23.2.05

Papo de cinema

O filme teve o nome toscamente traduzido, e acho que pouca gente deu bola, mas quem tiver a chance não deve perder Jogos Mortais. Ainda está em cartaz, ao menos no Rio. A premissa de dois homens que acordam em um banheiro imundo e são forçados por um assassino misterioso a se engajarem num jogo de gato-e-rato em que um deve matar o outro pode parecer um convite à filmografia B, ou mesmo um enredo mal-ajambrado para um video-game de suvival horror, mas acreditem, está tudo lá: suspense policial honesto e de boa qualidade, sem sustos óbvios ou ofensas à inteligência do espectador em finais absurdos. Aliás, eu me corrijo: o roteiro poderia ser perfeitamente aplicado a um game. Palavra de aficcionado. E o final é sim sacado da manga, mas o truque é tão bem feito que parece mesmo mágica. A coisa toda foi rodada em 18 dias. Mais um exemplo de como é possível apresentar excelentes resultados com tempo e orçamento limitados. Basta ter uma ótima idéia e um roteiro bem amarrado. Na mesma linha é possível citar Bruxa de Blair e Por um Fio. Jogos Mortais - ou Saw, como preferirem, é desse quilate. E olho vivo no novato Leigh Whannell (Adam). Interpretação primorosa. Bem acima dos veteranos Danny Glover e Cary Elwes.

Em tempo: tive uma grata surpresa com a sala Um do Estação Botafogo. Nada da assepsia claustrofóbica de um multiplex - estamos falando de um salão enorme, com poltronas vermelhas de couro, e aquele leve toque de cheiro de mofo por causa do carpete nas paredes. A telona é digital, mas o som não é THS. Engasga para entrar, fazendo aquele ruído branco de caixa ligando. Nada de love-seats. Os casais têm direito à privacidade porque há espaço de sobra, e eles podem simplesmente procurar um cantinho desabitado. Nostalgia pura. Vamos combinar: cinema confortável é aquele em que você não corre o risco de roçar coxa com um estranho, e não precisa disputar o porta-copo. Já não fazem mais desses hoje em dia...

Nenhum comentário: