11.11.10

Pequena carta aos que gastam sola de sapato fazendo Jornalismo

O que o genial Geneton Moraes neto gostaria de ter dito ao receber o prêmio Embratel de telejornalismo, mas acabou não dizendo, e publicou depois no blog do Dossiê Geral (http://g1.globo.com/platb/geneton/). Eu achei ótimo e estou reproduzindo aqui. Vale para mim, todo dia ao acordar. Vale para todos nós dessa estranha raça de contadores de histórias, e vale também para aqueles que nos são próximos ou gostariam de nos entender um pouco mais e melhor...
“Toda atividade – seja qual for – precisa de um lema, uma bandeira, um slogan. O meu poderia ser qualquer outro, mas é : “Fazer jornalismo é produzir memória”. O jornalismo pode ser útil, então. Pode jogar luzes sobre o passado. Por que não?
É preciso ter convicção. Pois bem: posso estar errado, mas acredito que fazer jornalismo é olhar o mundo, os fatos, os personagens e as histórias com os olhos de uma criança que estivesse vendo tudo pela primeira vez; somente assim, o Jornalismo será vívido, interessante, inquieto – não este monstro burocrático, chato e cinzento que nos assusta tanto.
Fazer Jornalismo é saber que existirá sempre uma maneira atraente de contar o que se viu e ouviu; fazer Jornalismo é ter a certeza de que não existe assunto esgotado. Há fatos a explicar sobre 1964, por exemplo; tudo pode ser revirado: a crucificação de Jesus Cristo merece ser investigada. Por que não ? Jornalista não pode se deixar vencer pelo tédio destruidor – nunca!
Se um estreante perguntasse, eu diria: deixe o tédio em casa. Traga a vida das ruas pra redação. Porque, em noventa e oito por cento dos casos, o que a gente vê na vida real é mais colorido e mais arrebatador do que o que se publica nos jornais ou o que se vê na TV. Diria também: não faça jornalismo para jornalista. Faça para o público!
Fazer jornalismo é não praticar nunca, jamais, sob hipótese alguma, a patrulhagem ideológica. Ponto. Um general – seja quem for – deve ser ouvido com tanta atenção quanto o mais renitente dos guerrilheiros. Lugar de votar é na urna. Não é na redação (eu disse ao general Newton Cruz: não quero parecer bom moço, jornalista vive procurando escândalo e declarações bombásticas, mas, como personagem jornalístico, o senhor me interessa tanto quanto Luís Carlos Prestes, a quem, aliás, entrevistei algumas vezes).
Por fim: fazer jornalismo é desconfiar, sempre, sempre e sempre. A lição de um editor inglês vale para todos: toda vez que estiver ouvindo um personagem – seja ele um delegado de polícia, um praticante de ioga ou um astro da música – pergunte sempre a si mesmo, intimamente : por que será que estes bastardos estão mentindo para mim?
Não existe pergunta melhor”.

Um comentário:

Vicky Villas Bôas disse...

Amado isso é um dom, conseguir colocar em palavras o que, onde, como, quem, quando e porque, em poucas linhas, afinal documentar é viver várias vezes em varios momentos através de várias pessoas... :-D