30.12.08

Para 2009...

Essa me veio da amiga Bianca Mattos. Médica, mãe e autora diletante com um quê de Clarice que só ela. Toda afeto. O autor é maior e bate qualquer pretensão de mensagem de ano novo. Uma verdadeira lição:
Receita de Ano Novo, por Carlos Drummond de Andrade
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo,
remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens? Passa telegramas?)
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo;
tem de fazê-lo de novo.
Eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

25.12.08

Aquela história do vinho...

A antecipação do bom vinho é tão importante quanto o vinho em si...
Mas um bom vinho é sempre um bom vinho. Melhor mesmo é prová-lo.

21.12.08

Trâsito livre

Descer a orla do Rio de Janeiro de Grumari ao Flamengo vendo o dia nascer depois de uma noite de zouk... não tem preço. A cidade continua maravilhosa, e o Redentor continua lá - braços abertos sobre a Guanabara - abençoando essa mistura louca de poesia e caos. É um luxo viver aqui!

19.12.08

Matemática pura e aplicada

Diz o jovem filósofo contemporâneo: se a ordem dos fatores anda produzindo resultados inconsistentes com o real valor da sua felicidade, inverta os fatores. Melhor: remova da equação o elemento de não-conformidade com a sua mais absoluta alegria. É mais simples do que parece.

18.12.08

Linha direta

O celular tocou às 8:47 da matina. Horário crítico no escritório. Correria, jornais espalhados por todo lado, notícias, resumos, traduções. Demorei alguns segundos até encontrar o telefone, submerso no mar de tipos e fotos que habitualmente inunda minha mesa todas as manhãs. Na bina, o síndico - companheiro de todas as horas, até embaixo d' água. Atabalhoado, atendi na pressa, quase deixando o aparelho cair, e estava prestes a despachar o amigo com um "velho, me dá cinco minutos, te ligo já" quando fui surpreendido pela voz infantil do outro lado da linha. Era ninguém menos do que o menino Theo, meu sobrinho branco:
- Aô, tio Fasa! ...Bem?! Saudade!!
E só isso já me valeu o dia.

17.12.08

Contemplando os "ses"

Nunca escondi minha preferência por Tarantino. Dia desses revi Pulp Fiction, um clássico desde sempre. Os aficcionados e os amigos cientes de minha admiração pelo trabalho de Samuel L. Jackson vão provavelmente se lembrar do ator citando uma passagem bíblica (inexistente, por sinal) antes de assassinar um pretenso golpista. A cena é ótima, mas a minha mais recente preferida é um diálogo entre Jules (interpretado por Jackson), e Marsellus Wallace (na quase monocórdia porém impagável atuação de Ving Rhames). Na tradução livre deste jovem filósofo:
MARSELLUS: ...Tudo bem, digamos que ela chegue em casa, o que você acha que ela vai fazer? (pausa) Não fode com a minha paciência! - Sem brincadeira que ela vai surtar?! - Isso não é resposta. Você a conhece, eu não. O quanto ela vai surtar? Muito ou pouco?
JULES: Você precisa entender o quão potencialmente explosiva é esta "Situação Bonnie". Se ela chegar em casa depois de um dia duro de trabalho e encontrar um bando de gângsters fazendo merda de gângsters na cozinha dela, não há como prever o que ela pode fazer.
MARSELLUS: Eu já entendi isso, Jules. Estou apenas contemplando os "ses".
...Contemplar os "ses". Salutar atitude, não? - E um ótimo texto, também.

15.12.08

Esse tal de 2008...

Foi uma merda. Anos pares costumam ser mesmo ruins para a minha pessoa, mas esse exagerou. Tudo bem, tudo bem, tive aí algumas conquistas interessantes no campo profissional. Avanços dos quais me orgulho. Mas no pessoal e afetivo... Deus e os Orixás do Olimpo me livrem! Uma série de desencontros adiaram indefinidamente meus planos de paternidade e me levaram de volta à terapia com juros e correção monetária. Sabe-se lá por que intervenção ou ironia do destino, tornei-me uma pessoa mais aberta e menos defensiva ao lidar com esses tais seres humanos. Esse novo estilo de distribuir afetos, com o qual ainda não me habituei por completo e para que não sei se estou perto de encontrar a medida certa, me rendeu alguns bons encontros e, em igual termo, boas dores de cabeça. É certo que as alegrias são bem mais alegres assim. Mas as tristezas também são mais doídas. Aos trinta anos, não sei se meu coração agüenta essa montanha russa.
Ah, os trinta anos! Chegaram com um inferno astral arrasador. Mas passaram. Quero dizer, na verdade, o aniversário passou, juntamente como o inferno astral - não os trinta anos. E eu vi que o tempo está do meu lado. O que mata é a minha urgência. Mas a urgência é minha, e ninguém tem nada com isso. Muito menos o Sr. Tempo, esse velho implicante e ranheta que insiste em só nos dar o que queremos quando desistimos de pedir, como um avô caduco que nos mima de maneira torta entre um e outro beliscão no dedão do pé - atire a primeira pedra quem não teve um avô ou avó com mania de beliscões.
Aonde eu estava? - Sim, os trinta anos: fazer sexo com duas mulheres na mesma noite já não tem mais tanta graça quanto tinha aos vinte e cinco. Melhor fazer sexo a noite inteira com uma mulher só. No final das contas, independentemente de qualquer coisa, fazer sexo continua muito bom (graças aos céus!). Mas encontrar uma parceira capaz de oferecer alguma referência que não somente a carnal... essa sim é a grande onda. Melhor do que qualquer droga. E o grande desafio, para ser bem sincero.
...Aqui permito-me a constatação do óbvio: se você quer parceiras (ou parceiros) para algo além do simples conluio consentido, procure nos lugares certos. A experimentação é válida quando se quer experimentar, mas não pense que vai encontrar grande coisa indo àquele clube de swing a convite do casal amigo muito moderno e descolado.
Mas chega de escrever sobre sexo, que eu já falei demais. Para discorrer mais sobre o assunto valeria desistir do blog e rascunhar um monólogo sobre a vida afetiva e sexual do macho brasileiro recém-balzaquiano. Aliás, se a Petrobras não estivesse adiando todos os patrocínios culturais por causa da crise financeira global, eu poderia mesmo ficar milionário com isso. Hummm... Algo a ser considerado para 2009.
Seja como for, o ano novo será bem vindo. Entre mortos e feridos nem todos se salvaram, e eu devo reitirar que não fui muito com a cara dos últimos doze meses - acho que eles também não foram muito com a minha, para falar a verdade... Mas é claro, dado que a esperança e os clichés são sempre os últimos a morrerem, há talvez uma cartada final capaz de salvar o ano e acenar com algo genuinamente positivo e inspirador para os próximos capítulos. Esse roteiro, no entanto, está nas mãos de uma moça (linda!) que, até onde consigo ver, não decidiu ainda se vai ou se fica, se blefa ou se mostra o jogo. Acho até que quer muito dançar, mas não sabe bem se encontrou a música certa. Eu penso que sim. Depois de tanta confusão e cacofonia, consigo ouvir a melodia perfeita... mas para o meu próprio bem-estar, procuro pensar no assunto o menos possível.
- Tudo para evitar os beliscões do avô Tempo.

