7.8.04

A dor (?) que sente um amigo

A noite de sábado perdeu um pouco da graça, e eu acho que fiquei um pouco mais adulto, ou velho, sei lá. Voltando de um churrasco, recebi a notícia de que uma amiga, que já estava com pai desenganado, está com a mãe no CTI desde o início da semana. "Você jamais acreditaria que um raio pudesse cair duas vezes no mesmo lugar em tão pouco tempo" - ela me disse. Caiu. Tive perdas próximas e sérias na família quando criança, e a passagem de pessoas não me é estranha. Na minha linha de trabalho, você lida com isso até mais do que seria recomendável para a sanidade de um ser humano pretensamente normal. Mas nem o distanciamento profissional nem as perdas da infância me prepararam para o aperto no coração que senti quando recebi a notícia sobre os pais da Caloura de Olhos Verdes. Acho que, em um súbito momento, entendi o real significado da palavra "solidariedade". Nada de pena, compaixão, ou coisa do gênero. Apenas uma vontade de estar perto, de consolar, de acarinhar, de dizer "conta comigo". O possível foi fazer isso pelo telefone: o pai estava para chegar em casa do hospital. Os irmãos, distantes, estavam reunidos, e devem tentar, neste domingo, passar o dia dos pais da melhor maneira possível, curtindo o velho. Eu vou passar o dia dos pais sozinho. Darei um abraço apertado na minha mãe e, quem sabe, reunirei coragem para ser sensível, agradecendo-lhe por tudo e dizendo que a amo - há tempos não faço isso, acho que ela vai gostar. Depois talvez saia para jogar um basquete. Posso também chamar uma amiga bonita para ir ao cinema. Vou dar jeito de fazer alguma coisa "de homem". Meu pai se orgulharia disso. De noite, vou lembrar dele e, embora já não acredite tanto em rezas feitas, vou orar do meu jeito. Assim costuma ser meu dia dos pais há anos. E, pra falar a verdade, não dói. Quero muito que o da pequena também não doa. Que ela possa curtir muito, mas muito, o que - não gosto nem pensar, mas assim é a vida - pode ser o último que ela passa com o pai nesse plano. É curioso essa coisa de solidariedade e amizade entre... adultos (?) - você quase sente medo pelo que pode acontecer com outra pessoa... Sei lá. Aliás, tudo deve mesmo ser diferente depois que a gente cresce, mas até agora eu só tinha experimentado as festas de casamento. Letras Mortas está um pouco mais triste essa noite, e torcendo muito para não ficar de luto. E não importa o nome pelo qual você chama o Grande Arquiteto, ou as Forças de Regência: ore pela Menina Red Bull, porque ela não merece nunca, mas nunca, perder o sorriso - ou as asas.

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