20.10.09

Do politicamente correto e a síndrome da minoria autoritária

Vamos deixar uma coisa bem clara, que é para tirar a obviedade do caminho: eu, tanto quanto você, tenho preconceitos. Todos temos. Os meus e seus podem não ser tão óbvios e gritantes quanto os alheios, mas cada um sabe onde seu calo aperta e quando o tabu estabelece limites absolutamente irracionais ao que deveria ser uma percepção mais isenta e clara do outro e do ambiente que nos cerca.
Isto posto, conste nos autos que tenho vários amigos homossexuais, penso que o Conselho de Segurança da ONU deveria ser composto apenas por mulheres (preferencialmente mães) e ultimamente ando convivendo um bocado com crianças, o que me leva a pensar quão patéticas e elaboradamente hipócritas são algumas (im)posições do mundo adulto, para as quais minha paciência se esgota.
A mais estúpida delas, que repetidamente me bate na cara e enfurece, é o policamente correto. Sob disfarce de tornar o vernáculo e certas atitudes reprováveis menos ofensivas através de um quinhão de bom senso no falar e agir, a concessão transmutou-se em arma das ditas "minorias" (tenho cá minhas dúvidas se são minorias mesmo) para manter o resto da sociedade como refém, na mira de escrutínio e humilhação pública por qualquer pensamento ou palavra, ato ou omissão.
Dia desses foi uma discussão acerca de certa reportagem abordando o homossessualismo, e eu ouvi - de um gay - que o repórter talvez não tivesse sensibilidade suficiente para escrever pois, afinal de contas, era hétero. Daí quando respondi que pensava ser o repórter, efetivamente, homo, a julgar por sua postura, fui fuzilado com olhar reprobatório. Então... um jornalista formado não pode, a priori, escrever sobre homossessualismo porque lhe falta esteio sentimental a não ser que seja "amiga", e eu ainda por cima estou errado por reconhecer maneirismos afeminados quando os vejo, ali, escancarados?! - Onde está o preconceito?
...E ontem, foi no metrô. Fim de tarde chuvoso, eu a caminho de uma missa de mês por um parente distante que faleceu inesperadamente deixando outros parentes, estes mais próximos, arrasados. Mas isso não vem ao caso. Chego correndo à plataforma de embarque, horário de pico, trem lotado, portas fechando. Me jogo no primeiro vagão à vista, para só depois perceber que era o vagão das mulheres. Alguns outros homens por ali, mas ninguém reclamou. A rigor, nem poderia, pois apesar do grande fluxo de passageiros(as), era feriado, e a letra da lei determina exclusividade apenas em dias úteis. Mas foi o trem parar na estação seguinte para que viesse um guarda de segurança exercer sua micro-autoridade e, exaltado, exigir que saíssem os homens...
Pois não saí. Recusei-me, comprei briga. Não havia legislação que me obrigasse, eu havia entrado ali por acaso, e a última coisa na minha cabeça, a caminho da igreja, era me aproveitar de qualquer jovem senhora. Aliás, acho que a última vez em que pensei em fazer isso, tinha 15 anos. E foi num ônibus, nem metrô era. Achei injusta e injustificável a atitude do sujeito, finquei pé e de lá não arredei. Em verdade, a lei é uma besteira, mas é incômoda. Como cidadão de bem com assinatura no contrato social, tenho que respeitá-la embora dela discorde. Mas toda essa imposição e agressividade para fazer cumprir uma legislação vazia... tenha a santa paciência.
Em resumo: o politicamente correto é, hoje em dia, quase uma armadilha social. É o preconceito sobre o preconceito ao quadrado, e periga a defesa dos indefesos tornar-se indefensável. Quando isso acontecer, meus caros, será a barbárie, porque tem gente lá fora realmente precisando de ajuda, pouco preocupada com trato e nomenclatura. De minha parte posso dizer que estou farto desses jogos de cortesia, e me adianto em frisar que não vou pedir desculpas a ninguém por ser homem, heterossexual e classe média da zona sul. Quer saber? - Minoria sou eu, e nenhum estatuto social me defende. Então... se alguém ficar muito incomodado com isso, sugiro meia-hora de passividade anal em três vias. Só não escrevo de forma mais explícita para não correr o risco de ser taxado de machista grosseirão.

