31.1.05

Kriptonita de la roja

Hugo Chávez veio ao Fórum Social Mundial para fazer graça com o Bush. Nada de novo. Nas últimas semanas, nos últimos meses, tudo que o presidente da Venezuela faz é graça com o Big Boss dos States, onde quer que vá. Para isso, nem precisava ter vindo. Mas reconheço: o carisma do sujeito é inegável. Inegável e perigoso, na minha humilde opinião. Ou ele vive num mundo cor de rosa, e não percebe os riscos desse comportamento aparentemente lúdico, ou pior: tem plena noção dos riscos mas joga assim mesmo. A aposta é alta demais - enquanto ele se diverte mandando a diplomacia às favas, golpes e contra-golpes de bastidores e capturas não autorizadas de integrantes das FARC em território venezuelano colocam a democracia e a soberania de um país na corda bamba, e ninguém parece ligar muito para isso. O Lula, engraçado... está sempre pronto a receber o hermano em Brasília - onde Chávez já é visto como arroz de festa; guarnição que só acompanha, mas não serve para encher a barriga. Eu, particularmente, entendo que o Brasil tem um papel de liderança geo-estratégica e político-econômica na América do Sul por motivos óbvios, mas acho que o sindicalista do ABC deveria se envolver menos. Ou deveria se envolver mais e entrar de sola na questão. O problema em se fazer acenos sem adotar posições firmes é que cedo ou tarde dá-se o inevitável: o folgado resolve que é bonitinho vir à Porto Alegre para chamar o Bush de Superman, e dizer que nosotros temos kriptonita vermelha para lidar com o problema. Alto lá! Que nosotros é esse?! Fale por si e pelos seus, cara pálida! Não venha contaminar com gracejos infantis as nossas já delicadas relações bilaterais com o povo do norte, que envolvem embargos, subsídios comerciais e uma dura negociação em torno da ALCA, para não mencionar o olho grande dos gringos nas nossas instalações nucleares. É favor deixar os tupiniquins fora desse nosotros (...) O pior, o mais triste, é que tem palhaço para tudo: até para gritar fora Lula, Chávez para presidente do Brasil. Não que eu esteja muito satisfeito com o Sapo Barbudo. Essa última de censurar - vamos usar o verbo certo: censurar, mesmo! - as pesquisas do IBGE antes da divulgação me deixou decepcionado ao extremo. Mas se tem uma coisa que me dá nos nervos é a turma do quanto pior, melhor. Não lêem as entrelinhas, e acham que política é brinquedo de criança. Eu li os quadrinhos do Superman. Mas também li Nietzche. O assustador é pensar que, ao chamar Bush de Super-homem, talvez nem Chávez soubesse o quão próximo estava da verdade. Se soubesse, não falaria rindo. E os micos de circo não aplaudiriam. E se precisar mesmo da tal kriptonita vermelha, pago para ver no que vai dar.

29.1.05

Datíssima vênia, companheiros

Ivan Lins é um virtuose. Merece ser visto, se não por qualquer outra coisa, pela técnica tanto vocal quanto às teclas - e ao bongô, e à caixinha de fósforo, e ao whatever: o sujeito é um multi-instrumentista, e a nossa música não tem muitos assim hoje em dia. O último que pintou foi o Júnior, mas sobre esse eu nem quero falar. O repertório pode parecer antiquado para todos nós, que respiramos outras batidas, admito. Mas as letras são ótimas, é só se dispor a ouvir. E funciona para casais que é uma beleza, acreditem. Se bem que, tudo bem... Quem acha mala ou péla saco, acha. Fazer o quê?

28.1.05

Ivan Lins

Fui ontem. Não é um super-show, mas manda o recado bem direitinho. Mais que direitinho, até.
Porque, só de vez em quando, não é pecado retornar aos clássicos para falar do novo...

Vieste

Vieste na hora exata
Com ares de festa
E luas de prata
Vieste com encantos, vieste
Com beijos silvestres
Colhidos pra mim
Vieste com a natureza
Com as mãos camponesas
Plantadas em mim
Vieste com a cara e a coragem
Com malas, viagens
Pra dentro de mim, meu amor

Vieste à hora e a tempo
Soltando os meus barcos
E velas ao vento
Vieste me dando alento
Me olhando por dentro
Velando por mim
Vieste de olhos fechados
Num dia marcado
Sagrado pra mim
Vieste com a cara e a coragem
Com malas, viagens
Pra dentro de mim, meu amor


E, claro, a infalível Vitoriosa

Quero sua risada mais gostosa
Esse seu jeito de achar
Que a vida pode ser maravilhosa
Quero sua alegria escandalosa
Vitoriosa por não ter
Vergonha de aprender como se goza
Quero toda sua pouca castidade
Quero toda sua louca liberdade
Quero toda essa vontade
De passar dos meus limites
E ir além, e ir além
Quero sua risada mais gostosa
Esse seu jeito de achar
Que a vida pode ser maravilhosa