7.12.08

Filho de Iemanjá

Sabe aquela história das listas? A parte em que eu dizia que mergulhar estava me fazendo uma baita falta? Pois é... Nunca mais quero ficar dois meses longe do mar.
Ah, e antes que eu me esqueça: isso aí é sem photoshop. Desculpa o mal jeito...

3.12.08

Fazendo listas enquanto espero

Em dias de manhã chuvosa, namorada distante e preguiça no escritório, nada melhor do que gastar o tempo… fazendo listas. Sim, no melhor estilo Alta Fidelidade, aquele ótimo filme do Rob Gordon nos idos de 2000 (...) Esse mesmo. Sim, já faz tanto tempo. E sim, a Catherine Zetta Jones ainda era gostosa. O único risco é chegar à conclusão de que sou tão neurótico e emocionalmente insipiente quanto o personagem do Cusack - Ele com seus discos, eu com minhas idiossincrasias (tenho uma amiga que adora quando eu uso essa palavra. Para falar a verdade, é mesmo uma das minhas prediletas - tanto a palavra quanto a amiga). Seja como for, a paciência para fazer mudança de escritório é zero; amanhã é o almoço-de-fim-de-ano-com-amigo-oculto-do-pessoal-do-trabalho (ah, que evento singular! Merece uma crônica exclusiva!) e eu estou aqui tentando não ocupar a mente com a ansiosa dúvida sobre se aquela moça vai ligar ou mandar um sinal de fumaça depois da minha última investida. Remédio para tal situação… só mesmo fazer listas. Vamos a alguns 5 mais
As 5 músicas que mais tocam na minha cabeça atualmente (diferente de as 5 músicas que mais marcaram minha vida):
1. Só pra te Beijar - Candango Doido
2. Desabafo - Marcelo D2
3. What I’ve Done - Linkin Park
4. Listen to Your Heart - Roxette
5. Dezesseis Toneladas - Funk Como Le Gusta
As 5 obras literárias que mais quero ler e não consigo:
1. A Última Lição - Randy Pausch
2. As Crônicas Saxônicas - Bernard Cornwell
3. Band of Brothers - Stephen E. Ambrose
4. O Poderoso Chefão - Mario Puzzo
5. O Homem Político em Shakespeare - Bárbara Heliodora
As 5 coisas que não faço há tempos e que mais estão me fazendo uma falta dos diabos:
1. Mergulhar
2. Calçar pantufas de jaca com amigos queridos
3. Dormir abraçado sem hora para acordar
4. Comer um fondue no Joá
5. Tirar férias
Os 5 empregos que eu gostaria de ter se não fosse jornalista e ator nas horas vagas:
1. Ator em tempo integral
2. Biólogo Marinho e caçador de naufrágios
3. Fotógrafo
4. Médico de seriado hospitalar da TV americana
5. Piloto de caça
OK... Agora vou me ocupar com a lista de jornalistas para quem tenho que enviar jabás de Natal. Oh, que alegria!! Que trabalho edificante!!

2.12.08

Sobre elas...