17.9.09

Conselho de amigo

Não voe Air France. Jamais voe Air France. Sob qualquer circunstância. O serviço da companhia está tão confuso quanto seu departamento de manutenção. Tudo é desencontrado, e eu só posso dizer, depois de um absurdo episódio por que passei recentemente, que realmente não acredito ser a toa o fato de eles estarem perdendo aeronaves no Atlântico.
Então, mais uma vez: não voe Air France.
E cuidado em Paris. A cidade é linda, mas está cheia de franceses. E eles podem morder a qualquer momento, sem aviso prévio.

1.7.09

Highlander

Pois então...
A mudança de emprego, a falta de férias (meu Deus, eu preciso tanto!) e o twitter quase mataram este blog, mas pelo menos eu ainda me lembro da senha de acesso...
Já é alguma coisa.

30.4.09

Um plá sobre as não-tão-novas mídias e comunicação estratégica

Uma empresa dos Estados Unidos resolveu lançar uma nova marca de ração canina. Conduziu pesquisas para saber quantas famílias tinham Totós na região, reuniu grupos focais para escolher a embalagem mais atraente, fez campanha em horário nobre, jornais e mala direta, pagou pelo melhor espaço nas prateleiras dos supermercados… enfim, fez todo o dever de casa.
O lançamento foi um sucesso, mas algumas semanas depois as vendas começaram a cair. A ração empacou nas prateleiras, e em pouco mais de dois meses a empresa interrompeu a fabricação e distribuição, após descobrir que… os cães não estavam comendo a ração!!
A história é uma anedota que especialistas em marketing nos Estados Unidos gostam de contar. Reflete, com simplicidade e clareza, uma obviedade que muita gente em vendas e comunicação insiste em ignorar: se você quer promover uma idéia ou um produto, é preciso saber quem é seu público alvo. Pregar para o vento na vã esperança de que vá fazer eco, meus amigos, é um tiro no pé.
Ontem me peguei em uma boa conversa com o síndico sobre algo que, conceitualmente (e muito embora eu seja avesso a rótulos) gosto de chamar de comunicação estratégica. Não demorou muito para começarmos a falar sobe a aplicação de novas mídias em disseminação de marcas, apenas para descobrir que compartilhamos a opinião de que o novo já não é tão novo assim...
Pense: Twitter, redes sociais, blogs, podcasts… nada disso é novo. Tudo já tem nome, está aí, em uso, e faz parte de um espaço maior chamado internet – alguém aí já ouviu falar? A questão é que, não mais do que repente, a velha máxima do direito que dita “Não está nos autos, não está no mundo” foi transmutada em algo próximo de “Se não está na rede, não existe”. Em tempos nos quais indivíduos viram avatares, é fácil cair na tentação de se lançar em canais virtuais imaginando que será fácil e barato produzir conteúdo qualificado. Ledo engano e grande armadilha. Vários podcasts por aí recebem reclamações de ouvintes quando aceitam quotas de patrocínio. Para citar um caso específico, o Marcelo Tas perdeu seguidores no Twitter depois após endossar produtos de uma companhia telefônica.
Quem errou? – Talvez ninguém. Talvez o importante seja justamente entender que os produtores de podcasts também têm contas para pagar, e embolsar um bom patrocíonio não é sinônimo de comprometer a credibilidade. Vou repetir a palavra: credibilidade. Está aí a chave da comunicação, seja em que ramo for: jornalismo, publicidade, artes dramáticas, virais de rede. O pulo do gato é entender que o equilíbrio é fino entre o pessoal e o institucional, e agradar a gregos e troianos é impossível em larga escala, então, ao pensar na promoção de o que quer que seja, é necessário entender quem se quer atingir. É triste ver que muitas empresas se lançaram nas “novas mídias” só para dizer que estão lá. Mas os velhos chineses já diziam que, para quem não sabe onde quer chegar, nenhum vento sopra a favor…

