9.6.08

Três juras de amor

Pegou de leve a face da menina após o beijo e disse “eu te amo”. Era a primeira vez. Ela, olhos cheios d’ água. Talvez já tivesse ouvido aquilo, mas nunca antes sentira a urgência da recíproca. As emoções transbordaram-lhe em lágrimas e, não fosse o sorriso quase infantil em seu rosto, ele talvez se sentisse confuso sobre o que sua declaração provocara. Ambos tão entregues, tão inexperientes. O garoto não esperou resposta verbal. Algo dentro dele leu a expressão da guria quase que instintivamente, e de imediato ele urgiu em invadir-lhe a boca com mais um beijo apaixonado, a língua quase cortando o fôlego da pequena. O resultado foi anti-estético e aos olhos de qualquer adulto pareceria desastradamente juvenil - mera fúria hormonal. Mas nenhum dos dois estava se importando muito com isso.
...Olhou nos olhos da moça depois do sexo e admitiu que a amava. Estavam namorando há um mês, e era a primeira vez em que iam para a cama juntos. Àquela altura da vida, ambos já tinham uma certa (limitada) experiência e alguns traumas, mas o romantismo ainda brilhava em seus olhos. Avançaram devagar até aquele momento, como quem movimenta peças em um jogo de xadrez. Resolveram, por fim, fazer uma viagem juntos. Foi a pálida mímica de uma lua-de-mel entre noivos virgens - eles assim o eram entre si. Ela disse “eu também” sem pensar duas vezes, e essa era a senha: duplo-xeque, fim de jogo. Para melhor ou pior, as coisas não seriam mais as mesmas entre eles depois daquilo.
...Já transavam há meses. Na verdade, tudo havia começado assim: sexo sem compromisso e sem qualquer pretensão de futuro. Calejado e defensivo, ele pensava que não estaria apto a dizer “eu te amo” antes do próximo século. Mas havia algo de diferente naquela mulher. Um ar de independência, uma sintonia similar, um olhar apenas discretamente inquisidor. Quebrou-lhe as defesas, mas quase não lhe quebra a semântica. Parou o ato no meio, olhou-a nos olhos e disse: “Todos os meus caminhos levam a você”. Ela não se deu por satisfeita. Decidida, sabia o que estava sentindo, e sabia o que queria ouvir dele. “Por quê?” – perguntou. O homem fechou os olhos por um momento, suspirou, mas por fim rendeu-se ao inevitável. Fitou-a e, pegando-lhe de leve a face, ofereceu-se enfim: “Porque eu te amo.”
Poderia jurar que, naquele momento, se entregar daquela forma havia lhe causado uma pontada de dor. Entendeu ali porque os românticos (será que ele já fora assim um dia?) dizem que o amor dói. Calculista, ele já sabia que a recíproca era verdadeira, ou não teria aberto a boca em primeiro lugar. Já tinha lido os sinais. Ainda assim, esperou o verbo, pois não queria se dar unilateralmente naquela noite – ou em qualquer outra noite pelo resto de sua vida. “Eu também te amo” confessou a mulher. Derrubou várias barreiras em si mesma para fazê-lo, mas o fez. De parte a parte, as juras foram atos de coragem. Peças de resistência. O homem, só então, desabou sobre ela e invadiu sua boca com um beijo atabalhoadamente apaixonado, quase a cortar-lhe o fôlego.
Tal qual um menino.

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