14.1.05

O paradoxo romântico

Nunca foi tão rápido: levou apenas duas semanas.
Todavia jamais demorou tanto: inteiros nove meses - porque não poderia, sob qualquer hipótese, ser prematuro.
Se deu o fato contra todas chances: estou certo de que não passou pela cabeça de nenhum de nós que haveria de ser assim, fulminante, sem pretexto, sem razão. Seria absolutamente impensável que fosse sem razão... Mas foi. E assim, sem aviso, como o beijo roubado naquela primeira noite, aconteceu. E - curioso - verdade seja dita, há dias vínhamos ensaiando esse movimento. É inegável: o teste de limites. Até onde cada um estava realmente disposto a ir, reconhecer, entregar, derrubar as defesas?
- As minhas sempre foram muitas, desde sempre. As dela, me parece, idem. Mas o som do inevitável é célere. A última reserva, aquela derradeira que protege a própria imagem que temos de nós mesmos - nosso espólio final e mais sagrado - cai por terra. Deus ex machina. E dói. E assusta. E nos faz tremer. E extasia. E nos dá coragem. E é calmo acalanto. O momento irredutível, contra o qual não há resistência. Estava lá o tempo todo, esperando para acontecer. Não tem início, não tem fim, e não há, finalmente, como pouparmo-nos dele. Nunca foi tão rápido, nunca demorou tanto. Duplo Xeque. Mate. Um bom ator reconhece suas deixas.
Eu ontem confessei um amor.
(...)
E aquele sorriso nunca esteve tão belo.

Nenhum comentário: