28.6.11

É tão-somente...

É a minha cegueira. É a tua estupidez. É você porta afora, é tudo escancarado. É o que me fecha a tranca. É o que me faz saber que és louca. É onde minha sanidade joga-se no abismo. É a minha raiva. Ou seria a sua? É nosso orgulho ferido. É tua incapacidade de aceitar o simples. É minha mania de complicar tudo. Não é Marisa Monte. É o que a vida fez da nossa vida. É uma uva-passa enterrada no açaí. É o que me faz devagar. É o que me faz divagar. É o que me acorda à noite; me faz dormir de manhã. Ou seria o contrário? É o teu ponto final nas minhas reticências... É o teu parágrafo no meu fim de capítulo. É a tua burra e anárquica quase adolescência. É a minha sisuda síndrome de Peter Pan. É meu sonho e é meu pior pesadelo. É teu também. É o que me rompe as guias. É o que teus Orixás te escondem. É o que tu sabes sem ter certeza. E te deixa em frangalhos de indecisão. É a tua vontade contra o teu medo. É o meu bem querer contra a marca que deixaste. É o nome que eu já tinha para o filho que não fizemos. É o choro dessa criança. É Paris. É o nono círculo do inferno. É o que me faz ansiar por ti, sem filtro, apesar da mágoa. Ou seria o oposto? É meu desejo de que te machuques, só para reaprenderes que posso proteger-te. É a falta que tu sentes de mim. É minha saudade mais doída. É entrar na tua vida, mas nunca na tua casa. Ou seria o oposto? É não te dar meu nome. É te apertar pelo braço para saberes que és minha. É continuar apertando para que doa e chores. É o que te afasta quando te procuro. É o que eu não quero de nós. É o que eu quero de nós. Mas não desse jeito. Quando só tem esse jeito. É a tua teimosia. É a nossa história. É onde o meu samba encontra o teu eletrônico. Ou seria o inverso? É onde tu não sabes dançar. É onde eu perco o compasso. É tu me atravessando a harmonia. É um triste e patético rock n' roll. É um violão sem corda. É a nuvem de tempestade que não se faz em água. É você molhada. E eu de guarda-chuva. E olha que eu odeio guarda-chuva. É o que me faz urrar de dor. É o que te faz sorrir demais. Ou seria trocado? É a tua secretária eletrônica. É a minha secretária eletrônica. É o não-dito. É o mal dito. Maldito. É o nada de importante. É o que me queima. É o que te consome. É meu combustível. É teu pensamento em mim. É a tua gravitação. É visitares o lugar onde ninguém vem. É o que não me dá paz. É tua mania de guerra. É teu não reconhecer-me. É me tomares por garantido. É achares que não vou. É torceres para que eu vá. E chamar-me de volta quando resolvo ir. É o querer que morras, que percas a beleza, que ninguém te queira se não eu. É o que tu não falas, e ainda assim eu ouço. É o casamento perfeito das nossas solidões. É o divórcio altivo e presunçoso do que tivemos. É querer machucar-se como porcos-espinho em coito. É preservar-se na idéia do que fomos. É, nisso, querer o melhor de dois mundos. É a cruel impossibilidade de tê-lo. É a utopia. É quebrar essa taça de cristal. É violar tua imagem no altar. É queimar o templo. É meu terno branco, quando me banho em negro. E é também o avesso. É o teu estômago. É o coração da noite. É o que nos define quando não somos nós dois. É a expressão maior do que não temos. É teu arrependimento. É minha soberba. É fazer somente o possível. É a minha língua na palavra. E a tua longe da minha boca. É tua corda. É meu nó de forca. É uma carta da torre. É a Carta da Torre. É tua vida. É tua metade de vida. É o que sobrou de nós.
E tudo isso ainda é muita coisa.

9.6.11

Uma frase de efeito qualquer

Eu tranquila e alegremente abriria mão de uma módica parcela da sua honestidade, se em troca isso nos trouxesse um pouco mais de leveza.