26.1.05

Enganado pelas boas referências

O nome de Sam Raimi nos créditos iniciais me deixou na expectativa por um bom filme de terror. Alguns de vocês podem não saber, mas antes de Homem-Aranha, o sujeito já marcava no currículo toda a série Evil Dead. E isso é credencial. O problema é que em O Grito, Sam não dirigiu. Foi só produtor executivo, o que em termos práticos significa que ele deve ter dado uma força na captação de recursos e emprestou o nome para levar meia dúzia de otários como eu ao cinema, em troca de algum trocado ou quem sabe mesmo uma participação na bilheteria. O que é bom para ele, ruim para mim. E péssimo para o meu bolso, porque eu caí direitinho. O Grito, que bem poderia se chamar O Arroto - quem viu vai entender - está entre as coisas mais toscas que vi nos últimos tempos. A premissa de lenda urbana japonesa e o fato de a história se passar por lá pode ainda atrair alguns fãs de O Chamado - Não caiam nessa esparrela! Alhos não devem servir de referência para bugalhos! Um tem trama construída de maneira a propiciar uma suspensão de realidade com um mínimo de esforço, e detalhes metalingüísticos que valem o ingresso - mais sobre isso em conversas de bar, para quem quiser. Mas o outro... o outro é uma sucessão de clichés mal ajambrados por um roteiro fraco, um argumento pífio e sustos óbvios. A coisa toda só não foi um total fiasco porque a minha namorada - sempre ela salvando o meu dia! Te amo, linda! - se assusta facilmente, e cada pulo dela me rendia ao menos uma reação instintiva àquela baboseira toda na tela: a de proteger a mocinha. Em suma: não vejam O Grito. É ruim demais. A não ser que vocês tenham a companhia certa, porque aí também... o filme não faz diferença.

25.1.05

O carnaval está chegando

E eu odeio isso. Fique registrado.

21.1.05

Mexeu com ela, mexeu comigo

Minha amiga comprou um personal cold maker nas Casas Bahia. A necessidade de possuir um ar-condicionado tornou-se irrefutável urgência doméstica após noites mal dormidas causadas pela face mais negra do efeito estufa, que só quem mora no Rio conhece. A canícula é realmente insuportável, acreditem. O problema é que ela, embora jornalista e celebridade, é ainda a mulher da casa. E como toda mulher da casa, está sendo engambelada pelos malandros da instalação, que chafurdam na desordem burocrática, estão sempre atrasados com pedidos e ordens de serviço, e se acham no direito de protelar as demandas feitas pelas moças, na certa imaginando-as ainda desamparadas e chorosas criaturas, relegadas à resignação e - por que não dizer? - à fragilidade. Pois estão enganados. Minha amiga tem amigos. A começar por mim. E padrinho de casamento que sou, é obrigação zelar pelo bem estar da família que muito prezo, até por saber que com eles posso contar na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, Amém. O marido, gozando de férias, viajou. É justo - férias a gente só tira uma vez por ano. Mas a referida consorte não está, absolutamente, indefesa: quem me é caro eu coloco embaixo da asa, e quem me conhece sabe que tenho envergadura. Se os sujeitos lá da instalação não resolverem essa modorrenta pendenga pronta e eficientemente, já falei que vou com ela naquele cafofo malcheiroso de exercício pseudo-administrativo para dar jeito na parada. Vou me apresentar como digníssimo esposo, para tomar satisfações de maneira não-tão-digna. Aí eu quero ver aqueles abusados explicarem para metro e noventa de preto enfurecido que não foi possível fazer a instalação porque o técnico especialista em cortar vidros genoveses granulados estava ocupado fazendo um curso de capacitação em observação e apreciação holística do ócio criativo... Quero ver!

18.1.05

Às vezes nem eu me suporto

Porque o ser humano é o único, em todo o maravilhoso espectro da criação, capaz de rir da própria desgraça - ou da alheia - e porque um toque de irremediável cinismo está entre os meus defeitos confessos (e prediletos!), Letras Mortas traz a verdade por trás do maremoto asiático: eis aqui como tudo começou...

Admita: você também riu.

