27.3.11

Por quê?

Aí você pega as suas fichas e aposta. Está machucado, frustrado, cansado de tanta paulada, mas grávido de um amor que não merece aborto. E pensa que aquela pessoa, tão parecida com você em tantos aspectos, vai reciprocar a dedicação. Afinal, ela também diz que não quer mais se machucar. E vocês fazem um pacto: estamos juntos. É algo novo e completo. E você volta a ver flores brotando no asfalto.

E ela te leva a crer que te ama, e diz que faz planos, que se imagina a mulher da sua vida, mas que calma lá - isso tem que ser construído aos poucos, não estamos com pressa - mas eu quero. Que lindo, princesa, eu quero também.

E você vibra com os sonhos da moça, diz que ela não deve abrir mão. E não importa o pouco tempo que vocês tenham juntos porque ela está tentando viver esse sonho. O que vale é a calma e a saudade boa na ausência, o fogo que ninguém controla quando se encontram. Vale o olhar, a troca - até de silêncio - que diz "Eu sou tua cúmplice. Cuida de mim, e eu cuidarei de você". Eu cuido, baixinha. Estou do seu lado, e não vou a lugar nenhum.

E você se dá. Se rende, abaixa a guarda, se entrega. Porque, afinal, confia. E não acredita que ela vá, um dia, roubar o seu chão e fugir.

...

E tudo acaba friamente, numa conversa de olhar vidrado e sem uma lágrima vertida, em que você é meramente informado que tudo virou "não sei". E que, portanto, não há mais sentido em estar ali.

E só resta então amaldiçoar aos céus pela sua teimosia em se dar, e querer furar os olhos para se curar da cegueira que te impediu de ver que não importa o que você faça: o outro estava com você já pensando em partir. E agora partiu. E deixou sua mão estendida no ar. A mesma mão que, você acreditava, era porto seguro para alguém. E agora é nada, é bandeira ao vento, inútil e sem tato.

E você se pergunta "até quando?" Quantas vezes mais ainda tenho em mim a força de me doar, antes de me tornar um velho ranzinza e solitário?

É uma dor enorme quando quem te eleva, sem aviso, te faz cair.

E talvez seja pouco digno chorar ao teclado para quem quiser ver, mas eu sou pouca coisa se não a expressão de mim mesmo, e esta é a minha purga: escrever é minha catarse. Portanto o faço por mim - pouco importa o que vão ler ou pensar.

Caminho só. E só de quando em vez faz eco quando eu grito.

Eu gosto quando isso acontece.

Mas vem também um medo danado de voltar a marchar no escuro, onde o campo é estéril e a alma é só silêncio.