Mulheres são definitivamente de Vênus... ou de Saturno, ou Urano, ou algum outro planeta ou estrela que a astronomia contemporânea, com todas as suas sondas, satélites e foguetes, não conseguiu todavia mapear. Sei que não são de Marte, pois que de lá dizem que viemos nós, os homens, e certamente as duas espécies hão de ser oriundas de corpos celestes distintos. Pode querer parecer ao leigo que às vezes, só às vezes, falamos a mesma língua. Mas esta é uma troça, um jocoso, uma pilhéria divina com qual os anjos divertem-se enquanto morrem de inveja por não fazerem sexo.
(...)
Aos vinte e nove anos eu tinha certeza de que sabia o que havia para se saber sobre elas. Ou ao menos o suficiente para me dar bem e chegar à velhice sem arranhões.
Acabo de chegar à brilhantemente óbvia conclusão de que viverei dezessete encarnações sem apreender infinitesimal parcela sobre seus mistérios. E isso não quer dizer que de hora para outra reverti-me em inepto quando o assunto é universo feminino. Ao contrário, acho até que levo vantagem sobre os tais outros marcianos: fui criado por mulheres e algumas das pessoas a quem dedico amizade inarredável e irredutível são de... bem, são de outro planeta que não o meu - mas justamente aí mora a doce ironia daqueles anjos safados, patéticos voyeurs com suas lunetas cósmicas... Você aí, macho encostado, com o controle da TV na mão em preguiçosa tarde de quarta-feira, já parou para pensar que é perfeitamente capaz de entender os anseios e vontades de suas amigas - se é que as tem verdadeiramente - porém jamais vislumbrará o insondável absoluto da fêmea que escolheu para estar a seu lado... no sentido bíblico, já que estamos falando de anjos?
Definitivamente, existe algo de rodriguianamente perverso no que tange à (falta de) clareza na comunicação bilateral entre um homem e uma mulher que escolhem dividir a mesma cama. A nós, o sexo frágil - e se alguém ainda pensa o contrário precisa urgente acordar - resta a resignação em sorriso, porque só com muito bom humor é possível encarar a triste verdade da inapelável incapacidade de completo entendimento. Hemos que celebrar as diferenças e, na impossibilidade de vencê-las (às mulheres, não às diferenças), juntarmo-nos a elas com docilidade disfarçada, fazendo apenas parecer ao mundo (e desconfio de que só aos outros machos, porque acho que elas já enxergam por trás dessa miragem há muito tempo) que somos nós os reais donos da situação. Portanto sorriam, companheiros. Sorriam e abram uma boa cerveja. Sorte a nossa, afinal, sermos bichos mais simples, a quem tão pouco já basta...

19.11.08

Mau como o pica-pau

O que acontece quando Glauco Paiva visita a Praia Azul em Três Irmãs:

5.11.08

Enquanto isso, no Rio de Janeiro....

O prefeito eleito Eduardo Paes vai de Alexandre Sansão como secretário de Transportes. O engenheiro terá pela frente a difícil missão de regularizar, e por que não dizer, moralizar a caótica e mafiosa realidade do transporte alternativo na cidade. Sansão é... careca. Dá pra confiar?

Mudança?

Os Estados Unidos elegeram, nesta terça-feira, seu primeiro presidente afro-americano. É, sem dúvida, um salto democrático em um país onde, há não muito mais do que cinqüenta anos, negros sequer podiam votar. O Senador Barack Obama chega à Casa Branca com um imensurável cafice de mobilização doméstica e boa vontade internacional. Resta saber o que fará com esse capital.
A parte de seu inegável carisma, enorme talento para oratória e inédita criatividade na forma de fazer campanha, Barack Obama é, antes de tudo, um democrata - e agora não estou falando do amplo conceito teórico, mas do stricto sensu partidário. Democratas são, em regra, mais protecionistas que republicanos. Em tempos de crise econômica, será interessante ver que posições o novo presidente tomará, por exemplo, quanto a subsídios agrícolas e negociações comerciais multilaterais, especialmente a Rodada Doha, que tem potencial para alavancar bilhões de dólares em comércio internacional, mas está travada em disputas entre o bloco europeu e importantes membros do G-20, notadamente a Índia. No que tange especificamente à Doha, Brasil e Estados Unidos estão em posição adequada para assumirem, juntos, um papel de liderança estratégica, algo que pode se disseminar para outras áreas de cooperação bilateral com influência prática ao redor do globo.
(...)
Mas será que Obama está pronto para angariar a boa vontade do Planalto através da redução das tarifas de importação sobre o etanol brasileiro? Os mais apressados dirão que esta decisão não cabe exclusivamente ao presidente, mas ao congresso. Ressalte-se que a nova legislatura estadunidense terá maioria democrata nas duas casas, e temos aí uma fórmula incipiente de protecionismo em nome da "proteção dos empregos americanos". Sim, caberá ao novo presidente batalhar, e muito, por mais abertura comercial. Essa responsabilidade recairá sobre os relativamente jovens ombros de Barack Obama, e será apenas uma das inúmeras áreas de cobrança acerca das quais ele será diariamente inquirido dentro e fora do país. Tamanho interesse sobre sua candidatura, a espetacularização de sua campanha e a histórica vitória neste novembro não haverão de gerar leniência: o novo ocupante da Casa Branca terá uma margem de erro muito pequena durante os próximos quatro anos. Menor ainda se ele tiver a pretensão de transformar os quatro anos em oito, e todos sabemos que presidentes costumam ser animais ambiciosos.
O Brasil aderiu fervorosamente à Obama-mania. Aparentemente, nossa carência por líderes de esquerda propelidos pela plataforma ideológica da "mudança" e pelo etéreo unafismo da "esperança" não foi totalmente saciada com as seguidas eleições de Lula. Particularmente, eu vi com olhos de jornalista a minha (ingênua?) aposta em ética política transformar-se em sucessivos escândalos na administração petista. Fui de pós-adolescente esquerdista a jovem adulto de centro-direita, e isso tem menos a ver com a minha idade do que com o fato de que a experiência brasileira com o presidente Lula elevou o meu grau de cinismo, lamentavelmente.
Em tempo: é bom lembrar que, apesar de toda a polêmica envolvendo sua primeira eleição, também George W. Bush teve seu momento de uníssono patriótico doméstico e simpatia internacional - logo após o ataque às torres gêmeas do World Trade Center, o mundo se uniu em solidariedade ao povo americano, e o governo jogou pelo ralo uma oportunidade de ouro de converter um episódio de horror em consolidação de liderança política global. O que se vê como resultado é um mapa mundi fragmentado com indícios de reedição da Guerra Fria. Especular é pecado, mas talvez, apenas talvez, se Bush não tivesse sido tão apressado em levar a guerra ao Oriente Médio, hoje tivéssemos um cenário político internacional mais estável, com os Estados Unidos sentados ao topo do mundo. Tal qual seu antecessor - à positiva exceção de que sua eleição nada tem de controversa e ambígüa - Obama parece ter a chance de ganhar o planeta. Ou, na pior das hipóteses, o hemisfério ocidental.
...Será que vai conseguir?

