26.4.11

Sobre amizade, amor e ubiqüidade

Alguns momentos na vida são verdadeiros e inesperados presentes. É o mundo girando lá fora sem que a gente perceba, até que de repente uma janela se abre. Sorte sua se estiver olhando.

Na última sexta-feira, eu estava de olho vivo e torcendo muito para ver alguma coisa.

Quando colocamos o bote na água, havia um quê de apreensão – a noite não tinha lua, e estava um breu de tão escura. Mas ninguém pensou em desistir. Pelo menos eu acho que não...

A recompensa foram nove quilômetros de beleza e contemplação. Eu sinceramente não sei quanto tempo levou para descermos aquele trecho de rio. Podem ter sido quarenta minutos, pode ter sido uma eternidade. O que sei é que, lá em cima, um risco luminoso se jogava do céu espraiado de estrelas a cada instante, enquanto a água vinha despertar os sentidos a cada queda, como se dissesse: “Acorda! Aqui tem uma surpresa a cada curva! Você está pronto?” – Como no rio, como na vida. Uma epifania, uma gestalt, um sorriso.

Não vou me atrever a especular sobre o que os companheiros de aventura, novos e velhos queridos, estavam pensando ou sentindo. Para mim, foi algo mais ou menos assim:

Em algum lugar do Rio de Janeiro, um grupo de pessoas bem amadas aproveitou o feriado para reunir a turma em celebração à vida: eu estava com eles.

Em outro canto da cidade, um casal de sobrenome muito esquisito colocava as crianças para dormir – não conseguiram babá, então não puderam ir à festa: eu estava com eles.

Dois amigos estavam prestes a passar por um momento difícil. Bem no dia seguinte, a gata preta da bruxa resolveria descansar o corpo e caçar dragões com São Jorge: eu estava com eles.

E o que dizer dos pequenos? Três pingos de gente que amo como se fossem meus... Na sexta à noite, eu velei seus sonos. Estive de vigília ao lado dos berços e sentado na cama.

Bem ao meu lado alguém bradava comandos de remo, e seis pessoas desciam o rio como se fossem uma. Entre respingos que osculavam rostos e braços, e o arranhar dos galhos rasteiros que teimavam em invadir o bote, eu também estava ali.

...E porque me fiz presente em todos esses lugares, merecendo a companhia de pessoas tão ilustres e importantes, tudo sob um manto iluminado de estrelas, pela primeira vez nas últimas semanas eu também estava inteiro. Completo.

E em paz.