13.2.08

Auto-ajuda em profundidade

Em 28 de abril de 2000, o russo Yuri Lipski, então com 22 anos, arriscou-se em um mergulho profundo no Blue Hole, em Dahab, Egito. Um dos mais famosos e belos pontos de mergulho da região, o "buraco azul" tem a sinistra alcunha de divers cemetery, ou cemitério de mergulhadores, pelo grande número de fatalidades ali ocorridas. A parede de coral é um verdadeiro playground para turistas que saibam respeitar os limites do merguho recreativo, mas uma séria armadilha para os que teimam em ignorar certificação e treinamento ao entrar na água: o espelho claro pode esconder correntes subaquáticas, escuridão em profundidade e falta de referência de fundo, o que é um risco para mergulhadores sem experiência.
Não era o caso de Yuri. Pelo que li, ele já mergulhava há um tempo considerável. Sonhava tornar-se instrutor e, quando buscou um dupla para descer o Blue Hole, professava experiência em mergulho profundo. Os verbos estão no pretérito por algo além de simples referência temporal: Yuri não voltou. Uma possível falha no equipamento combinada à provável narcose gasosa e intoxicação por alta pressão parcial de oxigênio o levaram à morte. A câmera de Yuri registrou tudo, um trágico e contundente lembrete de que ultrapassar limites sem considerar os riscos é péssima política quando a sua vida está na reta. O vídeo está disponível no You Tube. É real e autêntico. O sujeito morreu, e as imagens - para não falar do audio - não são agradáveis de se ver e ouvir. Eu não vou postar o conteúdo... porque não quero. Você pode buscá-lo, se a sua curiosidade mórbida o(a) impelir.
Vem daí uma corrente de pessoas que não sabem o que dizem afirmando que o mergulho no Blue Hole deveria ser banido. As imagens que eu vou postar são tanto uma resposta quanto uma deslumbrante mensagem sobre como pode ser saudável para a mente e para a alma testar os próprios limites quando os fatores de risco são considerados e contingenciados.
Em julho de 2007 o neozelandês William Trubridge esteve no Blue Hole. No que é considerada a mais pura - e talvez mais arriscada - forma de mergulho, ele atravessou, sem nadadeiras, lastro ou roupa de exposição, a passagem subaquática entre a baía de corais e o Mar Vermelho. O Arco, como é conhecido, tem aproximadamente 30m de comprimento e fica a 58m de profundidade. Com a devida estrutura de suporte, o sujeito desceu e fez a travessia no pulmão. Mais do que a beleza da água, o que me chama mesmo atenção é o sorriso de William ao final do mergulho... Isso é o que eu chamo de "classe A" em material de auto-ajuda:


Sorria. Teste seus limites, mas não vá fazer besteira.
Eu quero, um dia, mergulhar no Blue Hole.

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