23.9.08

Guerra e Paz

O que acontece quando Glauco Paiva encontra a polícia bandida, no segundo bloco, aos 33 minutos.


(Sexta-feira, 19/09/2008)

Zecão

O que acontece quando Glauco Paiva encontra Beleza Pura...

(Sábado, 06/09/2008)

20.8.08

A Quarta Jura, ou Soneto de Exasperação

Cansei-me de ti.
Do teu sorriso fácil, da tua (pretensa) amizade,
Do teu espaço pessoal, da tua civilidade
Disfarçada em falsa maturidade pra dizer que pode tudo ser simples.

Então és cega para a dor que causaste?!
Tuas juras me partiram peito e tuas lágrimas verteram breves
As minhas, ai de mim, secaram-me de proveito.
E tu, onde ias? Por onde seguias em vil deleite ou abandono?

Decreto agora que de minha alegria,
Não te devo sequer infinitesimal parcela – vazia!
Pois que foste pra mim holocausto, desastre

Uma onda gigante, uma enchete, transbordo
- Amo-te com urgência e arte,
Mas cansei-me de tudo. Cansei-me de ti.

13.8.08

Auto-piedade

Breves versos por D.H. Lawrence:
I never saw a wild thing
(Feel) sorry for itself.
A small bird will drop frozen dead from a bough
Without ever having felt sorry for itself.
Na livre tradução do editor:
Eu nunca vi uma coisa selvagem
Com pena de si mesma.
Um pequeno pássaro cairá congelado e morto de um galho
Sem jamais ter sentido pena de si mesmo.
Graças aos céus eu nunca gostei de pensar ou enxergar a mim mesmo como um sujeito muito civilizado.
(...)
E acho, sinceramente, que já está passou da hora de acordar.

24.7.08

Aposentado

Esse perfil vai sair do Orkut. Já saiu. Hora de pensar em algo novo.
"Away to the danger zone"
"I wanna take you on a rollercoaster... be unafraid"
"Supersonic self"
Glauco Paiva, a.k.a. Fasa, é jornalista por vocação e ator nas horas vagas, com possibilidade de inversão do quadro no decorrer do período. É expansivo e falastrão com os amigos, observador com os estranhos, e debochado com todos. É sorriso a maior parte do tempo, mas sofre com as flutuações de humor típicas de qualquer geminiano - embora não esteja completamente convencido de que essa história de horóscopo funciona de verdade. Glauco é o bonvivant consciente: boêmio de suco de laranja, só bebe vinho e tequila de vez em quando, não usa drogas pesadas e só transa de camisinha. Desde que começou a fazer teatro, Glauco cita Shakespeare antes, Nelson Rodrigues durante, e Tchekov depois. Gosta de calçar sandálias em festas de casamento, e usa camisa social para fora da calça, mas sempre com estilo. Estilo, aliás, é a palavra chave: Glauco Paiva é hype, groovy, in, cool e über fashion - para não mencionar moreno, alto, bonito e sensual. Glauco Paiva provoca dependência. Seu único defeito é não se levar muito a sério, a não ser nos momentos em que se leva a sério demais.
"I want to feel the end and enjoy the consequence"

19.6.08

Terremoto

Essa é beeem velhinha... mas é boa:
O Governo Brasileiro instalou um sistema de medição e controle de abalos sísmicos no país. O Centro Sísmico Nacional, poucos dias após entrar em funcionamento, detectou que haveria um grande terremoto no Nordeste.
Na tentativa de prevenir uma possível tragédia, foi enviado um telegrama à delegacia de polícia de Icó, no interior do Ceará, com a seguinte mensagem:
"Urgente. Possível movimento sísmico na zona. Muito perigoso. Sete pontos na escala Richter. Epicentro a 3km da cidade. Tomem medidas e informem resultados."
Somente uma semana depois, o Centro Sísmico recebeu um telegrama que informava:
"Aqui é da Polícia de Icó. Movimento sísmico totalmente desarticulado. Richter tentou fugir, mas foi abatido a tiros, o cabra safado. Desativamos as zonas. Todas as putas estão presas. Epicentro, Epifânio, Epicleison e os outros cinco irmãos estão detidos. Não respondemos antes porque teve um terremoto da porra aqui."
Pano rápido. Vida que segue...

