27.11.10

Fado Tropical

Aí... quando você acha que já ouviu tudo de Chico, descobre mais uma pérola que não conhecia. Gênio.

Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo (além da sífilis, claro)
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar,trucidar
Meu coração fecha aos olhos e sinceramente chora...

Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto

Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intencão e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadura à proa
Mas o meu peito se desabotoa
E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa.

11.11.10

Pequena carta aos que gastam sola de sapato fazendo Jornalismo

O que o genial Geneton Moraes neto gostaria de ter dito ao receber o prêmio Embratel de telejornalismo, mas acabou não dizendo, e publicou depois no blog do Dossiê Geral (http://g1.globo.com/platb/geneton/). Eu achei ótimo e estou reproduzindo aqui. Vale para mim, todo dia ao acordar. Vale para todos nós dessa estranha raça de contadores de histórias, e vale também para aqueles que nos são próximos ou gostariam de nos entender um pouco mais e melhor...
“Toda atividade – seja qual for – precisa de um lema, uma bandeira, um slogan. O meu poderia ser qualquer outro, mas é : “Fazer jornalismo é produzir memória”. O jornalismo pode ser útil, então. Pode jogar luzes sobre o passado. Por que não?
É preciso ter convicção. Pois bem: posso estar errado, mas acredito que fazer jornalismo é olhar o mundo, os fatos, os personagens e as histórias com os olhos de uma criança que estivesse vendo tudo pela primeira vez; somente assim, o Jornalismo será vívido, interessante, inquieto – não este monstro burocrático, chato e cinzento que nos assusta tanto.
Fazer Jornalismo é saber que existirá sempre uma maneira atraente de contar o que se viu e ouviu; fazer Jornalismo é ter a certeza de que não existe assunto esgotado. Há fatos a explicar sobre 1964, por exemplo; tudo pode ser revirado: a crucificação de Jesus Cristo merece ser investigada. Por que não ? Jornalista não pode se deixar vencer pelo tédio destruidor – nunca!
Se um estreante perguntasse, eu diria: deixe o tédio em casa. Traga a vida das ruas pra redação. Porque, em noventa e oito por cento dos casos, o que a gente vê na vida real é mais colorido e mais arrebatador do que o que se publica nos jornais ou o que se vê na TV. Diria também: não faça jornalismo para jornalista. Faça para o público!
Fazer jornalismo é não praticar nunca, jamais, sob hipótese alguma, a patrulhagem ideológica. Ponto. Um general – seja quem for – deve ser ouvido com tanta atenção quanto o mais renitente dos guerrilheiros. Lugar de votar é na urna. Não é na redação (eu disse ao general Newton Cruz: não quero parecer bom moço, jornalista vive procurando escândalo e declarações bombásticas, mas, como personagem jornalístico, o senhor me interessa tanto quanto Luís Carlos Prestes, a quem, aliás, entrevistei algumas vezes).
Por fim: fazer jornalismo é desconfiar, sempre, sempre e sempre. A lição de um editor inglês vale para todos: toda vez que estiver ouvindo um personagem – seja ele um delegado de polícia, um praticante de ioga ou um astro da música – pergunte sempre a si mesmo, intimamente : por que será que estes bastardos estão mentindo para mim?
Não existe pergunta melhor”.