29.9.04

Taxi Driver

Entro no táxi para ir a uma festa. O bigode denuncia o motorista antes mesmo que ele fale: trata-se de um daqueles portugas tradicionais. A imaginação já desenha-lhe um cotoco de lápis atrás da orelha. Quando o condutor de fato abre a boca, suas palavras ecoam lapidares e definitivas no interior do carro, com irretocável sotaque d'além mar: "Mulher é foda!". Não falar nada parece-me deselegante e pouco educado. "De fato - replico eu - mulher é foda". O sujeito passa então a discorrer sobre como teve dores de cabeça intermináveis com as duas ex-esposas, a última das quais o persegue até hoje atrás de bens que ele foi obrigado a passar para o nome de outros membros da família, entre irmãos e primos, para não dividir com a antiga consorte. "O homem acha que é malandro - prossegue ele - mas quando a mulher quer acabar contigo, não tem pra ninguém. Ela ataca a sua dignidade, amigo". E ele não pára, não pára nunca. Fala sozinho, mas parece absolutamente resoluto a provar-me por a mais b que mulher é foda. Praia de Copacabana, quase final da viagem. Eu, a essa altura dos acontecimentos já desistindo da máscara de dignidade, rendo-me: "Pois veja, senhor, quem gosta de homem é viado. Mulher gosta mesmo é de dinheiro" O sorriso do cara se ilumina. Ele parece abstrair-se até mesmo da direção. Por alguns instantes, preocupo-me com o risco de uma possível colisão. O português quase larga o volante. Se vira pra mim e diz: "É ISSO!!!" e finalmente cala-se.
Chega um momento em que as palavras resultam inúteis. Dispensáveis.
Mulher é foda.

(...)
Ah! Sobre a festa?! - Joãozinho Caminhador andejava a passos largos pelo salão. Keep Walking.

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