9.6.08

Três juras de amor

Pegou de leve a face da menina após o beijo e disse “eu te amo”. Era a primeira vez. Ela, olhos cheios d’ água. Talvez já tivesse ouvido aquilo, mas nunca antes sentira a urgência da recíproca. As emoções transbordaram-lhe em lágrimas e, não fosse o sorriso quase infantil em seu rosto, ele talvez se sentisse confuso sobre o que sua declaração provocara. Ambos tão entregues, tão inexperientes. O garoto não esperou resposta verbal. Algo dentro dele leu a expressão da guria quase que instintivamente, e de imediato ele urgiu em invadir-lhe a boca com mais um beijo apaixonado, a língua quase cortando o fôlego da pequena. O resultado foi anti-estético e aos olhos de qualquer adulto pareceria desastradamente juvenil - mera fúria hormonal. Mas nenhum dos dois estava se importando muito com isso.
...Olhou nos olhos da moça depois do sexo e admitiu que a amava. Estavam namorando há um mês, e era a primeira vez em que iam para a cama juntos. Àquela altura da vida, ambos já tinham uma certa (limitada) experiência e alguns traumas, mas o romantismo ainda brilhava em seus olhos. Avançaram devagar até aquele momento, como quem movimenta peças em um jogo de xadrez. Resolveram, por fim, fazer uma viagem juntos. Foi a pálida mímica de uma lua-de-mel entre noivos virgens - eles assim o eram entre si. Ela disse “eu também” sem pensar duas vezes, e essa era a senha: duplo-xeque, fim de jogo. Para melhor ou pior, as coisas não seriam mais as mesmas entre eles depois daquilo.
...Já transavam há meses. Na verdade, tudo havia começado assim: sexo sem compromisso e sem qualquer pretensão de futuro. Calejado e defensivo, ele pensava que não estaria apto a dizer “eu te amo” antes do próximo século. Mas havia algo de diferente naquela mulher. Um ar de independência, uma sintonia similar, um olhar apenas discretamente inquisidor. Quebrou-lhe as defesas, mas quase não lhe quebra a semântica. Parou o ato no meio, olhou-a nos olhos e disse: “Todos os meus caminhos levam a você”. Ela não se deu por satisfeita. Decidida, sabia o que estava sentindo, e sabia o que queria ouvir dele. “Por quê?” – perguntou. O homem fechou os olhos por um momento, suspirou, mas por fim rendeu-se ao inevitável. Fitou-a e, pegando-lhe de leve a face, ofereceu-se enfim: “Porque eu te amo.”
Poderia jurar que, naquele momento, se entregar daquela forma havia lhe causado uma pontada de dor. Entendeu ali porque os românticos (será que ele já fora assim um dia?) dizem que o amor dói. Calculista, ele já sabia que a recíproca era verdadeira, ou não teria aberto a boca em primeiro lugar. Já tinha lido os sinais. Ainda assim, esperou o verbo, pois não queria se dar unilateralmente naquela noite – ou em qualquer outra noite pelo resto de sua vida. “Eu também te amo” confessou a mulher. Derrubou várias barreiras em si mesma para fazê-lo, mas o fez. De parte a parte, as juras foram atos de coragem. Peças de resistência. O homem, só então, desabou sobre ela e invadiu sua boca com um beijo atabalhoadamente apaixonado, quase a cortar-lhe o fôlego.
Tal qual um menino.

30.5.08

Balzaquiano

Os trinta chegaram com algumas lições de humildade. A vida me passou uma banda e pela primeira vez em mais de dez anos (e me espanta a naturalidade com que agora meço o tempo em décadas) estou sem as rédeas de alguns pontos da minha existência que eu pensava ter aprendido a controlar. No campo profissional, ansiedade sobre mudanças que podem vir. No pessoal, uma tentativa de resgate que se mostra deliciosa a cada encontro, mas não sem tropeços e percalços. Estou aprendendo que ser genuinamente autêntico e pedir autenticidade em retorno pode cobrar seu preço em atritos que antes a gente pensava não haver.
...No geral, entretanto, estou achando muito melhor jogar às claras. Aliás, estou achando muito melhor não jogar.
Talvez seja mais um sinal de maturidade, essa coisa que vem com a tal “experiência de vida”. Com três décadas (!!) nas costas, estou finalmente me sentindo mais velho. É como se estivesse perdendo um pedacinho da juventude, como se me assumir adulto fosse agora inevitável. Eu, que sempre fugi do termo. Com tantas dúvidas e aspectos tão importantes da vida em suspenso, me aflige não saber se vou emergir dessa transição um homem melhor - se vou crescer para o bem ou simplesmente me tornar um pouco mais duro e amargo. Ao mesmo tempo em que busco respostas e definições que tragam o alívio da solução final e me devolvam a tranqüilidade do inarredável, quero ser capaz de extrair dessas respostas algo de positivo que me alimente a alma para o futuro, seja ele qual for.
A impaciência de sempre de deixa nervoso e irritadiço. Neste momento em que as coisas parecem flutuar fora de alcance, preciso encontrar em mim mesmo, e não fora, uma medida de autocontrole que me permita ser o meu melhor. Mas acima de tudo, ser apenas eu. Coisa que – meu Deus! – pareço não ter sido há muito, muito tempo...

14.5.08

Idiossincrasia

Só tenho a oferecer-te quem sou:
Esta mão pesada e rude
Este presunçoso olhar distante,
Esta vil flutuação de humores,
Esta rotina de negação e fuga.
Que pintura pobre sobre ordinário motivo!
- Carregaram nas tintas, fizeram-me superlativo
Resultou rasa tela, este nada sem talento crível
Mar em fúria, terremoto, tempestade;
Eu sou à espreita, um desastre
Eu, mania de devastação
Eu, desmedido orgulho
Eu, a imprevisibilidade.
A mim os sujos andarilhos e rotos marinheiros!
Os servis trôpegos em desesperança,
Os bêbados sem consolo a quem sumir apenas resta.
A mim as desgraçadas que em si não estão plenas
E buscam tão-só o flagelo como medida de piedade!
Em mim não há alento
Em mim não há felicidade
O meu banquete é de lamento e agruras.
Tu comerás só, eu a fitar-te
E ao final quererás, saciada de nada, deleitar-me:
Eu, sexo bruto e incendiário
Eu, paixão enganosa
Eu, esta vontade de consumir-te no ímpeto de deixar-te.
Se pensas em afeiçoar-te, meu conselho:
Afasta-te!
- Ou resgata-me de mim, que estou cansado...
Exausto da verborragia,
Saturado da auto-imagem
Vexado do eu ideal
E perdido entre os outros que me habitam.
Decifra-me ou devoro-te
Pois só tenho a oferecer-te quem sou
E quem sou não é muito, é pequeno, é banal
...Mas se ainda me quiseres, toma-me.
Se não, caminha
E deixa-me com minhas dores,
Minha torpe idiossincrasia.