14.1.05

O paradoxo romântico

Nunca foi tão rápido: levou apenas duas semanas.
Todavia jamais demorou tanto: inteiros nove meses - porque não poderia, sob qualquer hipótese, ser prematuro.
Se deu o fato contra todas chances: estou certo de que não passou pela cabeça de nenhum de nós que haveria de ser assim, fulminante, sem pretexto, sem razão. Seria absolutamente impensável que fosse sem razão... Mas foi. E assim, sem aviso, como o beijo roubado naquela primeira noite, aconteceu. E - curioso - verdade seja dita, há dias vínhamos ensaiando esse movimento. É inegável: o teste de limites. Até onde cada um estava realmente disposto a ir, reconhecer, entregar, derrubar as defesas?
- As minhas sempre foram muitas, desde sempre. As dela, me parece, idem. Mas o som do inevitável é célere. A última reserva, aquela derradeira que protege a própria imagem que temos de nós mesmos - nosso espólio final e mais sagrado - cai por terra. Deus ex machina. E dói. E assusta. E nos faz tremer. E extasia. E nos dá coragem. E é calmo acalanto. O momento irredutível, contra o qual não há resistência. Estava lá o tempo todo, esperando para acontecer. Não tem início, não tem fim, e não há, finalmente, como pouparmo-nos dele. Nunca foi tão rápido, nunca demorou tanto. Duplo Xeque. Mate. Um bom ator reconhece suas deixas.
Eu ontem confessei um amor.
(...)
E aquele sorriso nunca esteve tão belo.

12.1.05

Meus amigos sabem o que dizem

Dando voz a quem realmente entende das coisas - função jornalística ideal e raramente realizável...

A sempre sábia Cris Tibau diz: Sexo e amizade é colorido. Sexo e paixão, incendiário.
Irrefutável, absolutamente. Menina, para variar, você acertou na mosca. O mundo precisa de fogos de artifício multi-coloridos.

Mas o jovem filósofo contemporâneo Gabiru Mattos faz um alerta aos desavisados: Só dá merda quando você se diverte pelado.
É. Deve ser isso mesmo.

10.1.05

Só a cabecinha

Atenção meninas de coração, carne ou personalidade fraca! - Esta imagem pode provocar arrepios na nuca e outras zonas erógenas do corpo, além de imprevisíveis e potencialmente perigosas reações hormonais.
(...)
Sem mais delongas ou explicações: eis aqui um raro registro fotográfico da famigerada e sempre ludibriosa cabecinha. Uma exclusividade pseudo-jornalística de Letras Mortas.

Vocês não adoram segunda-feira?

7.1.05

Pois é

Hummmm...
Então está bem: entre algumas novas dezenas de milhares de mortos na Ásia, um quid pro quo literalmente federal para saber quem diabos sai candidato à presidência da Câmara dos Deputados, e a divulgação de fotos de uma festa adolescente - para a qual não me convidaram -na piscina do Alvorada, a primeira semana de trabalho em 2005 até que não foi assim tão ruim...
Mas a folga de Réveillon estava melhor.

5.1.05

Diz o terrorista árabe...

Para toda bela morena sob o sol existe um sujeito feioso, careca e... altinho de vodka

Parabéns pra você nesta data querida, gatinha! - Será que eu ainda vou preso por aliciamento de menor?

4.1.05

Eles não têm juízo

E não é que eu virei chefe de reportagem? Calma, muita calma nessa hora! - o status é temporário, e a carta branca vale só por algumas horas diárias, enquanto o chefe de verdade não chega. Ocorre que algumas peças estão fora de suas posições originais neste início de ano, e acabou na minha mão a gerência do departamento entre seis e oito da manhã. Eu já tinha brincado assim num plantão de fim de semana, mas é a primeira vez que a responsabilidade cai no meu colo em dias úteis, pra valer. A coisa toda é benvinda, claro. Lendo nas entrelinhas, é uma demonstração de confiança no meu trabalho, e por isso fico feliz. E feliz é sempre uma boa maneira de se começar o ano. Por outro lado, a cobrança por qualquer problema que venha a surgir vai sobrar é pro negão aqui. No pain, no gain (...) Mas parando para pensar, o interinato nem é assim tão diferente da rotina nossa de cada dia. É preciso exercitar um certo pensamento estratégico, adequar pautas a repórteres; mas não é uma função tão engessada quanto pode parecer à primeira vista. Se você tiver uma resposta pronta para as gracinhas dos colegas, algo como "eu estou chefe, eu não sou chefe", acho que dá para escapar incólume - se a ponte Rio-Niterói não cair durante o rush matinal. Amém.

3.1.05

Enlace

Estou oficialmente fora do mercado neste início de 2005. A oficialização se deu no momento da virada, algo entre fogos, Chandon e um charuto cubano. Não foi a coisa mais original do mundo, mas a morena ficou feliz, é o que importa. Quem pegou, pegou. Quem não pegou, não pega mais. Felizes doze meses para todos os meus doze leitores.

Uma breve nota de felicitação em particular: a mãe da ilustre autora de Lugar Feliz cumpriu anos no Réveillon. A Lol é algo muito próximo de uma irmã, e a Tia Tereza é algo muito próximo de uma segunda mãezona. Parabéns pra ela!