28.9.05

A não-morte anunciada de Terry

É isso, gente. Depois de quase uma década de serviços prestados, Terry Schiavo será substituída. Ela vai dar lugar a um Pentium 4 com capacidade de processamento dez (!!!) vezes maior que a sua, com direito a internet banda larga e Windows XP. Mas se engana quem pensa que meu bom e velho 333 sucumbirá em esquecimento e ignonímia. Minha ilustríssima genitora, que inicia seus passos pelas sendas da informática, pediu a Terry de herança. E pedido de mãe não se nega. A decisão final pela substituição de tão nobre e literal panela velha veio do fato de que, indo a Washington - aliás, estou embarcando na sexta! Boa viagem para mim! - resolvi comprar uma câmera digital. Mas para brincar com tal aparato, vou precisar de uma máquina decente...
Tá bom, tá bom... Eu confesso: não joguei Neverwinter, Freelancer, nem Knights of the Old Republic. E podem estar certos de que em outubro eu vou à forra em grande estilo! Quanto a Terry, ela ainda tem um longo futuro pela frente, sob nova tutela. Indignada e traída, a virtual highlander mandou dizer que vai nos enterrar a todos!

21.9.05

Enquanto isso, em algum consultório...

O relato que segue - verídico, por mais incrível que possa parecer - vem de uma amiga de faculdade da minha namorada. Jornalista recém-formada, é figura das mais simpáticas e engraçadas. A identidade da moça não será divulgada para proteger sua privacidade, e porque eu, abusado, simplesmente não pedi permissão para reproduzir o texto. Mas a desculpa... ops! O motivo oficial é a necessidade de manutenção do sigilo na relação médico-paciente. Muito embora vocês possam perceber, pelas próximas linhas, que todo o mais nesta relação - incluindo a mais pálida noção de civilidade - foi mandado para o quinto dos infernos por um tresloucado doutor:
Não, não estou repassando nenhuma mensagem enviada por amigos via e-mail.
Ouvi hoje, às 7h30 da manhã, do meu oftalmologista enquanto estava sentada numa daquelas milhares de maquininhas em que temos que encaixar a testa e o queixo, e ficamos olhando nossos próprios olhos no reflexo de algo que não sei o que é.
Médico: Tá precisando fazer as sobrancelhas, né?
Eu: ...
Médico: Olha só, cresce mais de um lado do que de outro...
Eu: ...
Médico: Você depila com cera ou pinça? Minha esposa diz que com cera dura mais.
Eu: ...
Médico: É muito comum termos essa falta de proporção no crescimento dos pêlos no corpo, sobrancelhas, pelo dos braços e pernas, e até mesmo dos genitais.
Eu: !!!!!
Médico: Quando eu era jovem, conheci uma menina que parecia uma rabino de um lado e um skinhead do outro, era curioso.
Eu: ...!!!...!!!...!!!...!!!...!!!...!!!

Enfim. O que pensar de um dia que começa assim? Vc se prepara pra tudo, né? Qq coisa pode acontecer! Depois eu falo, neguinho acha que eu tô de sacanagem... Vou andar com um gravador na bolsa.

Pqp.

14.9.05

Packing my bags

Bem que a vovó já falava: cuidado com o que você quer, porque seu desejo pode se realizar. Pois é. Eu sempre quis fazer jornalismo viajando. Investi na profissão por acreditar que com ela não cairia em rotinas de escritório (...) Nos últimos meses, as viagens estão abundando. Nas últimas novas, nem eu acreditei. A ficha só caiu hoje, depois de um almoço com a Adida de Imprensa do Consulado dos Estados Unidos no Rio. Estou indo para Washington. Dois dias na capital americana, e dois dias em Atlanta, acompanhando um programa governamental de incentivo a pequenas empresas. Mamãe ficou super orgulhosa.