13.5.08

Fenômeno

Duas congratulações por mérito em serviço são devidas a diferentes agentes envolvidos nessa grande bananosa (com trocadilho, por favor) em que se meteu Ronaldo-bola:
- Ao escritório de comunicação que gerencia a relação do ex-craque com a mídia. As exclusivas à TV Globo foram realmente sacadas de mestre. E coçar o joelho operado a cada momento em que fala de superação... isso sim é uma mensagem subliminar bem arquitetada! A essa altura, metade da população já deve estar engolindo (ops!) o barraco com os travecos como um momento de fraqueza, um ato de episódica depressão do pobre-menino-que-com-muita-força-de-vontade-vai-vencer-mais-essa! (...) E vem agora o anúncio de que Ronaldo será pai novamente. Pule de dez! - Resgata-se sua funcionalidade heterossexual ao mesmo tempo em que sua imagem pública é atrelada ao conceito de família. Coisa que, diga-se de passagem, nunca foi a especialidade do jogador. O cara troca de esposa e namorada como quem troca de roupa, mas nada disso importa: Ronaldo será papai! O inocente que ora repousa no útero de Bia Anthony veio para salvar o ídolo! Acho que nem Duda Mendonça me sairia com uma dessas... É genial! E muito embora eu tenha minhas ressalvas morais quanto ao anúncio, tenho que admitir: é um prato cheio para os jornalistas. Coisa de quem entende e calcula o que vai fazer na lida com a imprensa.
- A mamãe Bia Anthony, que soube recolher-se em prantos e sumir das páginas dos jornais quando a bomba (ou a biba, como preferir) explodiu, apenas para voltar semanas depois, imaculada em sua concepção. O timing foi tão perfeito que me pergunto até que ponto a gravidez não foi.... não. Não pode ter sido orquestrada. Seria cinismo demais pensar assim. Eu não sou tão duro. Mas que, intencionalmente ou não, a moça está feita para o resto da vida, isso está...
Inocente nessa história, só mesmo o pobre menino de Bento Ribeiro. Mas veja que ótimo: não é assim mesmo que todos deveríamos nos lembrar dele - "O pobre menino inocente de Bento Ribeiro?" Engraçado... eu ainda enxergo uma cachorra louca que se meteu (ops!) num motel barato com três bonecas. (...) Mas esse sou apenas eu, e meu árido coração.

6.5.08

Uma pitada de humor americano

Entreouvido nos corredores do consulado geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro em uma tarde modorrenta de terça-feira:
- Hey, T.!
- Oh, hey, G.! Everything OK?
- Yeah, sure! So, what's up?
...
- My blood pressure.
Pano rápido.