O Babu e a rima

Vejam só essa última do excelentíssimo deputado estadual Jorge Babu: um projeto de lei determinando que...
“Art. 1º A Secretaria de Saúde divulgará, em seu site, os nomes dos soro-positivos, cidadãos contaminados com HIV/AIDS, em todo Estado do Rio de Janeiro.
Art. 2º Tal listagem receberá atualizações mensais, constando seus nomes completos e Cadastro de Pessoa Física – CPF.
Art. 3º Todos os cidadãos contaminados com o vírus HIV deverão portar identificação própria de sua condição.
Art. 4º O portador de tal documento, terá prioridade no atendimento emergencial hospitalar da rede pública."
Divulgar nomes de soro-positivos?!?! - Eu não vou nem começar a falar sobre preconceito. Até porque não preciso. Veja o que diz o próprio parlamentar em sua justificativa para apresentar o ensejo de legislação à apreciação de seus pares:
“O Princípio da Isonomia ensina que devemos tratar os iguais de forma igual e os diferentes de forma diferente. Por óbvio somos todos iguais, inclusive perante nossa Carta Magna. Contudo, enquanto detentores de condição viral contagiosa, tais cidadãos assumem característica diversa dos demais, exigindo tratamento diverso, que será providenciado de forma segura por esses profissionais, através da identificação prévia do cidadão soro-positivo.”
Sobre Jorge Babu: em 2004, foi preso em flagrante pela Polícia Federal numa rinha de galos, atividade considerada crime ambiental no Brasil. Já em liberdade, enfrentou processo de expulsão do partido. Em setembro de 2008, foi denunciado pelo Ministério Público por formação de quadrilha e extorsão, acusado de chefiar milícias na Zona Oeste. Em 26 de janeiro de 2009, a Executiva Nacional do PT finalmente decidiu, por unanimidade, expulsá-lo da legenda.
Expulso do partido, mas ainda legislando... Em nome de quê? Em nome de quem?!
C'est pas un pays sérieux.

16.4.09

Pára tudo!!

Espera aí! Pára tudo mesmo! Tipo... puxa a corda, que eu quero descer! Eu não queria acreditar nas imagens quando vi na TV: agentes de "segurança" (?!?!) em uma estação de trem agredindo passageiros a socos e pontapés para permitir o fechamento das portas?
- COMO ASSIM?!?!
Não é novidade para ninguém que o sistema ferroviário do Rio de Janeiro é precário, mas o que se viu essa semana foi totalmente além da conta... os trens fluminenses viraram mesmo a versão contemporânea dos antigos navios negreiros: pobres viajando em condições insalubres para trabalhar - a maioria por salários miseráveis. O que houve mesmo em 1888? Tão pouco mudou em dois séculos... Mudou a cor da mão do carrasco. Que perverso ver negros pobres batendo em negros pobres por motivo banal. É triste, é aviltante, é o fim do mundo.
E pensar que transporte, no Brasil, é concessão pública...

