Flear, publicado no Globo Online em 27/07/2010:
Brasil e Reino Unido têm uma razão especial para celebrar o dia 27 de julho. Nós estamos a apenas dois anos da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres 2012. É um grande momento para as duas nações. Sabemos que os holofotes de todo o mundo estarão voltados para o Reino Unido, mas uma vez terminados os Jogos de Londres, vamos passar o bastão para o Rio e estaremos de olho em 2016.
O projeto Olímpico de Londres foi abraçado com entusiasmo pelo povo britânico. Nós queremos compartilhar essa experiência com todos e o Brasil é – de forma facilmente compreensível – um de nossos principais parceiros. Estamos ansiosos por mostrar como a moderna Grã-Bretanha torce, vive, sente e age.
Nossa sociedade multicultural é uma marcante característica britânica. Trata-se um país altamente cosmopolita. Por isso, atletas de mais de 50 nacionalidades que competirão em 2012 serão saudados por comunidades locais de seus países de origem: homens e mulheres de todo o planeta que vivem no Reino Unido. Essa diversidade assegura uma longa e duradoura tradição de descobertas e criatividade. Milhares de brasileiros que trabalham e estudam no Reino Unido são a prova viva disso.
Inovação é a palavra chave para a realização dos Jogos, e Londres está trabalhando duro nesse sentido. O Parque Olímpico, por exemplo, se propõe a oferecer um modelo de vida sustentável. A área será transformada no maior parque urbano da Europa. Além disso, toda a área de East London está sendo revitalizada como parte de nosso projeto Olímpico. Este é um legado que perdurará por décadas, muito após o término das Olimpíadas.
No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes pretende usar os Jogos de 2016 como plataforma para a renovação da zona portuária e outras regiões da cidade. Isso só pode resultar em mais negócios e investimentos. Em 2016, as milhares de pessoas que vierem ao Rio para assistir às competições Olímpicas irão ver e experimentar em primeira mão o que os moradores daqui já sabem: que esta cidade tem muito mais do que lindas praias e paisagens. É uma agitada metrópole com capacidade sem igual de reunir negócios e entretenimento, uma combinação perfeita para o maior evento esportivo do mundo.
Do outro lado do Atlântico, nós prometemos, como parte de nosso plano para sediar as Olimpíadas, fazer de 2012 mais do que um grande espetáculo, mais do que seis semanas de esporte e mais do que apenas Londres. E estamos realizando isso. Os Jogos já dão mostras de um impacto real e positivo em cada aspecto da vida britânica; da cultura à saúde, da educação ao meio ambiente e da economia às comunidades locais.
Brasil e Reino Unido compartilham um mundo de coisas em comum e nós vamos seguir trabalhando duro para dar continuidade à robusta e frutífera parceria entre nossos países. E não nos esqueçamos que a Inglaterra é candidata a sediar a Copa do Mundo de 2018! Ao marcarmos em nosso calendário o dia 27 de julho como os dois anos para Londres 2012, eu quero celebrar essa oportunidade sem precedentes à nossa frente: podemos estar diante de uma década de esportes entre Brasil e Reino Unido. Este é o nosso momento. Esta é a nossa hora. E o mundo todo está convidado.