16.4.08

Diálogos em areia branca - primeiro ensaio

Homem sentado em praia deserta de mar azul anil e areia branca, fina como seda, com grandes formações rochosas ao longo da costa. Ele se acomoda, reclina e apóia a espádua sobre uma rocha de aproximadamente dois metros de atura cuja superfície riscada pela ação do vento e da areia oferece filigranas de encantador e elaborado estilo. O estímulo tátil mistura-se ao cheiro fresco do mar trazido pela brisa, causando silenciosa sinestesia. Por um instante, o homem pensa atingir um estágio de total relaxamento e entrega a si mesmo. Põe-se fora da realidade e, em seu semi-transe, quase não escuta a voz que lhe dirige a palavra, um susurro de tom grave mas suave, ao mesmo tempo sólido e lento, como um velho avô pigarreante de olhar agudo, sabedoria inquestionável e sorriso maroto que só a experiência de vida vivida pode oferecer:
VOZ - O que fazes aqui?
HOMEM - Como?! Quem está falando? De onde vem essa voz?!
VOZ - Tanta pressa! Tantas indagações sobre o óbvio! A uma pergunta minha, ofereces três como resposta!
HOMEM - Deus meu! Enlouqueci! Estou ouvindo vozes!
VOZ - Não estás ouvindo vozes! Apenas uma voz. E considerando o abuso de recostares sobre mim teu peso cansado, poderias ao menos demonstrar o mínimo de cortesia em reconher-me como mais do que um patológico figmento de sua provavelmente limitada imaginação.
HOMEM - Recostado sobre você?! (...) Uma pedra? Eu estou conversando com uma pedra?! Como é possível?!
VOZ - Se vamos usar rótulos, prefiro que me chames de Rocha. Ainda serão milhões de anos até que o vento e o mar me cobrem o preço final do tempo e me tornem simplesmente pedra. Outros milhares até que minha consciência se dilua entre os grãos de areia desta praia.
HOMEM - ...Sonho... Será que estou sonhando?
ROCHA - Ótimo. Muito original. No lugar de um figmento patólogico, sou agora um figmento saudável da tua - definitivamente - muito limitada imaginação. Acho que se eu usasse punhos de quartzo para repelir tua enfadonha presença, pensarias estar completamente louco em ver uma rocha se movendo... Talvez então te tornasses um interlocutor mais interessante!
HOMEM, sobressaltado - Você... tem braços? E punhos?!
ROCHA - Não, não tenho. Mas sou capaz de imaginá-los. Quando a sua idéia de um século divertido consiste em contar as ondas e observar a paisagem, sobra tempo para conjecturar e imaginar o que faria se as coisas fossem diferentes. Eventualmente um falante de duas pernas passa por aqui. Poucos se recostam sobre mim, e desses um número ainda menor se dispõe a ouvir uma velha Rocha. Sinto-me só.
HOMEM - Bem... se vamos vamos usar rótulos, prefiro ser chamado de homem no lugar de falante de duas pernas. E você há de convir que conversar com uma pedra... me desculpe - conversar com uma rocha não é exatamente normal...
ROCHA - E por que não?! Os teus antepassados, há milhares de anos, faziam isso. Eu sorvi o sangue de sacrifícios tribais. Sobre mim riscaram signos e desenhos antes de balbuciarem as primeiras palavras; e bem aí onde agora estás, homens-macaco que há pouco ainda andavam com as mãos se sentaram para admirar o mar e imaginar o que havia além do vasto oceano. Eu fui altar, lousa e trono de sonhos! Eu fui cama de amantes e monotolito de deuses! Mas não mais. A tua raça distanciou-se na mesma medida em que convenceu a si própria de que eram os mestres da criação.
HOMEM - E não somos?
ROCHA - ...Depositaram na pólvora demasiada fé. Olha em volta, homem: tudo isso vai estar aqui bem depois de teus pares serem varridos do mapa da existência. Eu vi os primeiros peixes migrarem da água para terra, e vi dinossauros correndo pela areia. Eles se foram, os homens também irão. Eu não seria capaz de começar a explicar o quão fugaz é a existência de qualquer espécie que se mova. Estar de passagem é a essência de quem se move...
HOMEM - Você está discutindo semântica.
ROCHA - Não, não estou. Mas como já disse, reconheço minha incapacidade em discutir de forma válida e inteligível sobre mortalidade e expiração com um ser que conta sua vida em décadas. Leva, rogo-te, minha palavra como garantia: nós somos poeira cósmica. Nós somos um infinitesimal instante.
HOMEM - Nós? Pensei que você estivesse falando apenas das espécies que se movem.
ROCHA - Vocês são, sem dúvida, mais suscetíveis aos efeitos do tempo. Mas nada é eterno. Milhões de anos me ensinaram humildade. Talvez os homens de hoje em dia se julguem tão especiais porque ainda não tiveram tempo o suficiente sobre a terra para entender que estão traçando uma rota suicida.
HOMEM - ...Talvez estejamos mesmo. Guerras, desmatamento, poluição...
ROCHA - E quem falou em guerras, desmatamento e poluição? Por Gaia, vocês realmente acreditam que o planeta gira por obra, graça e intervenção do homo sapiens, não? O que eu estou dizendo é que de alguns séculos para cá a raça humana se alçou tanto para fora de si mesma que perdeu contato com o que tem mais precioso - o sopro de vida fundamental que lhes confere percepção, cognição e livre arbítrio. Cobriram o sexo por vergonha após comerem uma maçã, e desde então entraram em uma cadeia de auto-compensação que cada vez mais os afasta do que realmente são. Francamente, é patético.
HOMEM - E o que nós somos, realmente?
ROCHA - Livres. É o que deveriam ser, pelo menos. Esse era o plano.
(...)
ROCHA - Isso é que chamam de sorriso?
HOMEM - Como?! Oh, sim... isto é um sorriso. Para falar a verdade, nunca pensei que fosse tão simples.
ROCHA - O quê?
HOMEM - Sorrir. Você tem razão, afinal: nós nascemos para sermos livres. Isso deveria bastar.
(...)
HOMEM - Ei!
ROCHA - Sim?
HOMEM - ...Isso é um sorriso?
ROCHA - Não. É apenas um figmento da tua imaginação.

10.4.08

A frase brega do dia...

...cortesia de Exupèry numa noite chuvosa em que tudo ficou meio numblado:
"As coisas que amo, deixo-as livres. Se voltarem, é porque as conquistei. Se não voltarem é porque nunca as tive."
Por que será que o andarilho, pronto e à porta, flagra-se de súbito com medo de sair à rua? Que magia ou pavor congela seus passos? Que nostalgia toma-lhe de assalto e o transporta alhures em pensamentos, estando ele ancorado em seu alpendre de dúvidas e devaneios de outrora? Esta é uma noite sem respostas. O céu promete tormenta e o andarilho, perdido em si, de si e de todos, já não chora. Espera, apenas - entre apavorado e ansioso - um sinal que não vem. Os sinais estão mudos. Ele, imóvel. Aguardando. Fitando os olhos da noite. E os ventos são de arrepio e dor.

26.3.08

Camões

Eu, poeta menor, de pensamentos e atos tão previsíveis quanto desprovidos de rima, boa métrica e coerência de forma e conteúdo...
Busque, Amor, novas artes, novo engenho
Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê;
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei por quê.

24.3.08

Solace of you


When it hurts to be out there
Where no one will care
I've got the solace of you
Frustrated by people's lying
But I keep on trying
I've got the solace of you
When I can't think straight
And there's no escape
I've got the solace of you
Gotta go inside, back where it started
Back to the beginning
'Cause that's where my heart is
They can hurt me, jail my body
I'll still be free
I've got the solace of you
They can take my land
Tell me I'm not who I am
I've got the solace of you
A wise man said to know thyself
'Cause in the end there's no one else
(There's) just the solace of you
Gotta go inside back where it started
Back to the beginning
'Cause that's where my heart is
Gotta go inside
Back to the beginning

27.2.08

Dr. Benton

O que acontece quando Duas Caras encontra Plantão Médico e eu faço minha estréia em teledramaturgia...