2.4.09

Estupidez ambientalóide

Vamos deixar algo claro de início: eu não tenho muita paciência para ONGs que se professam instituições sem fins lucrativos ao mesmo tempo em que geram milhões de dólares através da cooptação do idealismo alheio, principalmente de jovens. Voluntarismo de orçamento astronômico não me convence, e embora eu reconheça um módico valor em algumas ações de grupos como o Greenpeace, na maioria das vezes o que vejo é uma patética busca por publicidade gratuita nas páginas de jornais, retroalimentando não a conscientização por um mundo melhor, mas sim o poder de barganha e, em última análise, as contas bancárias dos próprios grupos em questão.
Penso que a tal consciência ecológica mora nos pequenos gestos que se tornam exemplos: apague a luz e convença seu colega de escritório a fazer o mesmo. Recicle. Não deixe lixo na praia. Se tiver paciência, retire o lixo dos outros da areia. Eu confesso que ainda não cheguei a esse estágio, mas outro dia fiquei babando de admiração quando a morena fez isso e, logo ali ao lado, uma mãe que estava cercada de copos plásticos vazios produzidos por seu pimpolho tratou logo de recolher a bagunça. Não sei se a moça efetivamente levou a tralha quando foi embora, mas pude ver uma atitude simples e despretensiosa fazer a diferença. E foi de graça.
Por que estou falando nisso? Porque o Greenpeace, mais uma vez, me irritou pela estupidez. Capitulando: tentar impedir o avanço de uma embarcação baleeira nas águas geladas do norte usando um bote de borracha é corajoso. Inútil, mas corajoso. Já parar o trânsito na ponte Rio-Niterói em plena hora do rush para estender uma faixa com palavras de ordem é apenas o cúmulo da burrice ambientalóide. Pois foi isso mesmo que os "gênios" resolveram fazer nesta quarta-feira.
A ação de 21 eco-chatos (que eu só posso pensar, queriam mesmo é aparecer) causou um engarrafamento de 18km. Ora, segundo a concessionária que administra a ponte, mais de 20 mil veículos passam por ali entre 7h e 11h da manhã. E nenhum dos nobres trapalhões verdes pensou que tamanha quantidade de veículos trafegando em marcha lenta ou em ponto morto iria de fato AUMENTAR a emissão de gás carbônico e outros poluentes enquanto durasse a brincadeira de rapel na bela paisagem da baía de Guanabara?! - Sem contar no atraso de vida que isso causou para um sem-número de cidadãos? Será mesmo que existe alguma chance de aquelas pessoas travadas no tráfego, impossibilitadas de chegar ao trabalho, escola, ou o que seja, virem a se tornar os próximos simpatizantes e porta-estandartes da causa? - Sei não, mas algo me diz que isso é pouco provável...
Mais: estou longe de achar que vivemos num mundo cor-de-rosa (ou verde!), mas o Rio de Janeiro, apesar de toda a barbárie e desordem urbana, ainda produz motoristas que páram seus carros - voluntariamente! - em uma das mais movimentadas avenidas da zona sul da capital para que um gambá possa atravessar a rua. Veja o que aconteceu essa semana mesmo no Jardim Botânico…

O resumo da minha ópera: Greenpeace e seus genéricos deveriam levar suas ações de prentensa guerrilha ambiental para fronts onde elas efetivamente possam fazer alguma diferença para melhor. E precisam, desesperadamente, incorporar estratégias de logística e relações públicas no planejamento de o que quer que pensem em fazer a título de chamar a atenção do mundo para uma causa que, justamente por ser tão nobre, não deve virar bandeira de abuso em busca de auto-promoção. A meu ver, esculhambar o trânsito e violar o direito de ir e vir das pessoas estão longe de ser notas positivas no portifólio de qualquer movimento que se auto-denomine "social".

