4.11.04

Sobre ontem à noite.

Estava lá. Incontestável. Me olhando como a desafiar-me. Jogando-me na cara o passar das décadas; negando-me os feitos da juventude, afirmando vãos todos os meus esforços por uma vida saudável - quase atlética, muitos diriam. Atestava, desdenhoso: "Nunca mais as enterradas nas quadras de basquete! Nunca mais os maiores pesos da academia quando chegar o verão! Nunca mais os esportes radicais nas férias!" Parecia dizer-me que eu deveria desistir logo dessa mania de mente sã em corpo são, pois minha anatomia iniciara a viagem de ida em direção à maturidade, enquanto eu insistia, inutilmente, em refutar o já tão óbvio conceito de que havia - vejam só! - me tornado um adulto. Estava lá. A semente do pânico estético. A maldita pétala alva da idade, da flor inevitável que chega sem aviso na melhor das nossas Estações, com o peso dos anos. Peso sob o qual se curvam os mais indômitos mortais. Encarava-me. Provocava-me. Assaltava-me a fronte negra em vilipêndio. O primeiro fio de cabelo grisalho.

Passei-lhe a tesoura.

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