Tenho que admitir: é beeem mais divertido do que eu imaginava...

20.2.08

Mundo corporativo

Não sei de quem é o texto original, mas acho que nem o Max Gehringer faria melhor...
"A Formiga chegava cedinho ao escritório e pegava duro no trabalho todo dia. Era produtiva e feliz.
O gerente Marimbondo estranhou a Formiga trabalhar sem supervisão - se ela era produtiva sem supervisão, o seria ainda mais se fosse supervisionada - e contratou como supervisora uma Barata, que preparava belíssimos relatórios e tinha muita experiência na área.
A primeira preocupação da Barata foi a de padronizar o horário de entrada e saída da Formiga. Logo a supervisora precisou de uma secretária para ajudar a preparar os relatórios e contratou uma Aranha, que dava uma mão na organização de arquivos e controlava as ligações telefônicas.
O Marimbondo ficou encantado com os relatórios da Barata e pediu também gráficos com indicadores e análise das tendências que eram mostradas em reuniões. A Barata, então, mandou vir uma Mosca para diagramar o conteúdo e comprou um computador com impressora colorida.
Não demorou muito até que a Formiga produtiva e feliz começasse a se lamentar por toda aquela movimentação de papéis e reuniões... O Marimbondo concluiu então que era o momento de criar a função de gestor de pessoal para o setor. O posto foi dado a uma Cigarra, que mandou colocar carpete no escritório e encomendou também cadeiras especiais com assento orto-postural. A nova gestora logo se deu conta de que precisava de uma assistente para ajudá-la a preparar um plano estratégico de melhorias e um controle do orçamento para a área onde trabalhava a Formiga - que já não cantarolava mais e a cada dia estava mais taciturna...
A Cigarra, então, tentou convencer o gerente Marimbondo de que era preciso fazer um estudo psico-motivacional das relações interpessoais no escritório. Mas o Marimbondo, ao rever as cifras, se deu conta de que o departamento já não rendia como antes e licitou a preço de ouro os serviços da Coruja, uma prestigiada consultora, para que fizesse um diagnóstico da situação. A Coruja ficou três meses bebendo cafezinho por conta da empresa emitiu um longo relatório, com vários volumes, que apontava "queda de produtividade por excesso de pessoal e necessidade de reengenharia".
...Adivinha quem o Marimbondo mandou demitir?
- A Formiga, claro, porque ela andava muito desmotivada e aborrecida."

13.2.08

Auto-ajuda em profundidade

Em 28 de abril de 2000, o russo Yuri Lipski, então com 22 anos, arriscou-se em um mergulho profundo no Blue Hole, em Dahab, Egito. Um dos mais famosos e belos pontos de mergulho da região, o "buraco azul" tem a sinistra alcunha de divers cemetery, ou cemitério de mergulhadores, pelo grande número de fatalidades ali ocorridas. A parede de coral é um verdadeiro playground para turistas que saibam respeitar os limites do merguho recreativo, mas uma séria armadilha para os que teimam em ignorar certificação e treinamento ao entrar na água: o espelho claro pode esconder correntes subaquáticas, escuridão em profundidade e falta de referência de fundo, o que é um risco para mergulhadores sem experiência.
Não era o caso de Yuri. Pelo que li, ele já mergulhava há um tempo considerável. Sonhava tornar-se instrutor e, quando buscou um dupla para descer o Blue Hole, professava experiência em mergulho profundo. Os verbos estão no pretérito por algo além de simples referência temporal: Yuri não voltou. Uma possível falha no equipamento combinada à provável narcose gasosa e intoxicação por alta pressão parcial de oxigênio o levaram à morte. A câmera de Yuri registrou tudo, um trágico e contundente lembrete de que ultrapassar limites sem considerar os riscos é péssima política quando a sua vida está na reta. O vídeo está disponível no You Tube. É real e autêntico. O sujeito morreu, e as imagens - para não falar do audio - não são agradáveis de se ver e ouvir. Eu não vou postar o conteúdo... porque não quero. Você pode buscá-lo, se a sua curiosidade mórbida o(a) impelir.
Vem daí uma corrente de pessoas que não sabem o que dizem afirmando que o mergulho no Blue Hole deveria ser banido. As imagens que eu vou postar são tanto uma resposta quanto uma deslumbrante mensagem sobre como pode ser saudável para a mente e para a alma testar os próprios limites quando os fatores de risco são considerados e contingenciados.
Em julho de 2007 o neozelandês William Trubridge esteve no Blue Hole. No que é considerada a mais pura - e talvez mais arriscada - forma de mergulho, ele atravessou, sem nadadeiras, lastro ou roupa de exposição, a passagem subaquática entre a baía de corais e o Mar Vermelho. O Arco, como é conhecido, tem aproximadamente 30m de comprimento e fica a 58m de profundidade. Com a devida estrutura de suporte, o sujeito desceu e fez a travessia no pulmão. Mais do que a beleza da água, o que me chama mesmo atenção é o sorriso de William ao final do mergulho... Isso é o que eu chamo de "classe A" em material de auto-ajuda:


Sorria. Teste seus limites, mas não vá fazer besteira.
Eu quero, um dia, mergulhar no Blue Hole.

6.2.08

No Limits

You deco stop
He deco stops
She deco stops
...I nitrox!

Enriched Air Nitrox Diver - Mais fundo... e por mais tempo!

16.1.08

Gramática Shakespeariana

O plural de banana boat é banana boats.
Não que Shakespeare vá se importar muito com isso. Acho que na época dele nem existia babana boat.
...Mas é isso. Banana boats no plural.