Fotos: O Globo Online

31.3.09

Duro de matar

Três vivas para Emerson de Oliveira Abreu, 36 anos.
Quem é Emerson de Oliveira Abreu? - É um sortudo. Aliás, para falar a verdade, sortudo não define bem esse sujeito: ele é, na realidade, o feliz alvo de uma intervenção divina.
...Depois de ter sido alvo do próprio arpão.
Para quem não leu nos jornais, explico: Emerson foi atingido na cabeça pelo próprio arpão enquanto fazia pesca submarina na baía de Guanabra. O projétil perfurou seu crânio e seguiu cérebro adentro, alojando-se a não mais do que 1 mm (vou escrever por extenso, para que eu mesmo possa acreditar: um milímetro!!) da carótida. O acidente aconteceu no fim de semana e a versão mais provável é a de que o arpão, ao ser disparado, tenha ricocheteado em uma pedra e atingido o pescador na seqüência.
Como está Emerson? - Bem, obrigado. Chegou consciente ao hospital, foi transferido para outra unidade porque não havia equipe de neurocirurgia na primeira clínica, foi operado e deve ficar uma semana em observação, com risco mínimo de seqüelas. Ainda é cedo para saber se sua visão será comprometida, mas os médicos dizem que provavelmente ele sairá ileso do susto.Cá entre nós: eu não acredito em milagres. Mas essa é difícil de explicar... Deus ex machina, eu diria. Nada menos do que isso.
Então... três vivas para Emerson. Eu desejaria longa vida ao sujeito, mas acho que meus votos de longevidade seriam uma inútil redundância: tenho todos os motivos para acreditar que ele só vai morrer aos 128 anos, e mesmo assim, apenas se quiser.
Só digo que seria ótimo se, daqui até lá, ele deixasse de lado essa história de pesca com arpão. Ô, coisa mais feia...

18.3.09

Alguém, por favor...

Eu, num casulo, em posição fetal, batendo com a cabeça na parede em ritmo descompassado.
Alguém, por favor, anote a placa na minha a analista e cobre dela as minhas dores por ter-me dito exatamente o que eu precisava ouvir? Tem dias, meus amigos... tem dias em que a noite é foda.

16.3.09

Hoje

Hoje tive ânsia de escrever sobre tudo, e também sobre o nada. De falar sobre simulações de adeus disfarçadas em quase-alôs que falam muito mas não se traduzem ou realizam. De alegria e estranhamento entre íntimos improváveis quase unidos de tão próximos, repelidos de súbito a título de não-sei-quê, vindo de não-sei-onde, que deixou alguém convencido de que distância é presença. Sobre paradoxos de prolífica significância racional mas patética e lacrimal expressão prática do que seja o desejo de estar, de confabular, de conspirar em silêncio quando palavras se fazem obsoletas.
Hoje me veio desejo de expressar turbilhão e redemoninho, chuva de raio, tormenta de acabar o mundo. Talvez só para ver, no fim de tudo, quem de fato me pediria para velar seu sono e sobre o meu faria vigília contra os assassinos, ladrões e bestas dos últimos dias. Eu sei quem gostaria de ter comigo. Mas será que já contei a todos? Será que eles sabem? De verdade?
Hoje me veio essa urgência de ser abrigo e braço forte, enquanto também menino assustado. E com medo de impossíveis quimeras (ou quiçá de perder a inocência), correr para o quarto dos pais - que já não mais existe. Para quem serei porto e farol? Para quem serei nau à deriva?
Hoje me veio esse misto, esse nó na garganta, esse lirismo represado, esse tesão no inefável; até que a força de mil orgasmos explodiu em curto para mostrar a falta de sentido em tudo quanto seja raciocínio e pontualmente planejado quando nos assalta essa tal nostalgia pelo que ainda temos, ou nunca tivemos, porque nunca teremos - a não ser que se nos dêem de bom grado e em livre exercício de hormônios e sentimentos, carne, cheiro, sangue, sal e gozo, contra o que seja ego, orgulho e falsas verdades sobre si mesmo e o que se pensa querer...
Hoje, sentei-me para escrever de amor.
Mas não pude conter-me quieto por tempo suficiente.

