19.11.04

Uma grande e íntima revelação

Carlos Lessa foi destituído da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social nesta quinta-feira. Para os leitores menos afeitos ao noticiário, vai aí minha singela contribuição para que se mantenham atualizados sobre os acontecimentos do país. O que isso muda na sua vida? Pouca coisa ou quase nada. Na verdade foi uma decisão política, e o velho professor já estava na marca do pênalti há muito tempo. O substituto, Guido Mantega, não é tão simpático e afeito a declarações de efeito, mas é cortês, não acho que teremos problemas de cobertura jornalística com ele. Mas o assunto aqui não é esse. O assunto é uma grande e íntima revelação pessoal, que só terei coragem de fazer ao fim texto. É algo de impacto, forte; se você é cardíaco(a) ou tem estômago fraco, recomendo que cesse a leitura e volte outro dia. Voltando ao Lessa... sua saída me rendeu um plantão na sede do BNDES. Foram horas e mais horas de não-trabalho, sentado na sala de imprensa com jornalistas de vários outros veículos esperando informações oficiais que tardavam a chegar, alimentando vãs expectativas sobre a possibilidade de uma entrevista coletiva que - todos sabíamos desde o início - não iria acontecer. O lado ruim: um dia improdutivo. O lado bom: a chance de colocar o papo e as besteiras em dia com alguns colegas que valem tão pouco quanto eu. Dei sorte nesse plantão. Acho que há muito não me divertia tanto em horário de trabalho. Nesse sentido, pode-se dizer que foi um dia de dinheiro-fácil (...) Mais ou menos. A verdade é que esses plantões têm sempre um nível elevado de stress: chefia ligando toda hora, olho ligado em Brasília para saber se alguém fala por lá sobre o assunto em questão, boatos que vêm e vão sobre o que de fato a fonte está fazendo ou vai fazer. Nunca é um dia relax, mesmo que nada aconteça. É preciso estar mais atento a tudo, o tempo todo. Mas avancemos a meu drama pessoal... Chego em casa depois de um dia desses, obviamente cansado; nem tanto física, mas mentalmente, e encontro minha mãe dizendo que precisa ter "uma conversa séria" comigo. Ione e eu não nutrimos o hábito de discutir a relação. Nos damos ótimamente bem, e ela até respeita minha privacidade - tanto quanto é possível para uma mãe, o que às vezes é muito pouco. Mas vá lá, eu também não tenho porque criar tempestades. Mas o fato é que ela afirmou estar muito triste comigo, o que me preocupou. Cansado e agora apreensivo, indaguei o motivo: disse-me que tinha encontrado, pendurada para secar no meu box, uma cueca furada. E começou a falar seriamente sobre como eu - graças a Deus - não tinha motivo ou necessidade que justificasse uma tal peça em petição de miséria. Tentei explicar que, logicamente, a maioria das minhas cuecas está em ótimo estado de conservação, mas que de fato eu mantenho algumas furadas ou puídas porque são muitíssimo confortáveis em noites nas quais a roupa íntima certamente não virá à tona. Não se deu por satisfeira, e disse-me que compraria cuecas novas. Foi só neste momento que minha mãe de fato levou uma bronca. Um, porque fui educado por ela mesma a cuidar de minhas cuecas desde moleque, e não dou a ninguém o direito de se meter nisso. E dois porque, ao fim de um dia cansativo, o mínimo que ela poderia fazer era me apresentar um motivo realmente grave para armar tamanho circo. Então é isto. Está aí a grande revelação pessoal: Glauco Paiva, por vezes, usa cuecas furadas. Quem nunca pecou, que atire a primeira pedra.

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