6.9.05

La Petit Mort

Abriu porta da varanda de forma lenta e deliberada. O vento lambeu seu rosto e braços, arrepiando pêlos e trazendo-lhe a lembrança dos passeios de bicicleta pelas ladeiras da infância. Não estava frio, apenas confortável. Ele sabia que tinha uma reunião importante pela manhã, mas entendeu que, se havia despertado com o uivo fraco mas insistente à janela, poderia muito bem aproveitar o céu de estrelas e lua nova. Coçou gentilmente a barba por fazer, a fricção aquecendo-lhe levemente as mãos, e foi até a geladeira sem acender as luzes no caminho. Apanhou uma garrafa de vinho tinto, buscou o romance que repousava na cabeceira da cama, e voltou ao amplo balcão externo, onde o vento que o acordara havia se transfomado em suave brisa. Acomodou-se em uma espreguiçadeira para ouvir a maresia e cheirar a chuva que já não caía, mas deixara uma fina camada de umidade sobre as plantas. Serviu-se uma taça, o gorgolejar do vinho ao deixar a garrafa saciando-lhe os ouvidos em uma madrugada atipicamente silenciosa, e perfeitamente sua. Abriu o livro. Estava mais ou menos no meio do segundo parágrafo quando uma pomba imaculadamente branca pousou no alambrado, e arrulhou um alô que só ele, entre todos os seres humanos, poderia entender. Como uma criança, devolveu o ruído. O bicho lhe sorriu e alçou vôo. Retornou ao livro, e nele permaneceu até pesarem os olhos. Estava recolhendo taça e garrafa, pronto para voltar para a cama, quando percebeu uma luz se acendendo no prédio em frente. Do outro lado da rua, uma mulher esguia, quase impossivelmente longilínea, chegava também à varanda. Usava uma camisola de seda preta que dispersava uma luminiscência tremulante ao sabor do vento - o mesmo vento que à primeira lufada delineou de forma gradual mas firme os jovens mamilos, em seios que ele não conseguiu decidir se eram pequenos ou fartos. A visão paralisou-o por alguns instantes pela pura beleza, e por não mais de um momento teve a ceteza de que, apesar da distância, os olhos dela - palidamente azuis em baixo contraste com a alva compleição da face - cruzaram com os seus. O encontro não foi instintivo, tampouco espiritual. Residiu no inefável, no indefinível. Sob o manto negro respingado de luz daquela noite sem lua, dançaram uma paradoxal sinfonia de nota única, eterna em sua brevidade. Ele apenas sorriu e voltou para o quarto. Ela abriu uma garrafa de vinho.

3.9.05

Aonde eu vim parar

Pode parecer um baita programa de índio, e sob muitos aspectos, de fato é. Mas o que eu pensei que fosse a furada do século, está se mostrando uma viagem até que interessante. Estou postando de Angicos, semi-árido do Rio Grande do Norte. Mais uma sessão do banho de povo que o Lula está tomando para tentar - a meu ver da pior forma - descolar-se da crise. "Mas como ele foi parar em Angicos?!" - vocês vão perguntar... Bem, avião até Natal, e carro alugado em direção ao interior do estado. Deu para observar, em primeira mão, a mudança de clima e vegetação que eu só tinha estudado no colégio, e não veria sob outras circunstâncias, porque não me parece, exatamente, uma opção turística. É sim, sob muitos aspectos, uma paisagem desoladora, mas me levou a repensar um bocado de coisas. Nós, das áreas nobres das metrópoles, temos mania de reclamar de tudo. Aqui a gente vê uma outra face da nação. E olha que eu nem cheguei no sertão. O povo, humilde, abre sorriso só em saber que você é de fora. Querem saber de tudo, perguntam um monte de coisas. Abastecer o carro foi uma experiência. Quando disse para o frentista emitir nota em nome da Rádio Globo, foi uma sensação. Mesmo os colegas olham diferente. E eles são jornalistas, tanto quanto (...) Seria mais cômodo estar apresentando o programa do estúdio, mas dessa vez estou curtindo a cobertura. Talvez pelo tom de aventura - pegar a estrada com o mapa na mão e ter a chance de observar um monte de coisas. Tá que eu quase atropelei um jegue, mas isso é outra história. Agora, a cerejinha: Lula cancelou seus compromissos em Natal. Se tudo der certo, ainda vou passear nas dunas hoje à tarde. Que triste, não?