16.3.09

Hoje

Hoje tive ânsia de escrever sobre tudo, e também sobre o nada. De falar sobre simulações de adeus disfarçadas em quase-alôs que falam muito mas não se traduzem ou realizam. De alegria e estranhamento entre íntimos improváveis quase unidos de tão próximos, repelidos de súbito a título de não-sei-quê, vindo de não-sei-onde, que deixou alguém convencido de que distância é presença. Sobre paradoxos de prolífica significância racional mas patética e lacrimal expressão prática do que seja o desejo de estar, de confabular, de conspirar em silêncio quando palavras se fazem obsoletas.
Hoje me veio desejo de expressar turbilhão e redemoninho, chuva de raio, tormenta de acabar o mundo. Talvez só para ver, no fim de tudo, quem de fato me pediria para velar seu sono e sobre o meu faria vigília contra os assassinos, ladrões e bestas dos últimos dias. Eu sei quem gostaria de ter comigo. Mas será que já contei a todos? Será que eles sabem? De verdade?
Hoje me veio essa urgência de ser abrigo e braço forte, enquanto também menino assustado. E com medo de impossíveis quimeras (ou quiçá de perder a inocência), correr para o quarto dos pais - que já não mais existe. Para quem serei porto e farol? Para quem serei nau à deriva?
Hoje me veio esse misto, esse nó na garganta, esse lirismo represado, esse tesão no inefável; até que a força de mil orgasmos explodiu em curto para mostrar a falta de sentido em tudo quanto seja raciocínio e pontualmente planejado quando nos assalta essa tal nostalgia pelo que ainda temos, ou nunca tivemos, porque nunca teremos - a não ser que se nos dêem de bom grado e em livre exercício de hormônios e sentimentos, carne, cheiro, sangue, sal e gozo, contra o que seja ego, orgulho e falsas verdades sobre si mesmo e o que se pensa querer...
Hoje, sentei-me para escrever de amor.
Mas não pude conter-me quieto por tempo suficiente.

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