8.4.10

Dan Brown não tem nada com isso

Em 03 de abril, o colunista João Ximenes Braga publicou acintoso ataque ao Colégio de São Bento no caderno Ela do jornal O Globo. Minha réplica:
Prezado João,
Sinto muitíssimo pelo seu relato em coluna publicada no caderno Ela do jornal O Globo em 03 de abril. Sinto por você e por sua visão de mundo, que o impede de espantar-se com a sucessão de escândalos sexuais envolvendo o clero católico. Não que, por si, escândalos sexuais devessem causar espanto a priori. Como jornalista, compartilho a dureza de coração e o cinismo quando o assunto são desvios da norma de qualquer espécie. Mas dizer-se “blasé” quando crianças sofrem abuso denota um grau de frieza que, com o perdão da franqueza, beira a psicopatia. Então, antes de tudo, permita-me humildemente sugerir que o nobre colega, diante da coragem demonstrada na expiação pública de seus traumas, procure um profissional da psique para dar seqüência apropriada a esta catarse. Ganhará você como pessoa, ganharão seus leitores e admiradores quando isto vier a se traduzir em colunas menos raivosas.
Penso que estudamos em instituições de ensino diferentes. De certo o Colégio de São Bento que freqüentei é outro, em que nem de longe se vislumbravam os horrores por você descritos. Isso, ou posso considerar-me um sujeito ao mesmo tempo ingênuo e de demasiada sorte, pois que naquela casa de saber vim a experimentar o civismo por valor educacional e o debate em alto nível quando das discordâncias.
Tendo você falado de suas experiências, arvoro-me a partilhar as minhas: bolsista na escola, não tive minha posição ameaçada nem quando bati de frente com o reitor por duas vezes – uma por incitar colegas a cabular aulas para participar de passeatas contra o então presidente da República; outra quando, juntamente com amigos, participei da elaboração e publicação de um jornal-manifesto contra a estrutura do grêmio estudantil, provocando um racha pelos corredores. Ambas as ocasiões me levaram à reitoria para ter com o saudoso e respeitabilíssimo D. Lourenço de Almeida Prado, cuja biografia fala por si. Atesto que não encontrei nele qualquer ranço de autoritarismo. Muito pelo contrário, guardo até hoje respeito por sua legítima autoridade em face ao tom crítico e elucidativo das conversas que tivemos.
Permita-me dizer que tive ótima introdução às ciências humanas enquanto aluno do São Bento. A relação com professores e alguns padres do mosteiro, mais próximos ao colégio, lançou base para o desenvolvimento de visão crítica e livre pensar – diga-se de passagem, os mesmos valores pelos quais deixei de freqüentar a missa todos os domingos e acabei me afastando da Igreja Católica, mas isso é outra conversa. Fato é que ali se estimulava, sim, a criatividade e o desenvolvimento intelectual dos alunos. E não apenas na matemática aplicada. Concursos literários eram praxe, para dar apenas um exemplo. Usar as mazelas de uma Igreja que se reconhece santa e pecadora e importá-las para as salas de aula como forma de ataque ao colégio foi, a meu ver, golpe baixo de sua parte. Quando reflito sobre o número de contemporâneos discentes que sei terem se tornado menos religiosos justamente porque o ensino não era exacerbadamente contaminado pelo teocentrismo, só posso pensar que ganhamos nós, os estudantes, e perdeu a Igreja. Isso dentro do mesmo calabouço autoritário que, nas suas tintas, é pintado como um campo de concentração para jovens. Paradoxal, para dizer o mínimo...
No mais, prezado João, fica a pergunta: se o Colégio de São Bento foi tamanho suplício em sua trajetória, por que simplesmente não deixou seus quadros? É difícil imaginar pais que, diante do exposto por você, tenham optado por manter o rebento em suposto sumidouro de violência física e intelectual. Mas a indagação talvez seja inócua... Quer me parecer que você não tenha, de fato, concluído o ensino médio no colégio. É mera suposição, posso estar enganado. Faço-a baseado em limitada observação empírica de que tanto rancor contra a escola é lugar quase comum entre os que deixaram a caminhada precocemente, seja por que motivo. Entre os que podem dizer que completaram seus estudos no São Bento, é mais freqüente se notar orgulho. Seja como for, João, sinto por você. O grau de abuso que diz ter sofrido me condói. Quedar-se indiferente quando assunto é estupro – físico ou pedagógico – de crianças certamente não é traço beneditino. Não é traço, sequer, de um sujeito são. Cuide-se, colega. Não caia na armadilha do amargor que, à guisa de objetividade, tenta diariamente afastar a nós, jornalistas, do que seja humano.
Cordialmente,
Glauco Paiva
Jornalista

24.3.10

29 de Fevereiro

Acho que caí na armadilha do tempo. Esse velho algoz que insiste em nos roubar tudo quanto é essência de alegria e tristeza, dor e prazer – vida, enfim – em módicas quantias que somente a posteriori se apresentam como gigante subtraído de nós mesmos, para nossa surpresa, desespero e indignação.
Eu costumava não perceber os minutos e horas que perdia no trânsito, no ócio improdutivo, na companhia de pessoas que nada tinham a me acrescentar, em projetos esdrúxulos no trabalho, em coquetéis de negócios onde o sorriso amarelo é a senha de acesso universal. Não mais. Estou por demais ciente...
E vem de repente a noção de que já passei dos trinta, e vivi boa parcela da vida construindo uma realidade da qual, agora, não faço tanta questão de me apropriar. O clichê seria dizer que tomei consciência de que não conseguirei, até o fim dos meus dias, ler todos os livros que gostaria. Mas a realidade é bem mais cruel do que isso: hoje, aqui e agora, já não tenho tempo para viajar, jogar, ouvir, mergulhar, correr, tocar, beijar, dançar, interpretar, gozar, comer, flertar e mesmo dormir tanto quanto gostaria. Ler?! – Ler é a menor das minhas questões.
Preciso com urgência arrumar um jeito de fazer tudo isso, sob risco de me tornar um sujeito intragável num futuro bem próximo. E mesmo em caso de sucesso, preciso todavia pensar em me casar e ter filhos, porque, afinal, que tipo de sujeito sou eu, que tendo caminhado por mais de três décadas sobre esta Terra, ainda imagina que tem muito a fazer antes de jurar dividir o resto seus dias com alguém que o ame, e reluta em dar sua moralmente obrigatória contribuição para a insustentabilidade populacional do planeta?
Tic. Tac. Tic. Tac. Tic. Tac.
Quero multiplicar meu tempo, para poder dividir meu tempo. Tenho dívidas a resgatar e desculpas a pedir a gente que me queria mais, me amava mais, e a quem não consegui me dar como mereciam - no passado, presente e futuro do pretérito. O fardo é pesado e para completar as costas me doem todas as manhãs. A vida me subtrai e o calendário só me oferece um único dia a mais em fevereiro de quatro em quatro anos. Essa conta não fecha, e eu estou numa puta moratória, beirando a insolvência. Angústia que só.

6.1.10

God put a smile upon your face

Where do we go nobody knows
I've gotta say I'm on my way down
God give me style and give me grace
God put a smile upon my face
Where do we go to draw the line?
I've gotta say I've wasted all your time, honey honey
Where do I go to fall from grace?
God put a smile upon your face, yeah
Now when you work it out I'm worse than you...
Yeah, when you work it out I want it too
Now when you work out where to draw the line
Your guess is as good as mine
Where do we go nobody knows
Don't ever say you're on your way down, when
God gave you style and gave you grace
And put a smile upon your face, oh yeah
Now when you work it out I'm worse than you
Yeah when you work it out I want it too
Now when you work out where to draw the line
Your guess is as good as mine
It's as good as mine
Where do we go nobody knows
Don't ever say you're on your way down, when
God gave you style and gave you grace And put a smile upon your face