2.4.09

Estupidez ambientalóide

Vamos deixar algo claro de início: eu não tenho muita paciência para ONGs que se professam instituições sem fins lucrativos ao mesmo tempo em que geram milhões de dólares através da cooptação do idealismo alheio, principalmente de jovens. Voluntarismo de orçamento astronômico não me convence, e embora eu reconheça um módico valor em algumas ações de grupos como o Greenpeace, na maioria das vezes o que vejo é uma patética busca por publicidade gratuita nas páginas de jornais, retroalimentando não a conscientização por um mundo melhor, mas sim o poder de barganha e, em última análise, as contas bancárias dos próprios grupos em questão.
Penso que a tal consciência ecológica mora nos pequenos gestos que se tornam exemplos: apague a luz e convença seu colega de escritório a fazer o mesmo. Recicle. Não deixe lixo na praia. Se tiver paciência, retire o lixo dos outros da areia. Eu confesso que ainda não cheguei a esse estágio, mas outro dia fiquei babando de admiração quando a morena fez isso e, logo ali ao lado, uma mãe que estava cercada de copos plásticos vazios produzidos por seu pimpolho tratou logo de recolher a bagunça. Não sei se a moça efetivamente levou a tralha quando foi embora, mas pude ver uma atitude simples e despretensiosa fazer a diferença. E foi de graça.
Por que estou falando nisso? Porque o Greenpeace, mais uma vez, me irritou pela estupidez. Capitulando: tentar impedir o avanço de uma embarcação baleeira nas águas geladas do norte usando um bote de borracha é corajoso. Inútil, mas corajoso. Já parar o trânsito na ponte Rio-Niterói em plena hora do rush para estender uma faixa com palavras de ordem é apenas o cúmulo da burrice ambientalóide. Pois foi isso mesmo que os "gênios" resolveram fazer nesta quarta-feira.
A ação de 21 eco-chatos (que eu só posso pensar, queriam mesmo é aparecer) causou um engarrafamento de 18km. Ora, segundo a concessionária que administra a ponte, mais de 20 mil veículos passam por ali entre 7h e 11h da manhã. E nenhum dos nobres trapalhões verdes pensou que tamanha quantidade de veículos trafegando em marcha lenta ou em ponto morto iria de fato AUMENTAR a emissão de gás carbônico e outros poluentes enquanto durasse a brincadeira de rapel na bela paisagem da baía de Guanabara?! - Sem contar no atraso de vida que isso causou para um sem-número de cidadãos? Será mesmo que existe alguma chance de aquelas pessoas travadas no tráfego, impossibilitadas de chegar ao trabalho, escola, ou o que seja, virem a se tornar os próximos simpatizantes e porta-estandartes da causa? - Sei não, mas algo me diz que isso é pouco provável...
Mais: estou longe de achar que vivemos num mundo cor-de-rosa (ou verde!), mas o Rio de Janeiro, apesar de toda a barbárie e desordem urbana, ainda produz motoristas que páram seus carros - voluntariamente! - em uma das mais movimentadas avenidas da zona sul da capital para que um gambá possa atravessar a rua. Veja o que aconteceu essa semana mesmo no Jardim Botânico…

O resumo da minha ópera: Greenpeace e seus genéricos deveriam levar suas ações de prentensa guerrilha ambiental para fronts onde elas efetivamente possam fazer alguma diferença para melhor. E precisam, desesperadamente, incorporar estratégias de logística e relações públicas no planejamento de o que quer que pensem em fazer a título de chamar a atenção do mundo para uma causa que, justamente por ser tão nobre, não deve virar bandeira de abuso em busca de auto-promoção. A meu ver, esculhambar o trânsito e violar o direito de ir e vir das pessoas estão longe de ser notas positivas no portifólio de qualquer movimento que se auto-denomine "social".

Fotos: O Globo Online

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