15.3.09

Love two Times

Na falta de algo melhor pra fazer, e com muita coisa ruim pra se ouvir por aí... Um pouco de The Doors pra salvar este fim de domingo...
Love me two times, baby
Love me twice today
Love me two times, girl
I'm going away
Love me two times, girl
One for tomorrow
One just for today
Love me two times
I'm going away
Love me one time
I could not speak
Love me one time
Yeah, my knees got weak
But love me two times, girl
Last me all through the week
Love me two times
I'm going away
Love me two times
I'm going away
Oh, yes

10.3.09

O diabo nos detalhes

Você já parou para se perguntar se cada pequeno gesto ou atitude das pessoas a seu redor tem um significado oculto, uma mensagem nas entrelinhas? Uma idéia ou sensação que talvez o próprio emissor sequer estivesse pensando em transmitir? Será que Freud estava certo ao dizer que às vezes um charuto é só um charuto, ou fato é que tudo - quando o assunto é relação interpessoal - tem um porquê, ainda que incógnito ou mesmo inconsciente?
Bem... eu não estudei psicologia. O máximo que fiz foi estudar teatro. E às vezes me flagro na paranóia do subtexto. Hoje, manhã ruim, dói a incerteza por conta de pequenas coisas, que eu sei (ou quero crer) são desimportantes, mas incomodam assim mesmo.
Ah, os pequenos dilemas... o que seria da vida sem eles?

5.3.09

Soneto dos sentidos

Há em mim certa urgência de ti
Que não dorme, descansa ou dá trégua.
É hábito, é mania, é uma quase terçã
Que me assalta em febre, seja noite ou manhã

E súbito sinto explodir em meu peito
Um gosto feroz, um quê de absinto
Que inebria meu senso e com que me deleito
- A lembrança perene de teu impecável leito

É assim que me entrego a teu encanto perfeito
De magia vermelha e inescapável efeito:
Sai de mim o juízo, entra em mim o teu cheiro,

E todo o resto é etéreo, todo o mundo é fantasia;
Só tua voz é concreta, só teu toque extasia
Minha ardência por ti, mais bela sinestesia!

29.1.09

Excluido digital

Eu gostaria imensamente de postar um diario sobre a viagem a Washington. Ha muito a ser dito sobre a atmosfera da cidade e tudo o que esta acontecendo aqui... Mas em tempos de internet wi-fi (coisa muito moderna), nao ha mais um cyber-cafe com um computador decente para se usar nesta terra. Este, no lobby do hotel, e lento que so e nao tem acentos. Recuso-me a elocubrar sem acentos. Ja me basta a maldita reforma ortografica confundindo minha cabeca...
Ficam os relatos sobre a viagem adiados para a volta. Saudades do Brasil e das pessoas que ai habitam. Saudade com varios nomes, alguns poucos em especial pela amizade fraterna, e um em particular com requintes de paixao.

16.1.09

Gestalt musical

Acontece de repente: quando você menos espera, uma imagem, uma paisagem, uma música ganham novo significado. É como vislumbrar pela primeira vez um detalhe que muda inteiramente um contexto até então familiar, e encher-se de encantamento por algo que já dávamos como garantido e dominado. Os psicólogos e artistas plásticos falarão em "gestalt", e dirão que o todo é mais do que a simples soma das partes. Os homens de letras dirão "epifania", e assim definirão um momento crucial da trama em que um evento ou incidente redefine o pathos de um personagem através de súbida revelação. Os poetas vão roubar esse conceito para falar do exato instante em que nasce um amor ou uma paixão, muitas vezes por alguém com quem já se mantinha uma relação qualquer, que não amorosa.
Gosto de me enxergar como um homem de epifanias. É-me grato pensar que de súbito serei capaz de enxergar algum significado oculto por trás das coisas ou das pessoas. E, de fato, isso não raro acontece – ou eu penso que acontece – e me sinto bem na ilusão de ter elevado meu grau de entendimento sobre o que quer que seja, ainda que por módico quinhão. Pense em Sociedade dos Poetas Mortos, quando o professor interpretado por Robin Williams instrui todos os alunos a subirem em suas mesas para que possam ver a sala de aula com a qual estão tão habituados por um ângulo diferente... simples mas contundente.
...Pois as minhas mais recentes epifanias foram musicais. Deram-se com sambas que estou cansado de escutar por aí, mas que por algum motivo me saltaram aos ouvidos entre o Natal e o Réveillon. O primeiro, "O que é o Amor", na indelével voz de Maria Rita, mostrou-se belo em sua simplicidade. O segundo, "Pé do meu Samba", de Caetano, martelou-me a cabeça pela força do refrão - o estribilho é de uma carga poética que há muito tempo não registro. E calou fundo. Figuram agora entre minhas canções prediletas para ouvir e dançar. Antes de reagir: se você é uma daquelas pessoas muito cool que não gostam de samba... deixe de lado o preconceito por um só minuto e não apenas escute - ouça.


