16.1.09

Gestalt musical

Acontece de repente: quando você menos espera, uma imagem, uma paisagem, uma música ganham novo significado. É como vislumbrar pela primeira vez um detalhe que muda inteiramente um contexto até então familiar, e encher-se de encantamento por algo que já dávamos como garantido e dominado. Os psicólogos e artistas plásticos falarão em "gestalt", e dirão que o todo é mais do que a simples soma das partes. Os homens de letras dirão "epifania", e assim definirão um momento crucial da trama em que um evento ou incidente redefine o pathos de um personagem através de súbida revelação. Os poetas vão roubar esse conceito para falar do exato instante em que nasce um amor ou uma paixão, muitas vezes por alguém com quem já se mantinha uma relação qualquer, que não amorosa.
Gosto de me enxergar como um homem de epifanias. É-me grato pensar que de súbito serei capaz de enxergar algum significado oculto por trás das coisas ou das pessoas. E, de fato, isso não raro acontece – ou eu penso que acontece – e me sinto bem na ilusão de ter elevado meu grau de entendimento sobre o que quer que seja, ainda que por módico quinhão. Pense em Sociedade dos Poetas Mortos, quando o professor interpretado por Robin Williams instrui todos os alunos a subirem em suas mesas para que possam ver a sala de aula com a qual estão tão habituados por um ângulo diferente... simples mas contundente.
...Pois as minhas mais recentes epifanias foram musicais. Deram-se com sambas que estou cansado de escutar por aí, mas que por algum motivo me saltaram aos ouvidos entre o Natal e o Réveillon. O primeiro, "O que é o Amor", na indelével voz de Maria Rita, mostrou-se belo em sua simplicidade. O segundo, "Pé do meu Samba", de Caetano, martelou-me a cabeça pela força do refrão - o estribilho é de uma carga poética que há muito tempo não registro. E calou fundo. Figuram agora entre minhas canções prediletas para ouvir e dançar. Antes de reagir: se você é uma daquelas pessoas muito cool que não gostam de samba... deixe de lado o preconceito por um só minuto e não apenas escute - ouça.


...E bom fim de semana!

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