18.2.05

WC Cavalheiros

Este texto se presta à discussão de normas éticas de conduta em banheiros masculinos, e portanto pode se mostrar vulgar e preconceituoso em certos momentos. Meninas, estejam avisadas.

Estive nesta sexta-feira fazendo a cobertura jornalística de um ato político realizado na Associação Comercial do Rio de Janeiro. O evento reuniu diversas autoridades, entre deputados, dirigentes de entidades de classe, organismos sindicais e afins. Em dado momento, pouco antes do início da cerimônia, a ânsia urinária tomou conta de meu ser. Ao entrar, notei que havia um engravatado se ajeitando ao espelho. Nada demais. O espaço contava com três mictórios, todos desocupados. Posicionei-me no da extremidade mais distante à porta, evitando possível exposição imedianta ao trânsito de entrada e saída do referido sanitário, e abrindo espaço para que a distância cívica de um urinol vazio (o do meio) fosse observado por qualquer outro ser mijante que chegasse. Mas eis que, ao dar início ao processo mictante, noto que o tal almofadinha resolveu estacionar justamente ao lado, e mais: dada a falta das sempre necessárias "barreirinhas de mármore", direciona olhares a meu instrumento de trabalho afro-brasileiro. Pausa para que se compreenda o quão desconfortável foi a situação para minha pessoa: fui educado em um colégio exclusivamente masculino. No São Bento, se você flagrasse alguém em espionagem peniana, podia simplesmente gritar "manja-rôla!", e provocar uma hecatombe. Todos que estivessem no banheiro cairiam em insultos raivosos e impudicos sobre a masculinidade do curioso. Ele seria chamado de viadinho para baixo, e provavelmente seria empurrado em direção ao mictório, com grandes chances de sair com as calças vexatoriamente ensopadas pela própria urina. Em alguns casos - mais raros, porém possíveis - a balbúrdia poderia chegar aos corredores. A coisa se tornava então um verdadeiro episódio de retribuição divina: o pobre diabo sentiria todo o peso da execração pública discente. O colégio, muito católico, tinha um décimo-primeiro mandamento tácito: Não violarieis a privacidade da jeripoca alheia. Daonde eu venho, a manjada é intolerável, e a pena era sempre capital. Mas ali, na Associação Comercial do Rio de Janeiro, o grito de denúncia e alerta ficou preso. Eu quase agi por ato-reflexo, mas percebi a tempo que a punição exemplar, tão merecida, poderia conflitar com a minha presença profissional naquele lugar. Imaginem a reação dos políticos e empresários a um jornalista que sai do banheiro gritando "Manja-rôla! Manja-rôla!" (...) Não seria legal. Tive que aturar o constrangimento. Mas me permiti um audível "Tsc, tsc, tsc!", com meneios negativos de cabeça, em desaprovação simbólica ao viadinho - com preconceito, por favor. O sujeito gay, ao perceber que eu havia percebido, abaixou a cabeça, possivelmente em vergonha e auto-penitência. Onde já se viu?! Depois do movimento pela Encoxada em nossas respectivas e venerávis fêmeas, venho a firmar posição contrária aos manjadores de plantão. Que sejam todos enviados, com passagem só de ida, para... bem, vocês sabem para onde. A discussão já está abaixo da linha da cintura, não precisa descer mais do que isso.

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