...E bom fim de semana!

15.1.09

Jogo dos sete erros

Encontre os sete erros na seguinte frase:
Hoje é um lindo dia de sol!
...
...
...
Não? Nada?! Então vamos lá:

1. Hoje não é sábado, domingo ou feriado.
2. Não é sequer sexta-feira.
3. Eu estou no escritório.
4. Uso calça e camisa social para trabalhar. Para não falar dos sapatos no lugar de chinelos.
5. Com essa roupa não dá nem pra almoçar fora, porque se eu colocar o pé na rua com esse calor saárico que faz no Centro da cidade, provavelmente vou precisar de cinco banhos e três mudas de roupa para reestabelecer padrões mínimos de equilíbrio térmico e higiene corporal.
6. Alegar insanidade temporária e abandonar o navio não é uma opção.
7. Em alguma praia do Rio, a morena mais linda, epítome de beleza feminina, deve estar se salgando em mar sem a minha companhia.
....Eu nunca havia pensado que um belo dia de sol poderia ser tão cruelmente injusto.

12.1.09

E Gaza, hein?

Estou há dias tentando gestar um texto inteligente e imparcial sobre a hecatombe em Gaza. Li alguns comentários inteligentes e várias reportagens sobre o assunto. Incidentalmente, também estou engajado na leitura de Sobre o Islã, de Ali Kamel. Comprei há alguns meses, logo no lançamento, mas o volume estava meio encostado na estante entre aqueles livros que a gente quer ler, mas vai deixando para amanhã. O momento me pareceu oportuno, e o texto é educativo e pertinente. Mais ainda em tempos de intervenção militar no Médio Oriente.
...Isso posto, a verdade é que os vinte parágrafos de análise crítica que eu gostaria de escrever para parecer intelectual e receber dos amigos diversos elogios pelo vocabulário e visão de mundo podem ser resumidos em três simples tópicos para reflexão:
- A imprensa brasileira está pecando por parcialidade pró-Palestina.
- Os dois lados já perderam a razão há muito tempo nessa história.
- Riscaram um fósforo - ou melhor, jogaram mísseis - sobre um barril de pólvora. Se nenhum organismo internacional intevier com diplomacia eficiente, todo o Oriente Médio vai entrar em ebulição.
É isso o que tenho a dizer. Ao menos por ora. Gastar letras para quê? - Se o assunto é guerra, menos é mais.

5.1.09

Sem filtro (ou soneto de epifania)

Quando te achegares a mim e tocares meu corpo,
Faze-o com despudor, enlevo e abandono.
Deixa vir a moleca que eu vejo em teus encantos
Não te preocupa! Larga-te que eu te abono!

E quando fizeres teus planos, desvia-te do engano:
Não serei eu a te dar paz resignada,
O abrigo dos tolos e covardes falso-amantes,
Que fogem no escuro quando a aurora vem rasante;

Eu vou arder no teu fogo, vou invadir tua vida;
Quero tua mais rara e simples foto de alegria
Enquanto danças na chuva em perfeita epifania!

E se teus pés cansarem, não tema, não trema
Meu colo te leva, eu espanto a noite fria
- Me beija sem filtro, que o resto é só poesia.